Um gênio da bola, o “rei” das redes sociais e um fenômeno de marca que transcende o universo do esporte. A série documental “Neymar - O Caos Perfeito” explora essas e outras facetas do astro do futebol, enquanto o próprio passa a sua vida a limpo, como quem busca melhorar a imagem.
Logo nos primeiros minutos da produção, disponível na Netflix a partir do dia 25de janeiro, Neymar dá a entender que gostaria de mudar a percepção que o público e a mídia têm dele. O jogador sabe que divide opiniões por ter temperamento explosivo e fama de festeiro, além de uma trajetória pontuada por polêmicas (incluindo acusação de estupro, em 2019, e briga com torcedor, no mesmo ano).
“Eu começaria a série com as frases da galera me julgando, me chamando de mau-caráter e monstro. E a partir daí as pessoas me conheceriam”, conta Neymar, de 29 anos, rindo. Seus depoimentos foram gravados entre 2019 e 2020 pelo publicitário e documentarista David Charles Rodrigues, mais conhecido pelo trabalho “Gay Chorus Deep South” (2019), sobre a turnê de um coral gay.
Para estrelar a série de três episódios, de cerca de uma hora cada, o atacante do PSG (Paris Saint-Germain) abriu as portas de mansão, em Paris, e também da NR Sports, em São Paulo, a empresa fundada em 2006 para cuidar da gestão de sua imagem. “Sou mais criticado do que mereço”, diz Neymar, muitas vezes acusado de ser mais celebridade do que jogador.
Sempre de olho nele, por ser um dos atletas mais bem pagos do mundo (com ganhos de US$ 95 milhões no ano passado, segundo a Forbes), a mídia esportiva também costuma atacá-lo por ser individualista, por dar chiliques e por falta de profissionalismo.
“Para a minha família e meus amigos mais próximos, sou o Batman. Para quem não me conhece, sou o Coringa”, brinca o atleta. Passeando por sua casa, a câmera até revela um quadro com uma foto de Neymar, com metade do rosto pintado como o super-herói e a outra metade como o vilão da DC Comics.
Falem bem ou mal dele, o jogador é um dos mais influentes da atualidade. “Neymar joga com estilo e paixão. E tudo o que ele faz é entretenimento: o que ele usa, o que faz com o cabelo ou as suas tatuagens”, afirma o ex-jogador inglês David Beckham, entrevistado para a série.
Enquanto a produção resgata a sua trajetória profissional, desde a infância nos campeonatos de futebol na Baixada Santista até a sua atuação na última edição da Liga dos Campeões da Europa, Neymar é visto interagindo nas redes sociais. Só no Instagram seus seguidores somam 168 milhões.
https://www.youtube.com/watch?v=HSC6htNW9co
Ele é chamado de “rei” das redes sociais porque tudo o que posta repercute imediatamente, gerando reações tanto nos usuários que o adoram quanto nos que não o suportam. Em 2020, o atacante viralizou a frase “O pai tá on”, para dizer que ele estava “ligado” e “preparado”, depois da classificação do PSG para as semifinais da Liga dos Campeões.
“Nós precisamos de folhetim para vender jornais, e Neymar é um ótimo personagem”, afirma o jornalista esportivo francês Vincent Duluc. “O seu alcance como celebridade é medido pelo número de seguidores no Twitter e no Instagram, o que também faz dele uma marca mundial. Mas isso acaba distanciando-o do esporte”, completa.
O jornalista Juca Kfouri, outro dos entrevistados, concorda. “Neymar foi o maior garoto-propaganda nos últimos anos no Brasil. Era ligar a televisão e vê-lo anunciando desodorante, gasolina, chocolate ou xampu”, comenta Kfouri, para quem o craque ainda não conseguiu chegar ao “limite de seu talento”.
Neymar da Silva Santos, pai e empresário do jogador, diz estar cuidando dos interesses do filho, já pensando inclusive no momento em que ele deixar o gramado. “Aí será a consolidação de sua marca”, afirma o pai, fundador da NR Sports, por onde passam todos os contratos, os de atleta e também os de garoto-propaganda.
“Para a minha família e meus amigos mais próximos, sou o Batman. Para quem não me conhece, sou o Coringa”, brinca o atleta
“Em 2010, quando Neymar recebia US$ 500 mil de salário, nós já tínhamos faturado US$ 11 milhões, mais de 20 vezes o valor que ele ganhava jogando bola”, conta o pai, com quem Neymar revela ter hoje uma relação mais profissional do que afetiva.
Até uma discussão entre pai e filho foi registrada durante a filmagem, sugerindo que Neymar quer mais liberdade e não concorda com algumas atitudes do empresário. Outros momentos de sua rotina, com Neymar pintando o cabelo, jogando videogame ou brincando com o filho, David Lucca, revelam um pouco da intimidade do atacante.
Tudo funciona para humanizar e despertar mais simpatia por Neymar, que atualmente se recupera de lesão no tornozelo esquerdo sofrida em novembro. Isso explica o atacante não ter sido convocado para os jogos finais da seleção brasileira pelas Eliminatórias da Copa de 2022.
“Foi tudo muito precoce na minha vida. Já muito cedo comecei a jogar, fui para seleção, fiquei famoso e me tornei um cara rico”, conta o craque, assumindo que cometeu muitos erros ao longo da trajetória. “Talvez eu tivesse um pouquinho mais de calma, se a vida fosse em ‘slow motion”, diz Neymar, com o característico ar de moleque.