Anunciada em março de 2021, por de R$ 7,5 bilhões, a compra do Big pelo Carrefour ainda espera a aprovação do Tribunal do Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O que, na expetativa da empresa, deve acontecer em junho deste ano.
Enquanto aguarda o desenrolar dos trâmites no Cade, a operação local da varejista francesa segue trabalhando intensamente, dentro dos limites desse processo, no planejamento das ações que colocará em prática a partir do esperado parecer positivo do órgão. E já enxerga novas sinergias nesse contexto.
Em fato relevante divulgado na noite da quarta-feira, 15 de fevereiro, o Carrefour revisou as projeções relacionadas à incorporação do ativo. De um Ebitda ajustado de R$ 1,7 bilhão, em três anos contados a partir da aprovação da aquisição, o grupo espera agora sinergias de ao menos R$ 2 bilhões no período.
“As conversões que o Big fez em 2021 vão nos dar mais oportunidades de crescer nesses formatos”, afirmou Stéphane Maquaire, CEO do Carrefour Brasil, em teleconferência com analistas na manhã desta quarta-feira, 16 de fevereiro.
O Big fez, de fato, mudanças importantes no seu parque de lojas desde o anúncio da aquisição. Essa transformação envolveu a conversão de lojas e formatos da sua rede própria. E privilegiou justamente o modelo de atacarejo, o carro-chefe do Carrefour no País, por meio da bandeira Atacadão, e um dos pontos centrais da aquisição.
No caso do Big, a Maxxi, rede de atacarejo do grupo, saiu de 49 para 63 lojas no decorrer de 2021. Já a bandeira Sam’s Club evoluiu de 35 para 43 unidades no mesmo período. Em contrapartida, a marca Big, adotada nos hipermercados, reduziu seu parque de 107 para 86 pontos de venda.
Não houve alterações no mapa dos formatos de supermercados e lojas de proximidades do Big, que incluem marcas como Nacional e TodoDia e seguiram com 196 unidades. “Temos agora que saber integrar e fortalecer essas lojas”, disse Maquaire, especialmente sobre o segmento de atacarejo.
O Carrefour não partirá do zero nessa frente. O executivo citou a experiência adquirida pelo grupo na integração das 29 lojas do Makro compradas em 2020, em um acordo de R$ 1,95 bilhão. Com 250 lojas, o Atacadão fechou 2021 com 44 inaugurações, sendo 22 delas conversões do Macro. No total, o Carrefour tem 779 unidades no País.
“Tivemos uma aceleração nas vendas dessas lojas maior do que pensávamos”, observou Maquaire, sobre as lojas convertidas do Makro. “Então, vamos usar o que aprendemos na captura de sinergias que queremos fazer também no Big.”
O grupo francês também enxerga mudanças no investimento previsto no parque do Big, dado que o Cade apontou 11 lojas com algum risco de concentração a partir do acordo. Na época do anúncio da aquisição, a expectativa era de um aporte de aproximadamente R$ 600 milhões na rede do Big.
“Provavelmente o volume será um pouco mais alto em função do número de lojas que vamos manter conosco, que será mais elevado”, afirmou David Murciano, CFO do Carrefour, em uma referência aos remédios no acordo sinalizados pelo Cade.
Ao mesmo tempo, Murciano deixou claro que a estratégia de M&A do Carrefour não deve parar por aí. “Já identificamos novas sinergias no Big e veremos, no curto prazo, se temos mais oportunidades de consolidação no setor”, observou.
O CFO da rede francesa também enxerga um horizonte mais positivo no que diz respeito a questões como a inflação e a pressão sobre o poder de compra dos consumidores.
“O trabalho do Banco Central com a taxa Selic vem ajudando e vemos o nível de inflação alimentar desacelerando um pouco”, destacou. “Houve uma evolução nesses primeiros meses do ano e estamos bastante confiantes que esse cenário vai melhorar.”
Um dos recursos que o grupo tem usado para minimizar esses impactos é a sua marca própria de produtos. Entre novembro de 2021 e janeiro deste ano, por exemplo, o Carrefour congelou os preços desses itens, que alcançaram uma participação de 19% nas vendas do varejo alimentar da empresa no quarto trimestre do ano passado.
Resultado
Entre outubro e dezembro de 2021, o Carrefour apurou um lucro líquido de R$ 1 bilhão, alta de 8,8% sobre igual período, um ano antes. Já no balanço do ano consolidado, o lucro líquido cresceu 17,7%, para R$ 3,1 bilhões.
O lucro líquido ajustado, por sua vez, teve queda de 13,5% no trimestre, para R$ 766 milhões, e de 13% no ano, para R$ 2,3 bilhões.
No quarto trimestre, a receita líquida do grupo foi de R$ 20,6 bilhões, um desempenho anual 4% superior. Levando-se em conta todo o ano de 2021, o indicador registrou um salto de 8,7%, para R$ 73,5 bilhões.
Já o Ebtida ajustado do trimestre ficou em R$ 1,7 bilhão, o que representou um avanço anual de 1,4%. No ano, o número foi de R$ 5,7 bilhões, uma expansão de 1,9%.
A operação brasileira do grupo está avaliada em R$ 32,9 bilhões. As ações da empresa estavam sendo negociadas a R$ 16,65 por volta do meio-dia, alta de 4,06%. No ano, os papéis da companhia acumulam uma valorização de 4,91%, levando-se em conta o preço do fechamento da terça-feira.