No mês de março, mundo afora, paramos para analisar os avanços das mulheres, e principalmente, a queda (ou não) das barreiras visíveis e invisíveis que acabam atrapalhando e, em algumas sociedades até brecando, essas trajetórias. Eu estudei Agronomia, e um bom agrônomo sabe que para que uma planta possa realizar o seu potencial, precisamos criar as condições externas para que isso aconteça.

E verdade seja dita, os avanços têm sido constantes, e muitas vezes impulsionados pelas próprias mulheres, ajudando umas as outras. Também vejo um novo paradigma nas gerações mais jovens, a dos meus filhos, o que me dá esperança de que os avanços em algum momento se tornarão exponenciais e não mais lineares.

Um exemplo de como podemos ajudar a quebrar barreiras, às vezes até autoimpostas, foi o programa Dn’A Women - um projeto voltado para estudantes universitárias, iniciado em 2019 em parceria com outros bancos, com o intuito de desmistificar a carreira financeira para o público feminino.

Lembro que, ao final, uma das jovens me disse que interagir com mulheres que estão em cargos de liderança no mercado financeiro havia mudado a sua decisão de desistir da carreira neste setor. Ela me contou que tinha medo da pressão e do preconceito que teria que enfrentar.

Mas, a partir daquela convivência com as executivas dos diferentes bancos, percebeu que era possível, e que poderia contar com o apoio de outras mulheres – tanto das que já estavam em cargos sênior, quanto daquelas que estavam iniciando os estudos ao seu lado.

Este foi um exemplo do poder da “sororidade”, que os homens tão bem conhecem. Minha geração cresceu com a ideia de que mulheres competiam entre si e, em função disso, tínhamos um obstáculo a mais para enfrentar.

Não sei quando e nem por que essa “verdade absoluta” foi contestada e começou a mudar, mas o que vejo hoje nas gerações mais jovens é muito diferente. Há mais apoio e empatia e esse movimento vem se espalhando entre mulheres de todas as idades.

Exemplo disso pode ser visto na pesquisa nacional da Rede Mulher Empreendedora (RME), de 2021, que ouviu 2.736 mulheres empreendedoras. Uma das principais conclusões do estudo é que, na média, a empreendedora brasileira tem impacto positivo sobre quatro ou cinco mulheres com seu negócio. Isso porque mulheres costumam ter sócias e funcionárias mulheres.

Resiliência foi outro aspecto mostrado pela pesquisa sobre empreendedoras femininas da RME. Entre o grupo analisado, no qual 70% das entrevistadas tinham atividades no setor de conforto (moda, beleza, estética, alimentação), um dos mais impactados negativamente pela Covid-19, a apuração mostrou que 55% delas tentaram salvar seus empreendimentos iniciados nos últimos três anos e 26% decidiram abrir novos negócios durante a pandemia.

Minha esperança no futuro das mulheres ganha ainda mais força quando percebo que nossos projetos estão fortemente relacionados à pauta ESG (Environmental, Social and Governance).

Um relatório divulgado no início de março pelo UBS – “Women and Investing” – apontou dados que mostram que, até mesmo quando o assunto é investimento, as mulheres buscam propósito para o seu dinheiro – elas são duas vezes mais propensas que os homens a dizer que é extremamente importante que as empresas nas quais investem incorporem fatores ESG em suas políticas e procedimentos.

O texto ainda destaca que a preferência por investimentos com este perfil não se limita às gerações mais jovens de mulheres. Citando uma pesquisa da Consultoria americana Cerulli, o relatório informa que a maioria das mulheres nos EUA com menos de 60 anos é favorável aos investimentos ESG.

Outro dado que corrobora esta tendência foi apresentado pela Pesquisa de Sentimento do Investidor do UBS, que apontou que 71% das mulheres ouvidas para o estudo levam em conta considerações sustentáveis ​​ao investir. Mulheres também estão mais interessadas em investir em mulheres - em crowdfunding, por exemplo, vemos mais mulheres investidoras colocando recursos em startups lideradas por mulheres.

Assim como na pesquisa sobre empreendedorismo feminino, os dados sobre investimentos financeiros mostram que cada vez mais o uso dos recursos se tornou uma importante forma de expressão – uma tendência que foi iniciada por mulheres e millennials, mas que já se espalhou por todas as gerações.

São recursos que vão influenciar o futuro das mulheres e da sociedade em geral de forma direta, impactando no encaminhamento da economia de cada país e globalmente; no financiamento de inovação; e, principalmente, na geração de bons resultados ambientais e sociais no mundo todo. E é com esse olhar feminino cheio de esperança e cuidado que espero que tenhamos ainda mais progresso para reportar em março de 2023.

*Sylvia Coutinho é presidente do Grupo UBS no Brasil desde 2013, Head da área de Wealth Management desde 2018 e vice-presidente do Conselho do UBS BB Investment Bank desde 2020.