Após meses de negociações e brigas com acionistas minoritários, o empresário Nelson Tanure fechou a compra da Alliar com os acionistas da rede de medicina diagnóstica. Mas, apesar da vitória, Tanure terá de fazer uma oferta pública de aquisições de ações (OPA).
Em fato relevante divulgado nesta quinta-feira à noite, 14 de abril, a Alliar informou que os controladores venderam um total de 44.915.088 ações a Tanure, equivalente a 37,9% do capital social da companhia e 74,6% em mãos do grupo, por R$ 20,71 a unidade.
O valor por ação representa um aumento em relação aos R$ 20,50 acertados em novembro por conta do acréscimo da variação da Selic desde 1º de março, conforme aditivo firmado em fevereiro.
Por assumir o controle da Alliar e passar a deter cerca de 63,3% do capital social da companhia, Tanure terá de realizar uma OPA, oferecendo aos acionistas minoritários o mesmo valor que ofereceu ao grupo de controle.
“A Alliar é uma companhia fantástica, com grande potencial, e nós temos certeza de que conseguiremos, com muito estímulo à inovação e investimento em tecnologia, aumentar sua capilaridade e contribuir para que ela se torne a maior companhia de medicina diagnóstica do país”, disse Tanure, em nota.
Junto com o controle, o empresário vai assumir a presidência do conselho de administração da Alliar, com sua filha, Isabella Tanure Correa, ganhando uma cadeira no colegiado. Quando o empresário demonstrou interesse pela Alliar, em agosto do ano passado, ele disse que o negócio era acompanhado pela filha dele, que é médica.
O acordo prevê ainda que os integrantes do então bloco de controle da Alliar poderão vender até 10.466.354 ações ao final deste ano e 5,4 milhões em 2024, pelos mesmos R$ 20,50 por ação, com correção.
As ações da Alliar fecharam o dia com alta de 0,16%, a R$ 18,95. No ano, elas acumulam valorização de 26,6%. A companhia vale R$ 2,2 bilhões.
Longa novela
O comunicado encerra um longo período de negociações entre Tanure e o bloco de controle da Alliar, composto por mais de 70 investidores, como os médicos fundadores da companhia, Sérgio Tufik e Roberto Kalil Issa, e o megainvestidor Luiz Barsi Filho.
A Alliar vinha sendo disputada desde meados de agosto, quando o Pátria Investimentos deixou de ser o acionista controlador da companhia. A Rede D’Or e o Fleury chegaram a manifestar interesse pela empresa, com a rede de hospitais chegando a anunciar uma oferta pública pelas ações, mas desistiu quando a competição se intensificou.
Em dezembro, Tanure e o bloco de controle assinaram os contratos para formalizar a venda, mas os termos do acordo irritaram alguns minoritários, que viam no contrato uma tentativa do empresário de evitar a OPA, algo que ele sempre negou.
Um dos pontos que provocou essa interpretação foi a inclusão de uma opção de venda futura, conhecida como “put”, que permite aos controladores venderem as ações após dois anos do fechamento do acordo, pelos mesmos R$ 20,50 mais correção monetária.
A situação abriu uma guerra entre Tanure e alguns acionistas minoritários. Entre eles, a gestora Esh Capital, conhecida pelo seu ativismo. Quando os detalhes do acordo foram revelados, Vladimir Timerman, fundador e gestor da Esh, publicou em seu Twitter que o acordo era uma “inequívoca tentativa de pagar prêmio de controle disfarçado de opções de venda”, configurando abuso de poder.
Desde então, Tanure e Timerman estão em pé de guerra. Recentemente, segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, a Esh Capital abriu uma notícia-crime contra Tanure, pedindo que o Ministério Público de São Paulo investigue o empresário por insider trading, enquanto Tanure processa Timerman por um prejuízo de R$ 130 milhões que alega ter sofrido desde que passou a comprar as ações dos controladores da Alliar.