Em abril de 2020, a Embraer viu a Boeing encerrar as negociações para a constituição de uma joint venture na área de aviação comercial. O fim do acordo, que vinha sendo negociado desde o fim de 2017, trouxe sérios impactos à fabricante brasileira, o que foi agravado com a chegada da Covid-19.
Exatamente dois anos depois desse ponto final, a operação frustrada ainda afeta a Embraer. Em janeiro, a empresa paralisou suas atividades por quase 30 dias para concluir a reintegração dos sistemas da divisão de aviação comercial, que haviam sido apartados em função do acordo.
A paralisação das operações trouxe reflexos no desempenho do primeiro trimestre de 2022. Entretanto, finalizada essa etapa, a Embraer tem a expectativa de que a página vinculada à Boeing fique restrita à arbitragem em curso contra a fabricante americana.
“Nós tínhamos duas instâncias separadas, que não conversavam. Havia prejuízos na divisão de aviação comercial que não conseguíamos consolidar na Embraer”, disse Antonio Carlos Garcia, vice-presidente financeiro da Embraer, em conferência com analistas na manhã desta quinta-feira, 28 de abril.
“Agora, temos uma expectativa muito clara de melhora na performance operacional e acho que a margem bruta do primeiro trimestre já reflete um pouco isso”, afirmou. “Estamos muito confiantes para esse ano e não podemos mais reclamar do fato de termos duas empresas separadas.”
Entre janeiro e março, a Embraer registrou uma margem bruta de 20,3%, comparada ao índice de 9,5%, em igual período, um ano antes. Ainda na linha da eficiência, nesse intervalo, a empresa reduziu o fluxo de caixa livre de R$ 1,2 bilhão para R$ 434,8 milhões, registrando seu melhor desempenho no indicador desde o primeiro trimestre de 2010.
Em outro ponto destacado pela companhia, a carteira de pedidos firmes (backlog) no primeiro trimestre foi de US$ 17,3 bilhões, um acréscimo de US$ 300 milhões comparado ao quarto trimestre de 2021. É o maior volume desde o segundo trimestre de 2018.
A companhia também enxerga sinais animadores à frente. “Temos várias campanhas em andamento de aviação comercial, envolvendo cerca de 200 unidades”, disse Francisco Gomes Neto, CEO da Embraer, que destaca um aquecimento na demanda.
“Isso está acontecendo principalmente por conta da retomada dos voos domésticos nos Estados Unidos e na Europa”, afirmou. Ele ressaltou que essa recuperação também prioriza a busca por aeronaves mais econômicas, o que favorece as ofertas da família E2 da Embraer.
“A aviação executiva também está em um ótimo momento, com uma quantidade de first time buyers bastante relevante, o que indica que o mercado vai seguir crescendo”, disse Neto. “E em serviços e suporte, já apresentamos uma receita acima dos níveis pré-pandemia.”
Isso não significa que não há riscos no horizonte. O principal deles é a preocupação com eventuais novas interrupções na cadeia global de suprimentos, o que poderia afetar as entregas de aeronaves da companhia.
“O principal problema hoje é a falta de mão de obra qualificada, principalmente nos Estados Unidos. A indústria está voltando e muitos profissionais saíram durante a pandemia”, disse Garcia. “E também a questão dos semicondutores. Hoje, a situação está controlada, mas estamos monitorando de perto.”
Resultado
Sob o impacto da paralisação de janeiro, a Embraer reportou um prejuízo líquido de R$ 165,2 milhões no primeiro trimestre de 2022, contra uma perda de R$ 491,1 milhões registrada na última linha do balanço em igual período, há um ano.
Entre janeiro e março, a receita líquida foi de R$ 3,07 bilhões, 31% inferior na comparação anual. Responsável por 45,8% desse montante, a unidade de serviços e suporte foi a única divisão a registrar crescimento de receita, de 3%, para R$ 1,4 bilhão.
Segunda operação em termos de representatividade na receita, com uma participação de 31%, o segmento de aviação comercial, por sua vez, apurou uma receita de R$ 853,9 milhões, queda 44% sobre o primeiro trimestre de 2021. A Embraer contabilizou 14 entregas, das quais, 6 foram aeronaves comerciais e 8 jatos executivos.
As ações da companhia, avaliada em R$ 10,3 bilhões, estavam sendo negociadas a R$ 14,03 por volta das 10h50 na B3, alta de 4,08%. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização de mais de 43%.