Com os preceitos ESG ganhando as primeiras posições nas agendas de empresas e investidores, autoridades regulatórias em todo o mundo estão começando a prestar mais atenção na forma com que gestoras e companhias comunicam e divulgam a adoção dessas práticas.
O objetivo é evitar o chamado greenwashing, conceito que pode ser resumido como pintar com as cores ESG produtos e serviços que, na verdade, não atendem requisitos de boas práticas ambientais, de governança corporativa e sociais.
O aperto das autoridades em relação a esse tema ficou evidente nesta terça-feira, dia 31, na Alemanha, com uma acusação de greenwashing virando caso de polícia.
Cerca de 50 oficiais alemães estiveram nos escritórios da gestora de ativos DWS e de seu acionista majoritário, o Deutsche Bank, na manhã de hoje, em Frankfurt, como parte de uma investigação sobre supostas práticas de greenwashing pela gestora, segundo o jornal britânico Financial Times.
A operação envolveu promotores da cidade de Frankfurt, a polícia federal alemã e oficiais do órgão regulador do setor financeiro do país, o BaFin. O BaFin começou a investigar a DWS depois que a Securities and Exchange Commission (SEC), o regulador de valores mobiliários dos Estados Unidos, abriu um inquérito sobre acusações de greenwashing feitas por uma ex-executiva da gestora, Desiree Fixler.
Ela foi diretora global de sustentabilidade da DWS até ser demitida no ano passado. Segundo Desiree, a companhia enganou investidores no relatório anual de 2020, quando disse que metade dos US$ 900 bilhões em ativos sob gestão foram escolhidos utilizando critérios ESG.
Em nota, os promotores da cidade de Frankfurt disseram que surgiram evidências suficientes de que, “ao contrário do declarado em prospectos dos fundos da DWS, o fator ESG não foi levado em conta em um grande número de investimentos”. Para as autoridades, a situação pode se configurar como fraude.
O Deutsche Bank, que detém 80% do capital da DWS, não é acusado de greenwashing, mas foi alvo da operação porque divide alguns sistemas de TI e certos espaços com a gestora, de acordo com uma pessoa ouvida pelo jornal britânico.
O caso mostra que as autoridades globais estão começando a prestar atenção se critérios ESG são de fato aplicados no mercado de fundos de investimentos. A SEC anunciou na quarta-feira, dia 25, propostas para estruturar e padronizar como fundos de investimentos que tenham termos como ESG, sustentável e baixo carbono em seus nomes realizam e divulgam essas iniciativas.
O xerife do mercado financeiro americano não está apenas propondo novas regulamentações, ele também já está atuando a partir das regras atuais. Na segunda-feira passada, dia 23, ele informou que a divisão de assessoria de investimentos do BNY Mellon concordou em pagar uma multa de US$ 1,5 milhão para encerrar as investigações sobre suposta omissão de preceitos ESG em decisões sobre alocação de fundos que diziam seguir essas práticas.
Por aqui, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou, na quinta-feira, dia 26, um estudo com questões sobre divulgações de informações ESG pelas empresas e padrões de reporte, sem trazer determinações sobre como realizar a divulgação dessas iniciativas.
A demanda por fundos de investimento que obedecem preceitos ESG cresceu fortemente nos últimos anos. O mercado global de veículos ligados a questões de sustentabilidade somou US$ 2,8 trilhões no primeiro trimestre deste ano, segundo dados da Morningstar, acima do US$ 1 trilhão apurado em 2019.
No Brasil, os dados mais recentes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que, em abril, existiam em torno de 45 fundos de ações que se enquadram na categoria sustentabilidade e governança, com patrimônio líquido de R$ 1,8 bilhão.