A pedido de uma empresa, analisei recentemente os temas de maior atenção de seu setor de negócios. Pesquisei não apenas principais concorrentes, mas também os standards internacionais de comunicação de performance e o foco dos investidores, que está evidente nos modelos de avaliação das empresas de rating e nos índices das bolsas de valores.

Para a minha decepção, o que encontrei foi uma longa lista de temas que refletem o conhecido business as usual, ou seja, aspectos absolutamente consagrados da gestão dos negócios que em nada provocam as empresas para uma maior transformação da realidade por meio da força dos seus empreendimentos. Ecoeficiência, direitos humanos na cadeia de suprimentos, gestão de água, resíduos e emissões, ética, uso de recursos naturais e por aí segue.

Esse é um preocupante indício de como todo este movimento em torno da performance ESG – acrônimo em inglês para ambiental, social e de governança – ainda se mostra extremamente superficial, sem consistência e limitado a um enorme ruído de marketing, como uma grande distração que desvia a atenção de todos das ações de verdadeiro impacto.

Para ser justo, há apenas um tema que, de fato, olha para o futuro no menu dos investidores e que coloca pressão sobre as empresas: clima. Por conta dele, executivos correm para responder à cobrança por planos de redução das emissões e de alcance da meta de se tornar Net-Zero, ou seja, gerar zero impacto líquido no balanço de emissões de carbono.

Ainda assim, a grande maioria das empresas está atacando este assunto com pouquíssima ambição, mesmo que tenham a seu favor o reconhecimento de que é necessário muita inovação e investimento para fechar a equação climática ao longo das cadeias produtivas.

Infelizmente, há muito mais por ser feito no campo de influência das empresas para a construção de um futuro sustentável. E é obrigação daqueles que se dizem especializados em ESG de apontar essas necessidades e colocar pressão sobre as companhias. Pouco ou quase nada nos modelos de análise dos investidores aponta para a urgente necessidade de ação do mundo corporativo frente à desigualdade, que se amplia em todo o mundo, atentando contra a vida humana digna e, de um modo bem pragmático, reduzindo mercados de consumo.

Infelizmente, há muito mais por ser feito no campo de influência das empresas para a construção de um futuro sustentável

Não há qualquer curiosidade dos investidores sobre como as empresas acompanham ou estimulam as mudanças de hábitos dos consumidores, de maneira a alavancar uma bioeconomia ou mesmo impulsionar estilos de vida mais saudáveis e sustentáveis, o que certamente teria impacto positivo em várias dimensões da sociedade, da qualidade de vida individual ao uso de recursos pelos governos.

Ainda seria desejável indagar as empresas sobre quando e como pretendem alcançar a plena circularidade nos processos produtivos. Ou também questionar sobre quando e como planejam atingir uma representação demográfica mais similar a da realidade dos locais em que operam, promovendo assim uma verdadeira inclusão da diversidade da população. Ou ainda como advogam por causas de interesse da sociedade.

Esses e outros temas são essenciais para tornar as empresas mais preparadas para os desafios de um futuro não muito distante, que se avizinha ali na segunda metade desta década. Quando isso ocorrer, será possível acreditar que o interesse dos investidores não está apenas voltado a acomodar as tensões, mas realmente promover uma transformação dos negócios para bases mais sustentáveis.

* Álvaro Almeida é jornalista especializado em sustentabilidade. Diretor no Brasil da consultoria internacional GlobeScan, sócio-fundador da Report Sustentabilidade, agência que atua há 17 anos na inserção do tema aos negócios. É também organizador e curador da Sustainable Brands São Paulo, integra o Conselho Consultivo Global desta rede de conferências e participa da Comissão de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).