A Shein, gigante chinesa de fast fashion, entrou com um pedido confidencial de IPO na bolsa de Hong Kong na terça-feira, 8 de julho, aumentando a lista de companhias internacionais que decidiram deixar de lado a Bolsa de Valores de Londres (LSEG) nos últimos anos. Apenas em 2024, 88 empresas encerraram suas negociações por lá, segundo o Financial Times (FT).
No caso da Shein, a situação é um pouco diferente. A companhia entrou com um pedido para um IPO em Londres há cerca de 18 meses, mas não recebeu a aprovação regulatória. Isso porque os reguladores de ambos os países não conseguiram concordar qual linguagem utilizar na divulgação de riscos do prospecto.
Aparentemente, do lado de Londres, o maior problema estava na relação da Shein com sua cadeia de suprimentos, instalada na região de Xinjiang, onde a China tem sido acusada de violações de direitos humanos contra a população indígena uigur.
Porém, segundo informações do FT, a Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido (FCA) chegou a aprovar uma versão do prospecto da Shein no início de 2025, mas ela não foi aceita pela Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC).
Sendo assim, a listagem em Hong Kong surge como uma forma de pressão para os reguladores do Reino Unido, já que a negociação da Shein poderia ser a maior oferta pública inicial feita mercado londrino em anos. Com o “Brexit” da bolsa, a captação de recursos por IPOs em Londres atingiu o menor nível em 30 anos em 2025.
A pressão, porém, tem poucas chances de funcionar. No início do ano, o presidente da comissão parlamentar de negócios e comércio do Reino Unido, Liam Byrne, reforçou as dúvidas sobre a integridade da cadeia de suprimentos da Shein, após um funcionário da empresa se recusar a responder se suas roupas continham algodão proveniente de Xinjiang.
A gigante de fast fashion não terá o mesmo problema em Hong Kong. Por lá, a bolsa é vista como mais “tolerante” quanto à forma como as empresas chinesas descrevem seus riscos políticos. Além disso, Pequim está incentivando empresas nacionais, que pretendiam abrir capital fora da China, a priorizarem Hong Kong.
Caso a listagem seja aprovada, ela coloca com ponto final em um processo de IPO que já dura mais de três anos. Ao longo desse período, a companhia tentou negociar suas ações em Wall Street, mas também foi barrada pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), que levou em consideração as questões geopolíticas nessa decisão.
Apesar da Shein ter cerca de US$ 12 bilhões em caixa, os números de 2024 também não estão animando o mercado. Com um valuation estimado em US$ 66 bilhões, a empresa viu suas vendas aumentarem 19% ao longo do ano, atingindo US$ 38 bilhões. O problema, porém, está no lucro líquido, que caiu quase 40% no período, para US$ 1 bilhão.
Goldman Sachs, Morgan Stanley e J.P. Morgan são os principais bancos responsáveis pela oferta, que, finalmente, parece estar chegando ao fim.