Em maio de 2021, quando Thiago Maffra assumiu como CEO da XP, a empresa fundada por Guilherme Benchimol traçou um plano para ampliar seu mercado endereçável de R$ 120 bilhões para R$ 500 bilhões.

Desde então, a companhia começou a investir para ir além dos investimentos e estreou nas verticais de crédito, seguros e pessoa jurídica. E, agora, está acrescentando mais uma peça a essa engrenagem para entrar de vez na disputa por uma fatia maior das receitas do mercado financeiro.

A XP anunciou oficialmente nesta segunda-feira, 20 de junho, o lançamento da sua conta digital para pessoas físicas. Na prática, a empresa, que sempre atacou os grandes bancos, está fechando o ciclo para se tornar, quem diria, um banco e tentar atrair e reter todo o dinheiro dos clientes em seu ecossistema.

“Hoje, em média, temos 50% do share of wallet dos nossos clientes”, disse Maffra, CEO da XP Inc., ressaltando a importância do lançamento em conversa com jornalistas. “Quem investe com a XP tem metade do dinheiro em outro lugar. Ou seja, a gente poderia dobrar a empresa sem trazer nenhum cliente ou fazer nenhum esforço adicional.”

Em busca dessa parcela restante, a conta digital da XP, que já está em testes há cerca de seis meses, nasce com uma base de cerca de 300 mil usuários, e a sua chegada será acompanhada do lançamento de um cartão de débito.

Além das funções tradicionais, o cartão de débito irá oferecer saques por meio dos caixas eletrônicos da rede Banco24Horas. O cliente terá direito a até quatro saques gratuitos por mês. A partir desse volume, será cobrada uma taxa de R$ 5 por transação.

Inicialmente, o cartão de débito será ofertado a todos os clientes que já têm a conta digital e também aos usuários do cartão de crédito da empresa, lançado em 2021. O plano é que todos os 3,5 milhões de clientes da XP tenham acesso aos dois produtos até outubro deste ano.

“Hoje, a gente tem o cash in da poupança do nosso cliente, ou seja, toda a reserva e todo o investimento que ele poupou”, afirmou Maffra. “Com a conta e esses produtos e serviços financeiros, esperamos trazer o dinheiro do dia a dia e cortar o restante do cordão umbilical que ele tem com os bancos.”

O pacote inclui serviços como pagamentos de conta, Pix, TED, transferências entre contas XP, débito automático, Pix Saque, Pix Troco e portabilidade de salário. A ideia é ampliar, gradativamente, esse escopo de produtos bancários. Uma das próximas novidades envolverá o financiamento imobiliário.

A XP não detalhou, porém, se a conta digital terá recursos de remuneração atrelados. “Um dos diferenciais que queremos trazer é o cliente ter cada vez mais acesso a todo o nosso rol de investimentos”, disse Marta Pinheiro, sócia e head de banking da XP. “No momento, estamos pensando em como trazer cada uma dessas nossas ofertas.”

Assim como a XP, outros players vêm se movimentando para encorparem seus portfólios de produtos e serviços financeiros e colocarem mais dinheiro dos clientes “para dentro” das suas respectivas operações.

Esse é o caso, por exemplo, do BTG Pactual que, em setembro de 2020, anunciou sua entrada no segmento de varejo com o lançamento do BTG+, banco digital voltado a pessoas físicas. A lista inclui ainda nomes como Inter e Nubank.

Nessa disputa, além de uma base de 3,5 milhões de clientes ativos, a XP conta com um total de R$ 873 bilhões de ativos sob custódia, de acordo com os números mais recentes divulgados pela empresa, referentes ao primeiro trimestre de 2022.

No período, a XP reportou um lucro líquido ajustado de R$ 987 milhões, alta de 17% sobre o mesmo intervalo de 2021. Entre janeiro e março, a receita bruta também cresceu 17%, para R$ 1,2 bilhão, enquanto o Ebitda ajustado ficou em R$ 1,2 bilhão, um salto anual de 14%.

Enquanto dá mais um passo para avançar na arena dos bancos, a XP lida com a volatilidade no mercado de capitais. Em 2022, as ações da empresa, avaliada em US$ 10,5 bilhões, acumulam uma desvalorização superior a 34%.