A Fattoria Villa D'Ancona foi lançada em 2018 e já com uma história centenária. Há cerca de 200 anos, a fazenda na qual a marca de vinhos está sediada pertence à família de Bruno Levi D'Ancona, de 40 anos, managing partner da gestora de private equity Treecorp.
Na Toscana, mais exatamente na região de Casentino, a propriedade é conhecida pela produção de castanha e cogumelo porcini e por ter produzido vinhos até antes da Segunda Guerra Mundial, que obrigou os antepassados judeus do investidor a fazerem as malas.
Com aproximadamente 7 hectares, a fazenda terminou nas mãos do pai de Bruno, o médico Carlos D'Ancona, hoje com 70 anos. Aficionado por vinhos, o filho convenceu-o a retomar a produção de tintos no local.
Para tirar a ideia do papel, o investidor bateu na porta de uma ilustre vinícola da região, a Tenute San Fabiano, que produz vinhos desde o século 13 e pertence aos Borghini Baldovinetti, amigos de longa data dos D'Ancona.
Diretor de vendas da Tenute, além de herdeiro dela, Averardo Borghini Baldovinetti convenceu Bruno a dar um passo de cada vez. “Uma coisa é beber vinhos, outra coisa é produzi-los”, alertou-lhe o italiano.
Em seguida, Baldovinetti se ofereceu para produzir rótulos exclusivos para a Fattoria Villa D'Ancona — e somente para o mercado brasileiro —, enquanto essa não estivesse pronta para andar novamente com as próprias pernas. Negócio fechado, a dupla se associou na sequência à Evino, que se encarrega da distribuição desde o início.
“Temos bons vinhos, um dos melhores distribuidores do Brasil e uma boa história para contar, o que os consumidores valorizam muito hoje em dia”, diz Baldovinetti , em entrevista exclusiva ao NeoFeed da qual Bruno D'Ancona e Ari Gorenstein, um dos fundadores da Evino, também participaram.
A importadora — que se uniu à Grand Cru no ano passado, formando a holding Víssimo — se envolveu no desenvolvimento dos vinhos da Fattoria Villa D'Ancona desde o início. Ajudou tanto na precificação quanto na elaboração das imagens dos rótulos.
“A ótima relação custo-benefício que os vinhos da marca oferecem foi um fator decisivo para nos associarmos a ela”, afirmou Gorenstein. “Mas o mais importante é a qualidade dos produtos.”
Atualmente, os vinhos são produzidos na Tenute San Fabiano e com uvas colhidas nos vinhedos dela, que se espalham pela Toscana em altitudes que variam de 250 a 350 metros.
A meta, no entanto, é transferir tudo para a fazenda da família de Bruno. Mas só depois que a reforma da sede da propriedade, um casarão do século 18, ficar pronta. O imóvel está sendo convertido em um luxuoso hotel com cerca de 40 quartos, com inauguração prevista para daqui um ano e meio.
“Queremos hospedar os consumidores dos nossos vinhos para mostrar como eles são produzidos”, diz Bruno, que é casado com a influenciadora digital Fabiana Justus, filha de Roberto Justus. A Evino promete realizar sorteios para custear as viagens de alguns clientes.
O plantio dos vinhedos na fazenda da Villa D'Ancona deverá começar só depois que o hotel ficar pronto. Daí serão mais cinco anos, pelo menos, até vir uma colheita boa o suficiente para a produção de vinhos. Por culpa do aquecimento global, convém registrar, os vinhedos na Toscana estão sendo replantados em altitudes cada vez maiores.
“Ou fazemos isso, ou daqui a pouco só poderemos fazer geleias, e não vinhos”, diz Baldovinetti. A Tenute San Fabiano continuará à frente da enologia mesmo quando a produção for transferida para os domínios da Villa D'Ancona.
Para transformar a propriedade em hotel e vinícola serão gastos R$ 10 milhões. A maior parte do dinheiro está saindo do bolso do investidor Marco Pisani, sócio-fundador da gestora LionsTrust.
Não à toa, um dos quatro rótulos da nova marca presta tributo a ele. Trata-se do Chianti Reserva, o Il Pisani, que mescla uvas Sangiovese (80%) e Merlot (20%). A R$ 149,90, é maturado por um ano em barricas de carvalho francês e, em seguida, é mantido nas garrafas por mais seis meses.
O rótulo de entrada, o Flora, um Chianti, envelhece em tanques de cimento por seis meses e descansa, dentro das garrafas, por mais quatro. A R$ 99,90, combina uvas Sangiovese (90%) e Canaiolo e Ciliegiolo (10%). “De olho no consumidor brasileiro, desenvolvemos Chiantis mais frutados e menos amadeirados”, afirma Baldovinetti. “Combinam mais com climas quentes”.
O Piocaia, que obedece às regras da denominação de origem IGT, junta uvas Sangiovese (60%) e Merlot (40%). Envelhece em barricas de carvalho francês de segundo uso por um ano e descansa, posteriormente, em garrafas por no mínimo mais um semestre. Laureado com uma medalha de bronze no Decanter World Wine Awards, esse tinto custa R$ 199,90.
O rótulo mais premium é o Vitale, um Vino Nobile di Montepulciano, à venda por R$ 219,90. Feito com uvas Sangiovese (90%) e Canaiolo e Mammolo (10%), envelhece em enormes tonéis de carvalho francês e do leste da Europa por 18 meses — para mais um semestre de espera dentro das garrafas. No ranking do crítico de vinhos James Suckling, esse tinto ostenta 92 pontos.
“Os números de vendas provam que a aceitação desses rótulos pelo mercado nacional é ótima”, disse Gorenstein. Em 2020, quando a importação começou, a Evino trouxe 5 mil garrafas da Villa D'Ancona para o Brasil. No ano passado, foram 10 mil e, neste ano, 20 mil — as últimas safras a chegar foram as de 2018 e 2019.
As vendas estão restritas aos consumidores brasileiros por motivos óbvios. “A concorrência entre os vinhos da Toscana é muito alta, e ainda mais para uma marca nova”, lembra Baldovinetti.
Os brasileiros — e sobretudo os paulistanos, fortemente ligados à Itália — tendem a dar preferência para rótulos toscanos elaborados especialmente para eles. Pelo menos é nisso que os envolvidos na Fattoria Villa D'Ancona acreditam.