Em meados de 2018, a Petlove decidiu que precisava ir além do e-commerce de produtos voltados a animais de estimação. A ideia era ser um one-stop-shop para o mercado pet e, nessa direção, uma das verticais que mais interessava era a saúde veterinária.
Nos últimos meses, a Petlove avançou nessa área ao incorporar os clientes dos planos de saúde para pets da Nofaro, startup que comprou em março deste ano, e da Porto Seguro, como parte do acordo que tornou a empresa de seguros detentora de 13,5% de sua operação.
Com essas carteiras, a Petlove passou a trabalhar para unificar seus negócios no segmento debaixo de um único guarda-chuva. Nesta sexta-feira, 7 de outubro, a companhia apresenta o resultado desse esforço, ao apresentar oficialmente sua nova marca, batizada de Petlove Saúde.
“A gente tinha o e-commerce e a hospedagem (com a fusão com o DogHero, em 2020). Faltava o braço de saúde, que era a principal dor dos donos de pets”, diz Fabiano Lima, responsável por comandar a área de saúde da Petlove, ao NeoFeed. “A gente entendeu que precisava entrar nesse mercado.”
A nova divisão já nasce com 89 mil pets segurados e espera ampliar esse número para 150 mil até o fim do ano. De acordo com Lima, isso deve resultar em um décimo do faturamento total que a Petlove projeta para 2022: entre R$ 1,1 bilhão e R$ 1,2 bilhão - 50% a mais do que o registrado em 2021.
No longo prazo, a projeção é de que a divisão de cuidados veterinários alcance uma receita próxima de R$ 500 milhões em 2025, representando uma fatia de 20% do negócio.
Na prática, o anúncio desta sexta-feira dará início a um processo de migração gradual dos usuários dos dois serviços de planos de saúde para uma única plataforma. A expectativa é de que todos os clientes já estejam utilizando o novo aplicativo até o fim do ano.
Essa plataforma já vai adotar a identidade visual da nova marca. Em relação às funcionalidades, o serviço será montado em cima do modelo já utilizado pela NoFaro. A diferença é que trará algumas novidades, como diferentes opções de planos.
Atualmente, o serviço ofertado pela Nofaro disponibiliza duas opções de seguros para animais, que custam R$ 49,90 e R$ 99,90 por mês. Os planos se diferenciam pela cobertura dos gastos em consultas com especialistas, exames cardiológicos, anestesia e internação.
Dois novos planos serão incorporados: o primeiro, no valor de R$ 159,90, vai cobrir exames mais complexos e, o segundo, com custo mensal de R$ 299,90, dará acesso também às clínicas veterinárias mais conceituadas. Nas duas modalidades, haverá a possibilidade de marcar consultas a domicílio.
“Isso ajuda muito até quem tem cães menos dóceis ou gatos que não gostam de sair de casa”, diz Lima. A abordagem também favorece as consultas preventivas. “Os tutores só levam o pet ao veterinário quando está doente. A gente tem notado que a utilização de quem tem plano é três vezes maior do que quem faz o atendimento particular.”
Tudo isso será informado em uma peça publicitária que será exibida em horário nobre na Rede Globo. A veiculação faz parte do acordo feito em setembro e que permitiu que a Globo Ventures, braço de investimentos da família Marinho, virasse acionista da PetLove, que está avaliada em R$ 3,5 bilhões.
Para chegar a esse valuation e colocar em prática seu plano de se tornar um one-stop-shop, a Petlove contou com o apoio de investidores de peso do mercado. Desde que foi fundada, em 1999, por Marcio Waldman, a empresa já captou mais de US$ 225 milhões em aportes feitos por gigantes como Softbank, Riverwood Capital, Monashees e L Catterton, além de Porto Seguro e Globo Ventures.
A chegada desses investidores foi essencial para que a Petlove não apenas trouxesse empresas que operam planos de saúde animal, mas para investir em mais tecnologia para a vertical. Nesse sentido, a companhia também adquiriu as startups Vet Smart, de gestão de sistemas para clínicas veterinárias, e Vetus, um ERP para petshops. Os deals não tiveram seus valores revelados.
Trabalho de cão
A Petlove está de olho em um segmento que ainda engatinha no Brasil. De acordo com a companhia, que se baseia em números de seus serviços e de empresas concorrentes, apenas 0,2% dos animais de estimação no Brasil são cobertos por planos de saúde. “É um mercado muito incipiente e subpenetrado”, diz Lima.
O percentual brasileiro é bem inferior ao registrado nos Estados Unidos, onde, no ano passado, cerca de 4 milhões de cachorros e gatos (2,5% do total) tinham planos de saúde. Os dados fazem parte de um estudo da Associação Americana de Seguros de Saúde para Pets, que estima que o setor de plano de saúde para pets movimentou US$ 2,8 bilhões em 2021 nos EUA.
Para Lima, há potencial para que o mercado brasileiro atinja percentuais de 3% a 4% e movimente mais de R$ 1 bilhão. “O maior desafio para crescer é o conhecimento da população sobre o produto”, afirma.
O outro obstáculo envolve a oferta. Para que o serviço se torne popular, é preciso ampliar a rede de clínicas veterinárias credenciadas. “Antes, era mais difícil ter a adesão e o mesmo aconteceu com o plano de saúde para humanos e com os planos odontológicos. Hoje isso está mudando”, diz Lima.
Somadas as operações de Porto.Pet e NoFaro, a Petlove conta atualmente com 1,6 mil clínicas credenciadas e vem crescendo esse número em um ritmo de 100 novas unidades por mês. Para conseguir atender 500 mil animais de estimação daqui dois anos, a companhia estima que irá precisar de cerca de 3,5 mil clínicas.
A Petlove conta atualmente com 1,6 mil clínicas credenciadas e vem crescendo esse número em um ritmo de 100 novas unidades por mês
De acordo com Lima o plano é evitar que os clientes precisem se deslocar por mais de 5 km até uma unidade. Mesmo assim, a expansão está sendo feita de forma escalonada. “Se a gente tiver muitas clínicas credenciadas e poucos clientes, não vai dar certo. E se for o contrário, também vamos ter problemas porque a agenda dos veterinários ficará comprometida”, diz. “É preciso fazer esse dimensionamento.”
Por enquanto o serviço já está presente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, além do Distrito Federal. Na última semana, a Petlove iniciou o credenciamento de suas primeiras clínicas na região Nordeste, permitindo o atendimento de pacientes em Fortaleza.
A Petlove também aposta no segmento B2B, com acordos para que empresas ofereçam o seguro de saúde pet como benefício aos funcionários. Outro foco é a conversão de usuários através de promoções que envolvem desde o fornecimento de frete grátis do e-commerce para segurados até descontos na hospedagem pelo DogHero.
Concorrência feroz
A Petlove tem duas rivais ferozes no mercado. A primeira é a Petz, que registrou faturamento de R$ 2,5 bilhões em 2021 e atualmente está avaliada em R$ 4,9 bilhões.
Ainda que focada no e-commerce, como mostrou ao pagar R$ 715 milhões na aquisição da marca de produtos premium Zee.Dog, a Petz também já colocou um pé (ou a pata) no mercado de saúde. Em 2020, a companhia lançou a marca de clínica veterinária Seres, que atualmente conta com 153 unidades em 80 cidades.
O segmento de Serviços e Outros, que inclui a Seres, registrou uma receita de R$ 33,2 milhões no segundo trimestre deste ano. O faturamento total da Petz do período foi de R$ 749 milhões.
A Cobasi é a outra rival. Ainda com capital fechado e com faturamento de cerca de R$ 2,1 bilhões por ano, a companhia fundada em 1984 vem apostando na diversificação dos seus negócios com a entrada no setor de serviços.
Um dos movimentos neste sentido foi a aquisição da Pet Anjo, de serviços de hospedagem e de passeio para cães. O M&A foi concretizado em junho do ano passado, dois meses após a companhia levantar R$ 300 milhões do fundo Kinea, do Itaú Unibanco.
Em saúde, a Cobasi tem desde 2020 uma parceria com a rede de clínicas veterinárias SPet, que tem 26 unidades localizadas no estado de São Paulo e em cidades como Rio de Janeiro, Curitiba, Ponta Grossa, Maringá e Porto Alegre.