O mercado imobiliário dos Estados Unidos é uma das principais apostas da MRV&CO. Sob a marca Resia, a companhia vem buscando se consolidar na área de empreendimentos multifamily, imóveis exclusivos para locação, mirando a classe média americana, famílias que ganham de US$ 45 mil a US$ 85 mil por ano.
Mas esse sonho terá de ser recalibrado. Na quinta-feira, 6 de outubro, à noite, a MRV&CO anunciou que a capitalização da Resia, através de um processo de private equity, está suspensa e será retomada "em um cenário macro mais favorável".
Os recursos levantados seriam usados para acelerar o crescimento da Resia. Mas, enquanto a situação não melhorar, diz o comunicado, a operação americana continuará financiando sua expansão com a mesma estrutura de capital que já vem adotando, com equity no nível dos projetos e contratação de financiamentos para a construção.
“Para a capitalização dos empreendimentos, a Resia já conta com parceiros para os preferred equities [mecanismo em que investidores recebem retornos maiores] e joint ventures, que vêm participando dos projetos atuais”, diz trecho do comunicado.
Por volta das 13h43, as ações da companhia recuavam 5,96%, a R$ 11,67. No ano, elas acumulam queda de 0,3% e valor de mercado de R$ 5,7 bilhões.
Mesmo diante de um mercado com boas perspectivas de crescimento, com a alta de juros estimulando muitos americanos a trocarem a compra da casa própria por aluguel, o cenário macroeconômico conturbado prejudicou os planos de expansão da Resia.
As operações nos Estados Unidos vêm ganhando relevância nos resultados da MRV&CO, a ponto de a empresa ter investido US$ 32 milhões na construção de uma fábrica de componentes pré-moldados no norte da Flórida.
No primeiro semestre, o lucro líquido de R$ 314,3 milhões da Resia ajudou a compensar os prejuízos apurados na MRV e na Urba, unidade que atua com loteamento, levando a holding a fechar com um saldo positivo de R$ 165 milhões.
Por isso, a suspensão da capitalização não soou bem aos ouvidos do mercado. Analistas do Credit Suisse entendem que ela vai desacelerar a expansão da MRV&CO nos Estados Unidos. No anúncio em que informa sobre a interrupção do processo de capitalização, a companhia divulgou que a Resia buscará atingir a meta de construir e vender para investidores cerca 12 mil unidades por ano até 2030.
“As estimativas da MRV&CO para unidades construídas e vendidas ficaram abaixo das nossas”, diz trecho do relatório assinado pelos analistas Pedro Hajnal e Vanessa Quiroga. “Incorporamos os volumes anunciados hoje [ontem] em nossos modelos até 2026, mas permanecemos mais cautelosos que a companhia, estabilizando as operações em 7 mil unidades em 2027, contra as 12 mil unidades até 2030 projetadas pela MRV&CO.”
Considerando a postura conservadora que já tinham em relação à companhia e os efeitos da interrupção da capitalização, os analistas do Credit Suisse reduziram o valuation da Resia. Eles calculam que a subsidiária passou a representar R$ 5,00 por ação da MRV&CO, um recuo de R$ 1,00 ante a estimativa anterior. O preço-alvo das ações acabou reduzido de R$ 16,00 para R$ 15,00.
Para Flavio Conde, analista da Levante Investimentos, a queda das ações representa muito mais um ajuste de expectativas de curto prazo dos investidores e das premissas para a Resia do que uma percepção negativa em relação à MRV&CO.
Ele destaca que as ações estão no mesmo patamar visto em janeiro de 2019, apesar da empresa ter melhorado suas operações e diante das perspectivas de que os programas de habitação do governo federal ganharão força no ano que vem.
“O investidor de longo prazo vai continuar comprado, porque a capitalização pode sair em um ano, e aí as ações vão subir quase na mesma medida que estão recuando hoje”, afirma Conde.
Ainda que tenha rebaixado o preço-alvo das ações da MRV&CO, o Credit Suisse manteve uma postura positiva em relação à empresa mantendo a recomendação de compra para as ações.
Para os analistas, a companhia se beneficia das boas perspectivas para habitação de baixa renda no Brasil e o aumento da demanda por aluguel nos Estados Unidos.
“Permanecemos otimistas que a MRV&CO manterá a recuperação de suas operações e apresentará bons números de ROE [retorno sobre patrimônio], por isso mantemos a recomendação de compra”, diz trecho do relatório.