A revelação pela Americanas de "inconsistências contábeis" da ordem de R$ 20 bilhões reforçou o sinal de alerta que já estava aceso entre os investidores a respeito dos resultados dos bancos no quarto trimestre.
Vindos de um período macroeconômico complexo, com efeitos sobre a inadimplência, o caso da varejista adicionou mais um ponto de atenção, considerando a exposição do setor ao chamado risco sacado, pivô de todo o escândalo envolvendo a varejista.
Enquanto essas duas questões prejudicaram duramente o Santander, o Itaú Unibanco conseguiu fechar 2022 com um tom positivo, para a alegria e alívio de Milton Maluhy Filho, que está completando dois anos à frente do maior banco da América Latina, avaliado em R$ 231,7 bilhões.
O Itaú Unibanco registrou um lucro recorrente gerencial recorde de R$ 30,8 bilhões, aumento de 14,5% em relação a 2021. O retorno recorrente gerencial sobre o patrimônio líquido (ROE) foi de 20,3%, aumento de 1 ponto percentual ante o ano anterior.
O desempenho foi obtido mesmo após o banco decidir provisionar a totalidade do impacto do caso Americanas no quarto trimestre.
A decisão gerou uma implicação de R$ 719 milhões após a incidência de impostos, fazendo com que o lucro somasse R$ 7,6 bilhões, aumento de 7,1% em relação ao mesmo período de 2021, mas uma queda de 5,1% ante o terceiro trimestre. O ROE ficou em 19,3%.
Não fosse pela Americanas, segundo o Itaú, o resultado recorrente gerencial teria atingido R$ 8,4 bilhões nos últimos três meses do ano, com o mercado destacando o foco do banco na qualidade do crédito.
A carteira de crédito do Itaú subiu 2,0% no Brasil e 2,7% no consolidado. A carteira para pessoas físicas no Brasil cresceu 3,7% no trimestre. A margem financeira cresceu 4,5% em base trimestral e 18% na anual, para R$ 25 bilhões.
Assim como o Santander fez na call de analistas, os executivos do Itaú Unibanco não citaram a Americanas nominalmente em entrevista coletiva nesta quarta-feira, dia 8 de fevereiro, e referiram-se ao caso como um “evento subsequente”, por uma questão de sigilo bancário.
Segundo o CEO, Milton Maluhy Filho, a decisão de provisionar 100% da exposição do banco já no quarto trimestre se deu por uma questão de prudência, considerando a materialidade do caso e a incerteza do que vem por aí.
Apesar do impacto do caso, ele destacou que o banco não enxerga uma contaminação para outros setores e empresas, o que não fará o banco restringir crédito para outras companhias.
“Foi uma fraude e é algo que é preciso acompanhar para ver quais serão os desdobramentos”, disse Maluhy. “Fizemos uma revisão da carteira e não encontramos nenhum indício de preocupação.”
O provisionamento da totalidade dos efeitos do caso Americanas contrasta com o que o Santander fez no mesmo período, decidindo por uma provisão na casa dos 30%. Ao tirar o assunto do caminho, diferentemente do concorrente, o Itaú Unibanco não deve ver impactos nos próximos trimestres.
Olhando para 2023, o Itaú Unibanco indicou que a carteira de crédito total fechará este ano com crescimento entre 6% e 9%, abaixo dos 11,1% realizados em 2022. A margem financeira com clientes está prevista para ficar entre 13,5% e 16,5%, abaixo dos 27,2% apurados no ano passado.
Mesmo que o caso Americanas não esteja afetando a disposição do Itaú em conceder financiamento, o banco está mantendo a postura mais conservadora adotada desde o ano passado, buscando priorizar a qualidade das carteiras.
"Fizemos uma readequação da política de concessão no quarto trimestre, tendo em vista o cenário", afirmou o diretor financeiro, Alexsandro Broedel.
Por volta das 11h53, as ações preferenciais do Itaú Unibanco subiam 6,76%, a R$ 26,21, acumulando alta de 6,6% em um ano.