Desde a segunda metade de 2022, os analistas do BTG Pactual preferem o setor bancário mexicano em vez do brasileiro. A preferência foi justificada pelo menor risco político no México, as perspectivas de dividendos maiores (as instituições do México não puderam pagar proventos aos acionistas durante a Covid-19) e bons múltiplos.
A escolha se pagou. As ações dos bancos mexicanos superaram suas contrapartes brasileiras em cerca de 40% no segundo semestre. A mesma situação ocorreu neste começo de ano, com os papéis dos bancos do México tendo um desempenho 15% superior.
Com a alta resultando em múltiplos muito elevados no México, a expectativa era de que o call passasse a pender para os bancos brasileiros. Mas os analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura acreditam que ainda é cedo para tomar a decisão.
“Por ora, nós estamos apenas fechando o call de bancos mexicanos versus os brasileiros”, diz trecho do relatório. “Nós ainda não temos confiança em reverter (o call), pelo menos não agora.”
Segundo eles, existem uma série de dúvidas no ar. A começar pela situação da macroeconomia, com as dúvidas a respeito da trajetória das contas públicas. Um ponto que poderia ajudar é a divulgação do novo marco fiscal pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desde que tenha credibilidade para controlar os gastos e a dívida pública.
Os analistas também falam de questões relacionadas ao próprio setor bancário do País. Um aspecto preocupante citado pelo BTG Pactual é o aumento da inadimplência em empréstimos para empresas, por conta da piora da situação da economia.
Assim como iniciativas do governo federal de limites para juros cobrados pelas instituições. Os analistas apontam os casos do consignado para o INSS, em que o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) decidiu reduzir as taxas máximas de juros e acabaram desincentivando a concessão de crédito na modalidade, e propostas para limitar as taxas de juros rotativo.
Mudanças na tributação dos bancos, com a incidência de alíquotas maiores e a potencial eliminação dos juros sobre capital próprio (JCP), também são riscos apontados para a tese dos bancos brasileiros.
Esses pontos prejudicam a virada do call dos analistas do BTG Pactual, mesmo com os bancos mexicanos apresentando valuations caros e estabelecendo uma forte base comparativa em 2022.
“Embora nada tenha de fato mudado (para pior) do ponto de vista macro no México, nós não vemos mais os bancos mexicanos tendo de maneira tão fácil um desempenho superior em relação a seus pares brasileiros”, diz trecho do relatório.
Enquanto definem para qual país vai o call, os analistas do BTG Pactual entendem que é possível obter alpha com o setor bancário brasileiro, mesmo no atual cenário de baixa, fazendo boas escolhas.
Para eles, as melhores opções neste momento são o Itaú e o Banco do Brasil. “Se a nossa confiança no Brasil melhorar (ou os valuations ficarem ainda mais baixos), nós avisaremos”, diz trecho do relatório.