Em meio a um cenário de juros altos e desaceleração da economia, mais uma varejista apresenta sérias dificuldades e precisa se reestruturar, numa sequência que teve início com o caso Americanas.

O nome da vez é a Amaro, que diante da pior crise financeira desde a sua fundação, em 2012, apresentou um pedido de recuperação extrajudicial e agora parte em busca de recursos para equacionar sua situação, avaliando uma injeção de capital ou sua incorporação por uma companhia.

Com uma dívida que soma R$ 244,5 milhões, a marca de e-commerce de moda apresentou o pedido em 22 de março ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP). A juíza Maria Rita Rebello Pinho Dias deferiu o pedido de recuperação extrajudicial no dia 24 de março.

A recuperação extrajudicial é um tipo de acordo firmado entre a empresa devedora e os credores para pagamento das dívidas. A diferença em relação a uma recuperação judicial é que, na extrajudicial, não é necessário que a negociação seja feita com o aval da Justiça, tornando o processo menos burocrático.

A companhia precisa agora angariar o apoio da maioria dos credores ao plano proposto. Ela necessita que a adesão seja igual a 50% mais um dos créditos devidos. A expectativa é de que a Amaro não encontre problemas para seguir adiante. Uma pessoa a par das negociações, em conversa como NeoFeed, relatou que a companhia tem o apoio de 40% dos créditos devidos e os demais credores estão dispostos a aceitar os termos.

Para conseguir cumprir com o plano traçado, que envolve o parcelamento dos valores devidos, a Amaro busca novas fontes de capital. A empresa vê dois caminhos. Um deles envolve encontrar um investidor para injetar recursos e outra é a combinação com uma outra empresa.

Segundo uma fonte ouvida pelo NeoFeed, não há uma definição sobre qual caminho seguir, dado que a empresa tem boas sinalizações nas duas frentes.

Assim como Marisa e Tok&Stok, a companhia vinha negociando com os credores desde o começo do ano, tendo contratado a consultoria Alvarez & Marsal para auxiliá-la nesse processo.

No pedido redigido pela banca TWK Advogados, a Amaro afirma que enfrenta dificuldades devido a fatores “internos e externos”, que resultaram em um “aumento considerável de seu passivo nos últimos anos”.

Considerada uma retailtech, a empresa passou pelos mesmos problemas que outras startups de forte crescimento, dependendo de rodadas de captação de recursos para seguir expandindo sua operação.

Ao mesmo tempo, a companhia enfrentou questões que afligem as varejistas, no caso, a piora da economia e a pressão que nomes como a chinesa Shein passaram a exercer no varejo brasileiro.

Captação de recursos

Para lidar com essa situação, a Amaro contratou um banco de investimentos, em outubro de 2021, para ajudar a captar recursos. O nome da instituição não é revelado no pedido, mas o NeoFeed apurou que se trata do Bank of America (BofA).

Em fevereiro de 2022, a empresa recebeu um term sheet de um fundo de investimento, cujo nome também não foi revelado no documento, mas uma fonte informou ao NeoFeed que se trata do Meli Fund, fundo de corporate venture capital do Mercado Livre. Procurado, o Mercado Livre informou que não comenta rumores de mercado.

O documento acabou assinado em abril do mesmo ano, dando exclusividade ao fundo. Enquanto os recursos não vinham, a companhia obteve duas linhas de crédito de curto prazo, uma com o Itaú e outra com o Santander, como ponte até o fechamento da rodada de investimento.

No entanto, da mesma forma como ocorreu com outras startups, que viram a liquidez minguar em meio aos juros altos, a Amaro não conseguiu atrair os recursos que precisava.

Segundo o pedido de recuperação extrajudicial, durante o terceiro trimestre do ano passado, o fundo informou que estava postergando todos os seus investimentos, citando as instabilidades no mercado financeiro e as dificuldades nos setores de tecnologia e venture capital.

Para lidar com a situação, a Amaro deu início a um plano de reestruturação e buscou os bancos para postergar o vencimento das linhas de crédito. Ao mesmo tempo, porém,  seguiu acelerando a abertura de lojas e a operação, segundo uma das fontes ouvidas pelo NeoFeed.

Sem sucesso nas negociações e com dificuldades para encontrar um novo investidor, a empresa passou a atrasar o pagamento de seus fornecedores e prestadores de serviços, além de enfrentar duras despesas financeiras – em 2022, ela desembolsou R$ 24,5 milhões em juros – resultando no pedido de recuperação extrajudicial.

Procurada pelo NeoFeed, a Amaro informou que protocolou um plano de recuperação extrajudicial como parte do processo de reestruturação do negócio e que chegou a um acordo com seus principais credores.

“A empresa tem como objetivo preservar sua liquidez e adequar a sua estrutura de capital para fortalecer a operação. Além disso, visa a manutenção do relacionamento com fornecedores e parceiros”, diz trecho da nota.