O mundo pode estar caindo, os juros podem demorar a cair, a Bolsa pode ficar abaixo de 100 mil pontos, os Estados Unidos podem entrar em recessão. Nada disso, porém, está intimidando Florian Bartunek, fundador e CIO da Constellation, gestora com cerca de R$ 2,6 bilhões em ativos sob gestão.
Conhecido por sua postura fundamentalista, o gestor entende que as dificuldades do momento estão abrindo uma série de oportunidades, com boas empresas a bons preços, para quem está disposto a tapar o nariz e encarar o tsunami de más notícias econômicas.
“Tecnicamente, a Bolsa está barata, no low histórico em termos de múltiplos”, disse ele nesta terça-feira, dia 4 de abril, durante painel na nona edição do Brazil Investment Forum, do Bradesco BBI, em São Paulo. “Você constrói as melhores safras de investimento neste momento, para colher daqui a três, quatro anos, mas o cliente não quer ouvir de bolsa nesses momentos.”
Para ele, de acordo com sua filosofia de investimentos, mais importante do que tentar saber para onde vai o Ibovespa, se o S&P 500 vai subir ou cair ou se os Estados Unidos vão entrar em recessão, é identificar e conhecer as melhores oportunidades que aparecem na Bolsa.
“Tem que olhar lá para fora, mas vou deixar de comprar Raia Drogasil por causa dos Estados Unidos? Quem faz isso acaba perdendo o bonde”, afirmou. A rede de farmácias foi citada por Bartunek como uma das oportunidades de investimentos que surgem neste momento, com a empresa registrando uma forte expansão de sua rede de lojas.
Ele citou ainda o caso de WEG, que consegue se descolar da situação macroeconômica por conta de sua boa gestão e seu posicionamento em energias limpas, além de Localiza e Arezzo&Co, companhias dominantes e bem geridas, como formas de hedge de longo prazo.
“As boas empresas no Brasil ficam mais fortes em momentos como este, concentram mercado”, afirmou. “Tenho mais convicção de que Arezzo, Localiza, um grupo de 100 empresas, estarão mais fortes do que convicção de onde vai estar a Bolsa ou o Brasil nos próximos anos.”
Isso não quer dizer que Bartunek esteja tranquilo, destacando que o momento é de fato complexo e que é preciso fazer o dever de casa e entender que o mercado está tenso. “O risco que tenho visto é acordar e ver boas ações caindo 50%, depois de recuarem 80% no ano passado”, afirmou. “Por isso, o melhor hedge é diversificar a carteira e entender os investimentos.”
Arcabouço fiscal e a queda dos juros
Em sua participação no evento do Bradesco BBI, a visão de longo prazo de Bartunek acabou contrastando com a preocupação dos outros participantes, que olham para o curto prazo com receio e se veem obrigados a adotar uma postura cautelosa.
Leonardo Linhares, diretor da SPX Investimentos, que tem R$ 57,8 bilhões sob gestão, demonstrou pessimismo em relação ao cenário atual, sendo obrigado a adotar uma postura paciente num momento em que os juros estão altos e a nova proposta de arcabouço fiscal não dá garantias de que a economia voltará a crescer, por ter muitas pontas soltas.
“Mesmo com esse arcabouço, vejo dificuldades para os juros caírem mais”, afirmou. “Estamos contratando uma decepção, acho difícil o mercado animar, tem muita coisa para ver, mas a discussão fiscal está longe de ser resolvida.”
Para Fabiano Rios, fundador e CIO da Absolute Investimentos, gestora com R$ 29 bilhões de ativos sob gestão, além da questão fiscal, a desinflação da economia ainda está muito lenta, atrasando um corte mais robusto dos juros.
Assim como Linhares, ele também está cauteloso, olhando com muito cuidado a Bolsa, diante da falta de um ambiente positivo. “As expectativas de inflação para este ano estão em 6%, muito acima da meta, então não vejo os juros caindo nos próximos seis meses”, afirmou.