Os dados são o novo petróleo, diz um bordão que tem sido repetido com frequência por executivos do setor de tecnologia.
Não deixa de ser verdade. Google e Facebook são dois exemplos de companhias que criaram impérios bilionários através das informações de consumidores que usam seus serviços gratuitos.
Essa é a lógica por trás de um novo serviço que chegará em breve ao mercado do programa de fidelidade Juntos Somos +, que tem como sócios a Votorantim Cimentos, a Tigre e a Gerdau.
Criado como uma empresa em novembro do ano passado, o programa de fidelidade Juntos Somos + já conta com 52 mil loja cadastradas e 150 mil profissionais da área de materiais de construção.
Agora, a empresa controlada por Votorantim Cimentos, Tigre e Gerdau fechou uma parceria com a NeoGrid, empresa brasileira de software, baseada em Joinville (SC), para capturar dados do setor e vender essas informações para as companhias da área.
É um big data, termo usado para se referir a captura e a análise de uma grande quantidade de dados, que pode reunir dados em tempo real de mais de 50 mil varejistas de material de construção.
É um volume representativo dos lojistas do setor. Segundo a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), o varejo de material de construção conta com aproximadamente 150 mil lojas, que movimentam mais de R$ 100 bilhões ao ano.
A ideia é fornecer gratuitamente os dados para as lojas de material de construção que fazem parte do programa de fidelidade. “Eles saberão os produtos mais vendidos em sua área de atuação, o preço médio da região dos produtos e a cesta de produtos mais adquirida, entre outras estatísticas”, diz Antonio Serrano, presidente da Juntos Somos Mais (é assim mesmo, a empresa se escreve com a palavra Mais e o programa com om símbolo +). “São dados que vão ajudá-los em sua gestão.”
Para as empresas do setor de construção civil, o plano é vender esse big data, que trará informações sobre os produtos vendidos nas lojas em tempo real e informações consolidadas sobre o segmento.
“Já atuamos dessa forma com o varejo supermercadista, agora vamos oferecer o serviço para a área de construção civil”, afirma David Abuhab, head de desenvolvimento de negócios da Neogrid.
É o mesmo tipo de serviço que empresas como Nielsen e Kantar oferecem para uma série de empresas de varejo. É a primeira vez, no entanto, que essa informação vai ser ofertada para as companhias do setor de construção civil.
A Neogrid é a responsável por instalar um software nos PDVs das lojas de material de construção. O programa fará a captura dos dados em tempo real. Até o momento, 1,2 mil lojas já contam com o software instalado. Em dois anos, o plano é atingir toda a rede do programa Juntos Somos +.
O Programa Juntos Somos + nasceu dentro da Votorantim Cimentos e depois se expandiu para outras empresas
As duas empresas fizeram um acordo de divisão de receita com a venda dos dados às empresas do setor, cujo percentual não foi revelado. Detalhes ainda estão sendo definidos sobre os pacotes e preços que serão oferecidos ao mercado.
"As indústrias vão ter acesso a dados de seus produtos direto do ponto de venda", diz Abuhab, dando uma ideia do serviço que vai ser oferecido. "Sempre haverá também a possibilidade de dados agregados do mercado."
O programa Juntos Somos + nasceu dentro da Votorantim Cimentos em 2014. Na época, Serrano, consultor da Bain & Company, foi trabalhar na empresa da família Ermírio de Moraes.
O executivo tinha experiência na formatação de programas de fidelidade e havia trabalhado como consultor na criação da Multiplus como uma empresa independente da companhia aérea TAM – hoje, ela foi reincorporada pela Latam.
Na Votorantim Cimentos, a ideia era criar um programa de relacionamento para fidelizar o lojista, um dos principais problemas da companhia. Quando surgiu, o Juntos Somos + contava com 20 mil lojas.
Ao longo do tempo, o programa foi incorporando novas empresas até se tornar uma companhia independente. A Votorantim Cimentos controla a startup com 45%. Tigre e Gerdau detém, cada uma, 27,5%.
Hoje, são 17 empresas que participam do programa de fidelidade. Além das fundadoras, fazem parte Santander, GetNet, Linx, Vedacit, Eternit, Suvinil, Stam, Bosch, Casa do Construtor, Ciser, Ourolux, Cozimax, Corfio e Schneider Electric. “Estamos abertos a novas empresas”, diz Serrano. “Nosso objetivo é ajudar na profissionalização do setor.”
Ao contrário de programas de fidelidade tradicionais, cujos pontos podem ser trocados por viagens ou compras no varejo, a ideia do Juntos Somos Mais é dar prêmios que ajudem lojistas e funcionários a se profissionalizarem e prestarem um melhor atendimento.
Programa de fidelidade já conta com mais de 50 mil lojas de material de construção e 150 mil profissionais associados
Por esse motivo, a lista de prêmios inclui cursos, software de gestão até uniformes – este último é o item mais trocado pelos funcionários. “Somos uma forma que as empresas encontraram de reinvestir no setor”, afirma Serrano.
O modelo de negócio segue a receita tradicional do setor de fidelidade. A companhia vende pontos às empresas associadas, que repassam a lojistas e funcionários conforme ocorrem vendas de seus produtos. Depois, os pontos são usados para resgatar prêmios. A diferença de valor entre a emissão e o resgate é o lucro da companhia.
A Juntos Somos Mais já emitiu 1,2 bilhão de pontos, sendo que 350 mil foram resgatados. A previsão é de um faturamento de R$ 50 milhões em 2019. “Mas não seremos lucrativos neste ano”, diz Serrano. A startup já investiu R$ 30 milhões e tem previsão de R$ 50 milhões até 2020.
A ideia Juntos Somos Mais é ajudar o lojista em diversas áreas. Tanto que, a partir de julho, o Santander vai também ofertar crédito direto para os lojistas associados sem burocracia e papelada. A ideia é usar apenas o CPF, data de nascimento e número de celular para aprovar o crédito do lojista.