MADRI - Até quando algumas tecnologias que foram desenvolvidas (e investidas com bilhões de dólares) estão prontas para serem aplicadas em qualquer situação? No que diz respeito à inteligência artificial e à rede blockchain (que estrutura todo o universo de criptoativos), isso vai até a necessidade de o julgamento humano entrar em cena.
Isso quem diz é Vitalik Buterin, um dos principais nomes envolvidos com criptoativos. Ele é o fundador da Ethereum, uma das principais comunidades do setor e que possui sua própria moeda digital (ETH) - que só não é mais popular do que a própria bitcoin.
“É importante não exagerar em relação à necessidade de colocar qualquer coisa dentro de um blockchain”, disse Buterin durante uma apresentação na quinta-feira, 8 de junho, no South Summit Madrid. “É um sistema bom em matemática e criptografia, mas que apenas verifica quem fez algo e quem aprovou que aquilo fosse feito. Não é um bom sistema para lidar com questões sociais.”
Ele cita como exemplo uma tentativa de usar matemática e algoritmos para analisar se houve fraude em relação às eleições presidenciais americanas de 2020. “Esse é um fato social complicado e a matemática não vai, magicamente, dar uma resposta”, diz o criador da Ethereum.
Outro exemplo citado foi o uso de tecnologias de inteligência artificial dentro de redes sociais para moderar ou impulsionar um determinado conteúdo. “Você pode usar isso como uma ferramenta”, afirma Buterin. No entanto, ele afirma que esses ecossistemas não podem depender integralmente dos algoritmos.
E as criptomoedas?
Outro ponto comentado por ele foi a flutuação do valor das criptomoedas. Desde janeiro, o valor da bitcoin (que é a principal moeda digital em atividade) já subiu 58% e está avaliada em algo próximo a US$ 26,3 mil por unidade.
“O espaço criptográfico está passando por algumas transições bastante complicadas no momento”, diz Buterin. “Mas é importante separar as dinâmicas de preço e de ecossistema.”
Para ele, o aumento ou a diminuição dos preços é comum e ocorre por motivos que podem ser aleatórios. “Isso vale tanto para os momentos em que as criptomoedas se valorizam como para quando o setor está em baixa”, diz Buterin.
Entre os fatores para a flutuação estão mudanças na acessibilidade às moedas digitais em diferentes países e impactos gerados por exchanges no mercado como um todo.
Nesta semana, a Binance, a principal corretora de criptomoedas do mundo, deu um exemplo disso. A exchange entrou na mira da Securities and Exchange Commission (SEC) e foi acusada de trabalhar para que investidores americanos negociassem criptoativos em bolsas não regulamentadas da Binance no exterior. Com a divulgação da investigação em andamento, a bitcoin chegou a cair quase 5% na segunda-feira.
No que diz respeito ao ecossistema que envolve os criptoativos, Buterin afirmou que há um cenário desafiador pela frente e que é necessário que seja realizada uma transição no setor. As mudanças envolveriam trazer mais transparência e usabilidade para os criptoativos e para a rede blockchain (a tecnologia por trás das moedas virtuais).
Para Buterin, isso deve acontecer nos próximos anos motivada pela transição da economia para um formato mais digital e com a popularização do trabalho remoto.