No fim da década de 1980, muito antes de o termo coworking virar moda, a britânica International Workplace Group (IWG), dona das marcas Regus e Spaces, já utilizava esse conceito de espaços compartilhados ao redor do mundo. Não eram, é verdade, tão descolados como os atuais, mas o princípio de um local flexível para que empresas pudessem trabalhar e realizar networking estava lá.

A concorrência aumentou – e muito –, mas nada disso parece preocupar Tiago Alves, CEO da Regus e Spaces para a América Latina. Ao contrário. Ele estima que terminará o ano com 92% de seu espaço alugado no Brasil e corre contra o tempo para inaugurar novas unidades. No começo deste ano, ele tinha 64 em operação. Quer terminar com 100 em 2019.

Como ele conseguirá isso? É o que ele conta nesta entrevista exclusiva ao NeoFeed, em que diz que há ainda muito espaço para crescer no mercado brasileiro. “Estimamos que existam 350 pontos de coworkings em São Paulo”, afirma Alves. “Para você ter uma ideia, Londres, que é uma cidade parecida com São Paulo, só a nossa empresa conta com 160 pontos. Hoje, eu tenho 35 pontos em São Paulo.”

Sobre a economia brasileira, Alves está otimista e acredita que a aprovação da Reforma da Previdência e de uma Reforma Tributária pode fazer o Brasil decolar. E faz uma previsão otimista. "Se a economia crescer de 2% a 3% ao ano, ficaremos sem imóveis corporativos em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília em quatro anos.” Confira os principais trechos:

A IWG anunciou um investimento de R$ 100 milhões em 2019. Onde os recursos serão investidos?
Abrimos o ano com 64 unidades. Já estamos com 70 e temos contrato assinado para mais 10. Vamos logo bater 80 unidades no Brasil. Temos a expectativa de fechar o ano com 100 unidades.

Como vão chegar a esse número?
Uma forma é com franquias. Lançamos o modelo em dezembro e já assinamos com dois master franqueados: um para o interior de São Paulo e outro para o Sul do País. Mas depois de participarmos da feira da ABF (feira especializada em franchising) nossa demanda aumentou em 400%.

Que tipo de franqueados estão buscando?
Nosso perfil de franqueado é de proprietários de imóveis que queiram diferenciar o seu imóvel e implementar algum tipo de solução flexível. Vamos apostar em franquias em locais que não são a nossa prioridade número um. Vamos fazer expansão com capital próprio em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. Em outras regiões, estamos abertos para as franquias. Nossa aposta é em franquias geográficas e queremos que os franqueados se comprometam a explorar uma região e abra cinco unidades em cinco anos. Estamos, no momento, com conversas avançadas para Curitiba, Belém e Manaus.

O mercado de coworking está experimentando um crescimento acelerado no Brasil e no mundo. O que explica essa expansão?
Hoje, estar em um espaço de coworking passa a imagem de que você é mais moderno e tecnológico e de que o networking é mais fácil. Esse mercado cresce 50% ao ano no Brasil e no mundo. À medida que a economia brasileira vai melhorando, a tendência é que a vacância imobiliária diminua. E muitos pequenos coworkings, que foram montados apenas para enfrentar a crise, vão desaparecer. Se a economia crescer a taxas de 2% a 3% ao ano, ficaremos sem imóveis corporativos em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília em quatro anos. A vacância em imóveis corporativos chegou a 22% há quatro anos. Hoje, está em 16% em São Paulo.

Qual o tamanho desse mercado?
Estimamos que existam 350 pontos de coworkings em São Paulo. Para você ter uma ideia, Londres, que é uma cidade parecida com São Paulo, só a nossa empresa conta com 160 pontos. Hoje, eu tenho 35 pontos em São Paulo.

Há, então, muito espaço para crescer?
Sim, muito. Estou abrindo cinco unidades em São Paulo, duas no Rio de Janeiro, duas em Brasília e uma em Belo Horizonte. Tudo isso com capital próprio. Estou estudando também expandir as unidades de Recife e Fortaleza.

"Em mercados maduros, como Nova York e Londres, o espaço compartilhado representa de 6% a 7%"

Muitas pessoas atribuem a Amazon Web Services (AWS) a explosão do número de startups no mundo. Os coworkings também não foram fundamentais para essa nova onda de startups?
Sim, com certeza. O coworking virou um termo referência. Ele inclusive já foi aportuguesado. E o brasileiro é expert em compartilhar. Brinco que temos modalidades de compartilhamento que nem os gringos conseguem entender. Por exemplo, o consórcio, que é o compartilhamento de financiamento. Coworking virou sinônimo de possibilidade de crescimento. Ele traz ainda os três pilares da nova economia: mais agilidade, menos custo e menos risco.

Qual a relação entre startups e grandes empresas na sua carteira de clientes?
Já foi a época em que os espaços compartilhados eram exclusivos para startups. Hoje, um terço dos meus clientes são de pequenas empresas ou startups. Mas 50% de meus clientes são o que chamamos de grandes empresas, que têm com a gente pelo menos 30 pessoas. Quem tem virado cliente nosso? Por exemplo, a IBM. Ela fechou uma expansão em Brasília para aproximadamente 130 pessoas. Hoje, oito de cada dez grandes empresas têm namorado os espaços compartilhados, ou para saber se é legal, ou para saber se encaixar na sua realidade, ou para uma simples tomada de preço.

Por que as grandes empresas estão optando por coworkings?
Primeiro, porque reduz o custo de capital e ela não precisa fazer investimentos. Segundo, a empresa tem flexibilidade para crescer o número de funcionários ou para reduzi-los ao longo do contrato. Ela consegue ainda variar o tipo de serviço e de produto de acordo com o usuário. E ainda existe a facilidade de o cliente alugar por dia, mês, ano ou até mesmo por hora. O prazo quem define é a empresa.

Por serem uma empresa internacional, vocês são uma porta de entrada para as startups de fora?
Todas as grandes startups que chegaram no Brasil vieram para cá através da Regus. Muito antes de você saber o que era a Uber, eu já tinha a Uber como cliente. E assim foi com o Google, o Facebook, o Twitter, o LinkedIn e muitas outras.

Você está otimista com a economia?
Sim, estamos. Tivemos um ótimo primeiro semestre. Com a aprovação da Reforma da Previdência e se vir, na sequência, uma boa Reforma Tributária, o Brasil tem tudo para decolar.


Mas as atuais previsões econômicas estimam um crescimento moderado em 2019, de apenas 1%. O que explica esse ótimo semestre?
Sentimos o movimento de retomada da economia antes. Há também uma mudança de mercado, de conceito e de estrutura de espaço de trabalho. O meu crescimento, durante a crise, foi de 50% ao ano. Não é só sobre a questão econômica. As pessoas estão mudando a forma de se relacionar com o ambiente de trabalho. E essa mudança é disruptiva. Cresci, em termos de ocupação, 12% até agora neste ano. Devo fechar este ano com 92% de ocupação. Estou quase cheio. Por isso que estou correndo para abrir novas unidades.

Mas a concorrência aumentou bastante, não?
Sim, mas concorrência é bom. Se somar a nossa operação, mais a WeWork e as grandes empresas, nós representamos 1% do espaço corporativo de São Paulo. Se somar todas, inclusive as pequenas, dá aproximadamente 1,5%. Em mercados maduros, como Nova York e Londres, o espaço compartilhado representa de 6% a 7%. E mesmo lá tem crescido bastante. Tenho estudos que mostram que, em 2030, 30% dos espaços serão flexíveis. Há muita oportunidade para crescer.

A IWG, através de suas marcas, tem trabalhado a questão da diversidade. Qual o motivo?
Os coworking já são ambientes diversos. Primeiro porque o conceito do compartilhado é tudo junto e misturado. É muito mais fácil levantar a bandeira da diversidade nesses espaços. Mas sempre procuramos ir além. Hoje, 55% do público de um coworking é feminino. Mais: 82% dos meus colaboradores são mulheres, sendo que 60% delas ocupam cargos de gestão. Isso me levou a buscar um treinamento específico de liderança feminina. E encontrei o programa Elas, uma escola de liderança para mulheres, que dá treinamento de empoderamento feminino. Implementei o programa na empresa e treinamos 100% das colaboradoras. E vi um nicho a ser explorado. Por isso, montamos um coworking feminino e buscamos a Fabiana Scaranzi como âncora, que tinha essa bandeira. Um coworking é um espaço de inovação, mas precisa de curadoria. Ele é um espaço para discussão voltado para o público feminino. A ideia é conectar marcas, empreendedoras, pessoas e empresas que queiram discutir isso dentro desse espaço. Está indo superbem. Está com 80% de ocupação, com eventos quase toda semana e sempre lotado.

E que outras ações está adotando?
Estamos fazendo um trabalho legal no universo feminino. Mas me perguntava sempre se poderíamos ir além. Pensei: e seu criasse um produto onde pessoas com mobilidade reduzida podem trabalhar de qualquer unidade da Regus? E o destino fez com que eu encontrasse a Andrea Schwarz, dona da consultoria iigual. Ela é uma espécie de headhunter especializada para pessoas com deficiência. Conta com um banco de dados de 18 mil pessoas com deficiência. Lançamos uma parceria nas quais as empresas que estão na Regus têm um superdesconto para contratar pessoas com deficiência através da iigual. E clientes da consultoria, que não estão na Regus, mas estejam contratando pessoas com deficiência, têm uma condição especial para alugar espaços na Regus. É uma parceria comercial, mas com foco social. A ideia é incluir mais pessoas com deficiência.

Você teve de preparar os espaços para receber pessoas com deficiência?
Por lei, todos os meus espaços são adequados. Mas a lei não cumpre com 100% da exigência. A iigual está visitando todos os espaços para garantir que eles estejam realmente adaptados para as pessoas com deficiência.

O que você teve de mudar?
Por exemplo, coloquei nas unidades um aplicativo que ajuda as pessoas com deficiência visual a ler. Você aponta o celular e ele fala o que está escrito em um quadro, por exemplo. As minhas funcionárias são treinadas para instalar o aplicativo e ensinar as pessoas a usar. Em algumas unidades da Regus, instalei piso tátil. Todos os nossos espaços são preparados para cadeirante, mas todas as unidades vão ter algumas mesas com regulagem de altura.