Com as tensões entre Pequim e Washington nos piores níveis já vistos e o mercado chinês num momento conturbado, alguns dos maiores bancos de investimento estão abrindo mão de mandatos para realizar ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês).
Segundo o jornal The Wall Street Journal, o Goldman Sachs desistiu de uma série de operações previstas para ocorrerem na Bolsa de Valores de Hong Kong neste ano, como de uma companhia de dermatologia e um marketplace para produtos farmacêuticos.
Fontes ouvidas pelo jornal afirmam que o banco tomou a decisão depois de ver que a demanda atual era muito baixa para a operação ser bem sucedida. Em abril, o Goldman Sachs desistiu de ser coordenador da oferta da Beijing Fourth Paradigm Technology, uma companhia de inteligência artificial que, em março, foi incluída numa lista de sanções para exportadores elaborada pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos.
Já o Bank of America (BofA) desistiu do IPO da Growatt Technology, companhia que produz inversores para painéis solares que abdicou de abrir o capital no final do ano passado e tentou retomar no começo de 2023.
A desistência de mandatos de IPOs por bancos é uma situação rara, mas é um sinal de como está complicada a tentativa para companhias chinesas que querem se tornar públicas no mercado internacional.
Segundo dados da Bolsa de Hong Kong, quase 90 empresas apresentaram pedidos para abrir capital. Mas a disputa geopolítica da China com os Estados Unidos, mais a situação negativa do mercado local – o Hang Seng, principal índice da bolsa local, acumula queda de 14,4% desde que atingiu o maior nível em 2023, em 27 de janeiro – e dúvidas quanto à robustez da economia local tem afastado investidores, especialmente internacionais.
Até o momento, operações primárias e secundárias no mercado de Hong Kong movimentaram cerca de US$ 2,05 bilhões, uma queda de 12% ante o resultado de um ano atrás e muito aquém do que o mercado viu em anos anteriores.
Mesmo listagens menores, de empresas com apelo, têm sofrido com o momento. A Star Plus Legend Holdings, empresa que fabrica os chamados cafés funcionais e que detém os direitos de um reality show estrelado pelo pop star taiwanês Jay Chow, adiou na semana passada seu IPO de US$ 101,8 milhões.
Muitos dos coordenadores estão agora com uma visão pessimista para o mercado de IPO, depois de um início de ano otimista por conta do fim da política de Covid zero na China. Eles imaginam que a situação pode virar caso Pequim resolva adotar políticas de estímulo e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começar a dar maior clareza sobre o rumo da política monetária.