A Bolsa de Hong Kong lançou um programa que permite negociar ações de 24 empresas chinesas no pregão utilizando o yuan ou o dólar de Hong Kong no lugar do dólar americano.
A iniciativa tem dois objetivos. Um deles é ampliar a internacionalização da moeda chinesa, que vem sendo usada cada vez mais no comércio exterior para evitar a dependência do dólar americano.
Outro objetivo é oferecer uma opção aos investidores da Bolsa de Hong Kong, cujo volume de negócios tem caído, em função da fraca recuperação da economia chinesa. Assim, os investidores que negociam com o yuan podem limitar os custos de conversão e cobertura.
Para estimular o programa, chamado HKD-RMB Dual Counter Model (“Modelo de balcão duplo HKD-RMB” em português), foi oferecida no primeiro dia a opção de comprar e vender ações em yuan de algumas das maiores empresas chinesas listadas na bolsa local, incluindo Tencent, Alibaba e China Mobile.
No total, as 24 empresas que aderiram ao programa têm valor de mercado combinado equivalente a US$ 1,9 trilhão.
Durante a fase inicial, o programa estará disponível apenas para investidores estrangeiros com participações em yuan, mas posteriormente incluirá investidores da China continental. Os depósitos offshore de yuans somente em Hong Kong são estimados em cerca de 833 bilhões de yuans (US$ 117 bilhões).
Se for bem-sucedido, o contador duplo desencadeará uma nova onda de dinheiro do continente nas ações de Hong Kong. Os investidores onshore têm uma presença crescente no mercado de ações da cidade, com seu volume de negócios representando mais de 26% do total diário de Hong Kong, segundo dados compilados pela agência Bloomberg.
“À medida que se torna mais conveniente investir em ações de Hong Kong, espera-se que mais capital chinês ingresse no mercado para melhorar o volume de negócios e a volatilidade”, disse Xiancheng Zhao, gerente de portfólio da Bosera Asset Management, à Bloomberg.
Cotação baixa do yuan
Os administradores de fundos, no entanto, esperam inicialmente um interesse morno nos contadores do yuan, dados os riscos de curto prazo - incluindo um enfraquecimento do yuan e ações instáveis à medida que a economia da China enfrenta dificuldades. O yuan está no nível mais baixo em relação ao dólar desde novembro.
O programa, no entanto, não deixa de ser uma resposta chinesa à crescente tensão geopolítica com os Estados Unidos. A medida é vista como mais uma iniciativa do governo chinês em reduzir o risco de saídas de capital em busca de moedas de maior rendimento, como o dólar americano.
Nos últimos dois anos, a China fechou vários acordos comerciais bilaterais em yuan com países da Ásia e do Oriente Médio que aderiram ao programa de infraestrutura Rota da Seda.
No ano passado, depois da invasão russa da Ucrânia, que levou o Ocidente a decretar sanções econômicas contra o governo de Vladimir Putin, a China começou a comprar petróleo russo pagando em yuans, para contornar o bloqueio das contas em dólar da Rússia no sistema financeiro internacional.
Em janeiro deste ano, os bancos centrais do Brasil e da China fecharam um acordo que permite aos dois países fazer comércio e investimentos usando suas moedas, sem intermediação do dólar. Em abril, durante visita a Pequim, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a adoção de moedas alternativas ao dólar no comércio entre os países emergentes.
Mais recentemente, a Argentina também anunciou que pagará pelas importações da China em yuans. No entanto, o avanço mais significativo da estratégia chinesa de promover a internacionalização do yuan ocorreu neste mês, quando o Paquistão pagou por sua primeira importação de governo a governo de petróleo bruto russo com desconto em yuan.
Mesmo assim, o dólar americano continua sendo a moeda global dominante, respondendo por 42% dos pagamentos globais. A participação do yuan é de apenas 2,29%, embora tenha registrado um pequeno avanço ante a participação de apenas 1,95%, há dois anos.
Apesar da novidade, o índice Hang Seng da bolsa de Hong Kong fechou em baixa de 0,64% em relação ao pregão de sexta-feira.