Durante cerca de 25 minutos do longa-metragem “Indiana Jones e o Chamado do Destino”, que estreou nos cinemas no fim do mês passado, o lendário personagem aventureiro interpretado por Harrison Ford aparenta uma idade bem inferior aos 80 anos do ator. Não há maquiagem que dê conta de tanta transformação. Em vez disso, foi preciso utilizar uma boa camada de inteligência artificial.
O novo filme de Indiana Jones não é o primeiro a “rejuvenescer” atores em idade avançada. Sucesso da Netflix, “O Irlandês”, lançado em 2019, também fez isso com atores como Robert De Niro e Al Pacino. A questão é que o recente longa estrelado por Ford traz à tona uma discussão sobre os avanços da inteligência artificial (IA) na indústria cinematográfica em um momento crítico para a tecnologia.
Para recriar uma versão de Ford dos anos 1980, a Lucasfilm, estúdio responsável pelos filmes da saga Indiana Jones, utilizou a empresa Industrial Light & Magic (ILM), uma de suas subsidiárias e que foi responsável também pela criação dos dinossauros usados na franquia “Jurassic Park” e das naves de "Star Wars".
A tecnologia empregada para o rejuvenescimento virtual é chamada de “troca de face” e consiste no uso de duas câmeras infravermelhas. Elas capturaram todos os movimentos de Ford para remodelar seu rosto em uma versão mais jovem. Também foi feita uma busca em anos de filmagens do ator. A partir das informações visuais coletadas, a ILM é capaz de criar uma “máscara” a partir de IA.
O maior desafio, segundo contou Robert Weaver, supervisor de efeitos visuais da ILM, para a Wired, é manter a configuração física do rosto mesmo em cenas em que o personagem está em plena ação. É preciso também considerar a luz externa, que varia em relação a cenas de dia e de noite, para entender os movimentos de sombra e de brilho na face. Weaver definiu este trabalho como “diabólico”.
No Brasil, uma propaganda da montadora alemã Volkswagen causou burburinho nas redes sociais nos últimos dias. A peça publicitária traz a cantora Elis Regina, falecida em 1982, contracenando com Maria Rita, sua filha, enquanto ambas dirigem carros da marca. Para recriar a artista, a agência AlmapBBDO usou uma dublê e técnicas de IA para a troca dos rostos.
Inovação recente?
Criar uma nova imagem de atores mais velhos ou que até já morreram não é algo novo em Hollywood. Celebridades como Robert Downey Jr., Michelle Pfeiffer, Carrie Fisher, Will Smith, Johnny Depp, entre outras, já passaram pelo processo. A diferença está em como a tecnologia para fazer isso evoluiu nos últimos anos.
Entre essas evoluções há de se destacar o uso de algoritmos de redução de ruído. Esses códigos criados a partir de machine learning permitem que os estúdios possam reduzir a granulação em uma imagem, deixando-a mais natural e permitindo também o tempo de renderização necessário - o que torna toda a produção mais ágil.
A tendência é de que a tecnologia continue evoluindo. Em entrevista ao Collider em abril, o diretor Joe Russo afirmou que espera que a inteligência artificial seja capaz de produzir filmes inteiros em menos de dois anos. Se a vida imita a arte ou vice-versa, isso parece pouco importar agora. O que é preciso saber é como a tecnologia vai recriar ambos.