Os acionistas minoritários da JBS acordaram na quarta-feira, 12, com a informação de que a empresa vai propor uma dupla listagem das suas ações nos Estados Unidos e no Brasil. Em até 60 dias, a companhia vai convocar uma assembleia geral para aprovação desse movimento, que só deve ser concluído no fim de 2023.
Vinte minutos após a abertura da B3, a ação da JBS registrava uma alta de, aproximadamente, 8,5%, um patamar que se manteve ao longo do pregão do dia 12. Para os analistas do mercado financeiro, houve consenso em relação à decisão da JBS: finalmente a dupla listagem foi anunciada.
“A nosso ver, alinha melhor a estrutura societária da JBS frente aos seus pares mais próximos, algo que pode ser recebido positivamente pelos investidores”, escreveu Thiago Bortoluci, analista do Goldman Sachs, em relatório. “Acreditamos que o foco contínuo da JBS em produtos de marca e valor agregado pode reduzir a volatilidade cíclica e a ação merece ser negociada com uma avaliação mais rica frente aos níveis atuais de negociação.”
As ações da JBSS3 são negociadas atualmente a 7,2 vezes o valor da empresa sobre a geração de caixa (EV/EBITDA), enquanto essa relação na Tyson Foods é de 8,8 vezes, na Pilgrim's Pride de 7,6 vezes e na Marfrig de 8,9 vezes.
Para Leandro Fontanesi, analista do Bradesco BBI, esse desconto de avaliação é atualmente estimado em aproximadamente 40% no EV/EBITDA 2024 da companhia. “A JBS negocia a cinco vezes abaixo de nossas estimativas. Para cada redução de 5 pontos percentuais nesse desconto, isso implicaria uma subida de cerca de 25% no preço das ações.”
A ação da JBS está sendo negociada na faixa de R$ 18,70. Goldman Sachs e Bank of America (BofA) têm como preço-alvo R$ 22, um upside aproximado de 18%. O Morgan Stanley e o Bradesco BBI colocaram o preço-alvo em R$ 30, uma valorização de mais de 60%.
“A nosso ver, os principais pontos positivos para a potencial listagem nos Estados Unidos são a possibilidade de usar o equity em M&A, que hoje é limitada pois os acionistas controladores detêm 48,8% das ações da JBS SA”, escreveram Isabella Simonato e Guilherme Palhares, analistas do BofA Securities. “Há, também, a possibilidade de re-rating das ações ao acessar uma base maior e mais diversificada de investidores, além da potencial redução de custo de capital.”
Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, disse em entrevista ao NeoFeed que a questão do custo de capital vai cair e aumentar a competitividade da companhia. “Se comparar os nossos bonds com os da Tyson, temos um custo de capital entre 1% e 1,5% maior do que eles. Isso vai mudar”, afirmou ele.
A nova estrutura envolverá três classes de ações: Classe A, com papéis listadas na Nyse, a bolsa de valores de Nova York; a Classe B, que não serão negociadas, mas terão mais direitos de votos; e as ações de conversão. No Brasil, os acionistas poderão negociar os recibos da Classe A em um BDR Nível 2.
Os acionistas minoritários poderão escolher entre as Classes A (listada) e B (não listada). Será dado um prazo até o fim de 2026 para converter ações não listadas em listadas, a qualquer momento.
“Embora a estrutura possa levar alguns investidores a levantar questões sobre super direitos de voto e a estrutura de listagem dupla, acreditamos que a transação proposta traz muitos drivers em potencial para gerar valor significativo para a empresa”, escreveram Ricardo Alves e Lucas Mussi, analistas do Morgan Stanley.