Há sete meses, a AZ Quest, empresa do grupo Azimut em sociedade com a XP, deu início à gestão de ativos ilíquidos. E, em meio a uma taxa de juros na casa de dois dígitos, a gestora conseguiu superar a barreira do R$ 1 bilhão captados em investimentos alternativos.
Agora, a AZ Quest caminha para atingir mais de R$ 2 bilhões em investimentos alternativos até o fim do ano. Desde que entrou nessa área, já colocou três produtos no mercado - dois fundos do agronegócio (Fiagro), que somaram R$ 777 milhões, e um de infraestrutura (FIP), de R$ 500 milhões.
O próximo passo é o lançamento de um fundo imobiliário, que está em fase final de estruturação. “Esse fundo imobiliário vai ser cetipado, em torno de R$ 350 milhões, e a operação deve ser colocada entre agosto e setembro”, diz Walter Maciel, CEO da AZ Quest, ao NeoFeed. “A meta é fazer mais R$ 1 bilhão em alternativos até o fim do ano.”
O fundo imobiliário cetipado (será negociado em balcão e não por meio de cotas no pregão da bolsa de valores) será o primeiro lançamento após a assinatura do contrato de compra de 50%, no fim de junho, da Panorama Capital, especializada em ativos imobiliários.
Em fevereiro, as companhias haviam assumido o compromisso de unir suas operações. Com a concretização do acordo, a AZ Quest Panorama começa com R$ 400 milhões sob gestão e o histórico de uma equipe de mais de 15 anos com passagem por Tellus, Rio Bravo, HIG Capital, HBR, entre outras casas especializadas no segmento. Junto aos fundos imobiliários abertos e fechados, o primeiro produto com a marca dessa união está no forno.
Com um total de R$ 22 bilhões sob gestão, a AZ Quest decidiu navegar pelos investimentos alternativos após reuniões estratégicas com os sócios da Azimut e da XP Private Equity. Se a prateleira dos ativos líquidos, como fundos de renda fixa e variável, estava bem preenchida, havia um espaço aberto.
“Estamos olhando para os próximos 20 anos e é importante ter a complementariedade de ativos líquidos e ilíquidos”, diz o CEO da AZ Quest. “E o investimento alternativo, além de diversificar a prateleira, traz um dinheiro estrutural para a empresa que ancora o negócio.”
Em junho do ano passado, em entrevista ao NeoFeed, Maciel explicou como seria o guarda-chuva dos investimentos alternativos. Junto à infraestrutura, ao agronegócio e ao imobiliário havia a ambição de entrar, também, em private equity (PE) e venture capital (VC).
Porém, comprovar o sucesso em PE ou VC levaria uma década, entre a fase de captação de dinheiro e o ciclo de investimento e desinvestimento. E a AZ Quest queria mostrar bem antes que entende também de ativos ilíquidos.
“Preferimos olhar para ciclos mais curtos e executar com maior eficiência o que significa agro, infraestrutura e imobiliário”, afirma Maciel.
A primeira aventura da gestora no universo dos alternativos foi um Fiagro que atraiu R$ 240 milhões, em dezembro do ano passado, e entregou dois diferenciais para o investidor: em vez de seguir os temas de financiamento ao pequeno produtor ou a compra de terras, a AZ Quest escolheu empresas que apoiam o agronegócio e fazem parte da linha secundária - fornecedores de adubos, por exemplo.
O segundo diferencial foi que a asset criou uma taxa de performance. Nesse primeiro Fiagro, quase 40% dos ativos têm uma taxa de performance. Em caso de aumento do faturamento, das vendas, listagem em bolsa ou ganho de produtividade, há o chamado equity kicker.
“Será uma surpresa positiva no final para o investidor”, diz o CEO da AZ Quest. “A nossa inovação dentro dos alternativos é que tratamos todas as operações como se fossem um private equity. Não é obrigatório, mas temos a intenção de gerar todos os deals dentro de casa.”
Com esse mesmo modelo, em janeiro deste ano, houve a captação do primeiro FIP de infraestrutura, de R$ 500 milhões, pagando CDI+5% ao ano. Com oito deals, 70% têm equity kicker.
“Em infraestrutura, o kicker é mais alto e pode chegar até a 17,5% da apreciação do negócio”, afirma Maciel. “Isso acontece porque ninguém em infra se apega à terra. Quando o projeto atinge o objetivo, vende-se.”
Com o plano para 2023 traçado, a AZ Quest está trabalhando em um fundo de crédito de carbono de US$ 500 milhões. A ideia é colocá-lo no mercado internacional em janeiro do ano que vem e contar com a força de vendas da Azimut, que detém € 85 bilhões sob gestão. A tese vai passar pelo selo de redução de emissões do desmatamento e degradação florestal (REDD).
“Eu não sou muito comprado nas histórias de ESG. O mérito é fabuloso, mas é efêmero e subjetivo. E 80% do que vejo é greenwashing”, diz Maciel. “Mas botar dinheiro para pagar o dono da terra para ele não deflorestar os 20% que ele poderia é impacto ambiental direto.”
Com o dólar na faixa de R$ 4,80, essa operação pode significar mais R$ 2,4 bilhões sob gestão para a AZ Quest. Se confirmado, a gestora terá alcançado quase R$ 5 bilhões em alternativos em 2024.