Foi a coleta de uma bactéria, no meio do oceano, a sete quilômetros de profundidade, que ajudou o empresário Luiz Chacon Filho, fundador e CEO da Superbac, a encontrar uma forma de defender as lavouras brasileiras. Uma tese que chamou a atenção do private equity da XP Asset, que acaba de assinar um cheque de R$ 300 milhões por uma fatia minoritária relevante da companhia.

A história, a princípio, pode parecer surreal. A “salvação da lavoura” mora a mais de 300 quilômetros do continente? Explica-se: a Superbac, uma empresa de biotecnologia que isola bactérias e cria blends para substituir químicos, percebeu em suas pesquisas que aquele micro-organismo que estava no fundo do mar seria a ideal para a criação de um biodefensivo.

“É a primeira linha de biodefensivo que não requer refrigeração e tem vida útil de dois anos”, diz Chacon Filho ao NeoFeed, comparando com as do mercado que chegam a um ano de vida e defendendo que esse é o maior trunfo para ganhar um mercado estimado em US$ 13 bilhões no Brasil. O dinheiro do private equity da XP vai ajudar a acelerar esse processo e a reforçar o capital da companhia.

No fim do ano, a Superbac deve lançar essa linha de biodefensivos agrícolas com 15 produtos. “Enxergamos uma oportunidade enorme onde aliamos um negócio com forte impacto de ESG e que conseguimos monetizar”, diz Chu Kong, head do fundo de Private Equity da XP Asset.

Esse é o terceiro investimento do segundo fundo de private equity da XP, que levantou R$ 1,67 bilhão em março. Desde então, o fundo investiu um total de R$ 850 milhões em companhias como a rede de clínicas de reprodução assistida Fertility, a holding de saúde JL Health e agora na Superbac.

A companhia seria investida por um Spac da XP, mas acabou entrando na mira do fundo de private equity e a meta é levá-la para uma abertura de capital na bolsa. “Esse mercado de biotecnologia é uma tendência mundial, vimos um grande espaço para ser aproveitado e poucos players com a capacidade da Superbac”, diz Guilherme Teixeira, sócio do XP Private Equity.

Fundada em 1995, a Superbac atua identificando e isolando bactérias no meio-ambiente. “Isolamos esses micro-organismos, fazemos o sequenciamento genético inteirinho e entendemos o que eles conseguem substituir”, diz Chacon Filho.

Na prática, substitui químicos por biotecnologia, aumentando a produção e regenerando o ambiente onde é aplicado. “Estamos na agricultura, no saneamento, biorremediação do solo, óleo e gás, e varejo”, diz Chacon Filho. Mas é na agricultura que está o maior negócio da companhia

Desde sua fundação, recebeu R$ 500 milhões em investimentos e tem em seu cap table o Temaseki e o family office da David Feffer. O agro representa 95% do faturamento de R$ 1,3 bilhão da empresa. Isso só foi possível depois que a empresa elegeu o segmento como sua principal vertical.

O parque industrial da Superbac em Mandaguari, no Paraná

A biotecnologia pode ser usada praticamente em qualquer área, mas, sem foco, o esforço da empresa ficava disperso. “Em cinco anos, fomos de R$ 25 milhões de faturamento para quase R$ 1,3 bilhão por ter focado no agro”, diz Chacon Filho. E sua biofábrica tem capacidade instalada com potencial de entregar R$ 20 bilhões de receita.

No segmento, a empresa produz os chamados biofertilizantes. “Substituímos metade do NPK que o agricultor utiliza na plantação”, diz Chacon. O NPK é Nitrogêncio, Fósforo e Potássio, que é o fertilizante tradicional usado no mundo inteiro, do qual o Brasil depende da importação de 90% do insumo.

Chacon explica que, se um agricultor aplica 400 quilos de NPK por hectare, com a tecnologia da Superbac, ele aplica só 200. “Os outros 200 quilos são do nosso produto. No final do processo, o agricultor coloca 30% a mais de lucro no bolso, regenera o solo para as próximas gerações e emite dez vezes menos gases na atmosfera para produzir a mesma tonelada de soja”, afirma ele.

Na área de óleo e gás, a companhia utiliza blends de bactérias para tratar a água usada na extração de petróleo. Em biorremediação do solo, por exemplo, a Superbac retira uma amostra do solo, entende os componentes que estão contaminando, desenvolve um blend exclusivo e aplica na área.

Para desenvolver esses produtos, a empresa precisa de dinheiro, é claro, para ter capital intelectual. Dos seus 500 funcionários, 140 estão em pesquisa e desenvolvimento e, desse montante, 70 são cientistas. A companhia conta com 100 mil bactérias catalogadas e 5 mil já foram isoladas.

Isso significa que a empresa sabe o sequenciamento genético de cada uma delas, o que é preciso ser feito para crescer em um reator e quais consegue combinar para substituir um determinado processo da indústria. Tudo isso é realizado em um centro de pesquisa, fazenda experimental e uma biofábrica no Paraná, na cidade de Mandaguari.

Ali, a empresa ergueu um dos maiores parques industriais de biotecnologia da América Latina. A área foi construída no fim de 2021 e consumiu R$ 100 milhões em investimentos. Não conhecemos nem 1% da biodiversidade que o Brasil tem – tanto no solo como nas profundezas.

A linha de biodefensivos da companhia, retratada no início dessa reportagem, é um bom exemplo disso. A Superbac se deparou com essa bactéria porque estava trabalhando no setor de óleo e gás, mas, ao acrescentar esse micro-organismo em sua base, em seu software proprietário, identificou que ele teria uma eficiência maior para um biodefensivo.

Quando começou suas pesquisas, há 28 anos, a companhia isolava seis bactérias por ano. Hoje, são duas mil por semestre e, no ano que vem, deve alcançar 10 mil bactérias por ano. “Estamos ganhando escala e ficando cada vez mais inteligentes para substituir processos.” Atualmente, 100% do tratamento de esgoto de Jerusalém, em Israel, é feito com os blends da Superbac.

Outro projeto que está em fase de testes é com a Petrobras. Em toda plataforma de petróleo, que fica a quilômetros da costa, o processo de extração de óleo é complexo. É necessário injetar água para fazer pressão e subir o óleo. Acontece que a água fica saturada de hidrocarbonetos. As plataformas acondicionam essa água em tanques, navios pegam esses tanques e levam para o continente para tratar, pois não pode ser jogada no mar.

Há quatro anos, a companhia vem desenvolvendo um blend que é injetado diretamente no tanque. Em oito horas, explica Chacon, ele deixa a água pronta para ser despejada no mar sem dano ambiental. Fora isso, reduz o gasto com o transbordo da água que seria levada ao continente para ser tratada.

Além de se deparar com bactérias em seus campos de atuação, a empresa também organiza expedições da Amazônia ao sul do País, colhendo amostras. “Na Mata Atlântica tem mais biodiversidade do que em toda a Europa”, diz Chacon. E complementa. “A genialidade desse negócio é a gente ter a humildade de aprender com a natureza e replicar o que a natureza faz.”