A brasileira Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank ao lado do colombiano David Vélez e do americano Edward Wible, tem desembarcado com frequência nos aeroportos internacionais Benito Juárez, na Cidade do México, e El Dorado, em Bogotá.

É fácil de entender a frequência de Junqueira nesses dois aeroportos. É nesses dois países da América Latina que estão sendo dados os primeiros passos da ambição global do Nubank, comandada pela empreendedora que, desde meados de 2022, assumiu a cadeira de Chief Growth Officer.

“O México é a prioridade número um”, afirma Junqueira, em entrevista ao NeoFeed, em que detalha os planos internacionais do Nubank, um movimento estratégico do banco digital que foi fundado no Brasil em 2013 para ofertar um cartão de crédito roxo e que, hoje, tem desde investimentos até seguro e crédito.

Desde o desembarque no México, em 2019, o Nubank já conquistou mais de 5,5 milhões de clientes e se tornou o quinto maior emissor de cartões no País. Também ultrapassou US$ 1 bilhão em depósitos na Cuenta Nu. “Estamos com excesso de funding no México”, diz Junqueira.

Nos últimos cinco anos, o Nubank investiu mais de US$ 1,4 bilhão para colocar a operação mexicana de pé. Há um mês, um novo aporte de US$ 100 milhões foi feito no México, a segunda maior economia da América Latina e que está crescendo a uma taxa acima de 3% por dois anos consecutivos.

Agora, o Nubank se prepara para oferecer ainda mais ferramentas para os correntistas mexicanos – principalmente para a concessão de crédito. Um exemplo neste sentido foi um produto de empréstimo pessoal lançado no fim do ano passado.

“Estamos expandindo o portfólio de produtos. No fim do ano passado, começamos a trabalhar com empréstimos, lançamos a conta e agora estamos escalando. Em 2025, vamos escalar a carteira de crédito”, afirma Junqueira. “Não dá para pular etapas."

Há desafios para fazer isso. Um deles vem sendo o processo para a obtenção da licença bancária no país, algo que pode levar até 24 meses. Atualmente, o Nubank opera no México sob a licença de Sociedad Financiera Popular (SOFIPO) em nível 1.

Nessa licença, que exige menos capital, o Nubank pode oferecer a maioria dos serviços bancários, como recebimento de depósitos, emissão de cartões, empréstimos, entre outros.

Mas com a licença bancária, o Nubank poderá oferecer muitos mais serviços, incluindo investimentos, portabilidade de salário, empréstimos para automóveis e hipotecas de alto valor, assim como produtos voltados para pequenas e médias empresas (PMEs).

O Nubank terá também, com a licença bancária, acesso a um nível mais elevado do seguro, que protege os depósitos dos clientes. Sob a licença SOFIPO, os depósitos têm garantia de até US$ 12 mil por cliente. Os bancos comerciais, por sua vez, têm depósitos garantidos até US$ 194 mil por cliente.

Outra frente importante são as parcerias para aumentar a penetração no mercado mexicano. Em março, o Nubank firmou um acordo com a plataforma de pagamentos Arcus, que pertence à Mastercard. A parceria permite que os correntistas no México possam depositar e sacar dinheiro em redes de varejistas parceiras da plataforma.

Uma dessas parceiras é a rede de supermercados Soriana, que tem mais de 700 estabelecimentos em solo mexicano. Os clientes da Cuenta Nu podem depositar até 5 mil pesos mexicanos (cerca de R$ 1,5 mil) por transação e a operação é feita diretamente nos caixas dos supermercados. Mais dois parceiros deste tipo devem ser anunciados em breve.

Ter mais parceiros é fundamental para a expansão no México, um país onde o dinheiro físico ainda é predominante. Um relatório do Bradesco BBI, na época do acordo da Soriana, considerou o acordo “ligeiramente negativo”, por conta da baixa penetração da Soriana – o banco especulava parcerias com Oxxo ou Walmex, redes maiores.

No caso da maturidade do consumidor mexicano, há uma boa e uma má notícia, segundo um relatório do Bank of America (BofA) publicado na quarta-feira, 24 de abril.

A boa: os neobanks já são utilizados por 15% da população, o mesmo percentual registrado no Brasil em 2018. São 19 milhões de usuários ativos mensais (MAUs, na sigla em inglês). O Nubank responde por 4,4 milhões, enquanto o Mercado Pago está na liderança com 6,6 milhões de MAUs. PayPal (3,4 milhões), Spin (1,2 milhão) e Hey Blanco (1 milhão) aparecem na sequência.

A notícia nem tão positiva para o Nubank é que, apesar da penetração ainda ser baixa, “o crescimento dos neobanks no México parece não arrancar”. As taxas mensais de download crescem entre 10% e 30% ao ano. No Brasil, o ritmo de crescimento entre 2018 e 2020 atingiu percentuais entre 90% e 160%.

O Nubank vai também precisar se adaptar ao “jeitinho mexicano” de usar o cartão. “Enquanto o uso de cartão de crédito no Brasil se inclina para transações, no México o comportamento rotativo é mais comum, necessitando de abordagens personalizadas para algoritmos e decisões”, aponta o BTG Pactual, em relatório de 18 de abril.

Tacos y... Arepas

Apesar de o México ser a prioridade, o Nubank não deixou a Colômbia de lado. Mas está encontrando mais dificuldades para escalar seu negócio no País, onde opera somente com sua tarjeta morado desde 2020.

Um dos desafios é macroeconômico. “A economia lá não está bem”, diz Junqueira. No ano passado, o PIB colombiano cresceu 0,6%, segundo dados do Departamento Administrativo Nacional de Estatística. A expectativa era de avanço em torno de 1%.

A cofundadora do Nubank cita também restrições estruturais para operar no país. Entre elas, uma rigorosa lei de usura (instrumento legislativo que limita taxas de juros). “A lei limita as taxas para um patamar que, em um país em desenvolvimento, é muito baixo. Quase inviável”, afirma. “Isso faz com que operar lá seja mais difícil.”

Apesar do cenário mais adverso, o Nubank está trabalhando para crescer na Colômbia. O banco pretende lançar a Cuenta Nu no país ainda este ano. Mais de 400 mil pessoas estão na fila de espera. Um produto semelhante ao Caixinhas, uma ferramenta para guardar dinheiro conforme objetivos do cliente e que rende 100% do CDI no Brasil, também está no roadmap.

“Não é que a Colômbia esteja parada esperando a vez deles. Já houve autorização lá para operar como instituição financeira e vamos lançar o produto de conta”, afirma Junqueira. “O foco deste ano não é lá, mas tudo que estamos fazendo no México vai beneficiar a operação na Colômbia.”

No começo deste mês, o Nubank levantou uma dívida de US$ 150 milhões junto à International Development Finance Corporation. No ano passado, o banco havia contraído um empréstimo de US$ 265 milhões com a International Finance Corporation, do Banco Mundial, também para a Colômbia.

Para pagar esses empréstimos, o plano é gerar dinheiro com a operação fora do Brasil. Mas não há previsão para breakeven. “É uma consequência natural do negócio, como foi no Brasil”, diz Junqueira. “Estamos fazendo o mesmo que fizemos há dez anos. O modelo de negócio não muda.”

No total, o Nubank já investiu mais de US$ 330 milhões no país e a estimativa é aportar ainda mais US$ 170 milhões. Para efeito de comparação, a cifra representa pouco mais de um terço do valor que já foi aportado no México. A chegada em outros mercados está descartada pelo menos até 2026.

“Os principais desafios do Nubank estão atrelados ao nível de bancarização da população nos dois países e à captação de recursos nessas economias”, diz Matheus Nascimento, analista da Levante, que cita que o banco ainda “é novo” e está brigando pela principalidade.

Avaliado em US$ 52,3 bilhões, o Nubank reportou no ano passado o seu primeiro lucro anual, de US$ 1 bilhão, contra um prejuízo de US$ 9,1 milhões registrado em 2022.

Na bolsa de valores de Nova York, as ações da Nu Holdings acumulam alta de 33,7% desde o começo do ano. Os papéis encerraram o pregão de quinta-feira, 25 de abril, negociados a US$ 10,87. No IPO, em dezembro de 2021, foi oferecido por US$ 9.

E o Brasil?

Enquanto foca suas atenções na expansão internacional, o Nubank quer intensificar a oferta de serviços em sua terra natal. Junqueira afirma que nos últimos anos o banco digital fez um esforço para a integração dos serviços oferecidos pela Easynvest – comprada em 2020.

“O trabalho todo tem sido de trazer tudo de lá para dentro de casa”, afirma Junqueira. Essa transição envolve também a integração do aplicativo NuInvest para a plataforma principal da Nubank. A ideia é ter apenas um aplicativo do banco.

Em relação aos novos serviços, os lançamentos no Brasil devem ser voltados para o público de alta renda, atendido pela marca Ultravioleta. Junqueira não deu detalhes, mas disse que são produtos de investimentos. “O jogo começa agora”, afirma.