O Nubank deve anunciar ainda hoje a compra da Easynvest, numa grande tacada que marca a sua entrada no disputado mercado de plataforma de investimentos no Brasil. O NeoFeed confirmou com duas fontes que acompanharam o processo que o contrato foi assinado na noite de ontem.
Com o negócio, o Nubank vai trazer para dentro de casa uma operação com 1,5 milhão de clientes e cerca de R$ 23 bilhões sob custódia. E, num único lance, fará frente as grandes empresas do setor como a XP, que reina absoluta nesse mercado com 2,3 milhões de clientes e R$ 460 bilhões sob custódia.
A lógica por trás disso é simples. Ao incorporar a Easynvest, o banco fundado em 2013 por David Vélez, Edward Wible e Cristina Junqueira, poderá plugar sua base de 26 milhões de clientes na plataforma da Easynvest e, assim, fazer com que o negócio de investimentos ganhe tração.
A notícia de que a Easynvest estava procurando um modo de ganhar escala com um parceiro não é nova. Em junho, a Broadcast, do jornal O Estado de São Paulo, revelou que a empresa havia contratado o banco americano J.P. Morgan para achar um interessado no negócio.
Na semana passada, a coluna Radar Econômico, da revista Veja, publicou em primeira mão a informação que o Nubank estava próximo de fechar o negócio. E dizia que seria feita uma troca de ações entre as duas empresas.
A Easynvest, por enquanto, deverá continuar funcionando de forma independente. O negócio ainda deve passar pelo crivo do Banco Central (BC) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), mas não deve sofrer objeções. Afinal, não haveria concentração e nem sobreposição. O Nubank está, praticamente, comprando o seu passe para esse mercado.
Trata-se de um negócio que complementa a sua estratégia de fechar todo um ecossistema. A empresa começou com cartão de crédito, criou uma conta corrente, passou a dar crédito e a oferecer investimentos mais básicos e agora entra com força nessa disputa das plataformas abertas.
No primeiro semestre deste ano, o Nubank apresentou um prejuízo de R$ 95 milhões, 32% melhor do que em relação ao mesmo período do ano passado. O seu caixa atingiu R$ 19,9 bilhões, 48% a mais do que no primeiro semestre do ano passado. Já a suas receitas com intermediação financeira dobraram para um patamar de R$ 2,07 bilhões.
Apesar das constantes críticas de não apresentar o balanço no azul, o Nubank está muito capitalizado. De acordo com o Crunchbase, a fintech já recebeu US$ 820 milhões desde a sua fundação em uma pequena casa no bairro do Brooklin, em São Paulo.
Em julho do ano passado, recebeu um aporte de US$ 400 milhões, liderado pelo fundo TCV, que a avaliou em US$ 10 bilhões. Em junho deste ano, recebeu mais um aporte de US$ 300 milhões de fundos como Sequoia, Kaszek Ventures e Ribbit Capital.
E foi neste ano que a empresa passou a fazer as suas principais aquisições. Em janeiro, comprou a empresa brasileira de software Plataformatec. Em junho, adquiriu a americana Cognitec, criadora da linguagem de programação Clojure usada pelo próprio banco. A Easynvest, portanto, é a terceira da lista.
Uma empresa pronta para disputar um mercado em plena ebulição diante da taxa básica de juro a um patamar de 2%. A XP, por exemplo, tem trazido uma média de R$ 10 bilhões por mês para a sua plataforma. O BTG Pactual está avançando no segmento, trazendo escritórios de agentes autônomos.
O Safra é outro player que está tentando abocanhar uma fatia desse mercado. E, em junho, o Credit Suisse comprou 35% do Modalmais, avaliando a operação, segundo estimativas do mercado, em R$ 5 bilhões.
Os bancos digitais e fintechs também estão fortalecendo suas áreas de investimentos. O Banco Inter, com a plataforma PAI, conta com R$ 20,5 bilhões sob custódia. O Neon, que recentemente recebeu um aporte de R$ 1,6 bilhão, comprou a corretora Magliano, em julho, para turbinar sua área de investimentos. A Avenue Securities, fintech que atua no mercado internacional, adquiriu, em agosto, a corretora Coin DTVM para disputar no mercado brasileiro.
Os grandes bancos, por sua vez, têm agido com mais agressividade para barrar o avanço das plataformas e dos bancos digitais e trazer dinheiro novo para suas operações. O Bradesco tem trabalhado com a Ágora e o Itaú passou a adotar uma postura de ataque ao confrontar a XP para evidenciar o Itaú Personnalité. O Santander, com a plataforma Pi, tenta ainda decolar.
De acordo com um estudo da consultoria Oliver Wyman, apresentado no prospecto de abertura de capital da XP, no fim do ano passado, 93% dos R$ 8,6 trilhões em recursos investidos por brasileiros estão nas mãos dos cinco grandes bancos (Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Santanter e Caixa).
Estima-se que, em 2024, serão R$ 14 trilhões em recursos e, deste total, 25% estarão nas mãos de plataformas abertas e corretoras. Detalhe: ainda é pouco. Nos Estados Unidos, 92% dos investimentos estão fora dos bancos.
A XP, que curiosamente está montando seu banco, sempre foi considerada a empresa mais combativa nessa área. Agora, vai encontrar uma outra companhia da nova economia, igualmente aguerrida contra os grandes bancos, no mesmo campo de batalha.
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