Depois de revolucionar o mercado de cartões e de ter partido para a abertura de contas pessoa física e jurídica, em 2019, o Nubank entrou no mercado que faz, de fato, os ponteiros mexerem em um banco: o crédito pessoal. E o ano de testes, enfim, acabou. Agora, diz o cofundador e CEO do Nubank, David Vélez, é para valer. “O crédito pessoal é estratégico para o nosso negócio”, afirma ele.

Vélez revelou com exclusividade ao NeoFeed que, nos últimos 12 meses, a carteira de empréstimo já atingiu R$ 328 milhões. Disponível para 2,5 milhões de clientes de sua base, o Nubank emprestou, em média, R$ 4 mil por cliente a taxas que, atualmente, variam entre 1,5% e 6% ao mês.

O objetivo é entrar na guerra com os grandes bancos. “É o produto ideal para entrar nessa batalha de trazer juros menores”, diz Vélez. Mas não é uma batalha fácil. Primeiro porque os grandes do setor têm um nível de informação sobre os clientes que é muito mais apurado do que o de qualquer fintech.

O segundo motivo é porque eles têm mais funding. “Nosso funding é mais caro, temos essa desvantagem, mas temos ciência de dados e não contamos com agências físicas, o que nos dá eficiência operacional”, diz Velez.

Para brigar em pé de igualdade com os grandes bancos nesse segmento, o Nubank terá de pedalar bastante. A carteira da fintech ainda é vista como uma gota no oceano. Segundo a mais recente nota divulgada pelo Banco Central, o estoque total de crédito pessoal no País, em janeiro, estava em R$ 532,02 bilhões.

Do total, R$ 388,66 bilhões na modalidade de crédito consignado e outros R$ 134,36 bilhões em não consignado. Levando-se em conta as duas vertentes, a taxa média de juros foi de 39,3% ao ano.

Em linha com o cenário observado em outros segmentos, a oferta de crédito ainda é extremamente concentrada nos cinco grandes bancos do País. Dados do BC mostram que, em 2018, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander, representaram 74,9% do volume tomado no mercado naquele ano.

O índice em questão vem apresentando uma leve tendência de queda nos últimos anos. Em 2017, essa participação era de 76,02%. Um ano antes, de 76,85%. “O crédito segue sendo como uma das principais fontes de receita dos bancos”, diz Sergio Tavares, sócio e fundador da consultoria financeira STavares.

Ele ressalta, entretanto, que, por mais que a taxa básica de juros venha em uma trajetória consistente de queda, esse recuo não se reflete nos índices cobrados por essas instituições financeiras.

“O spread ainda é muito alto e o crédito segue caro”, diz. Tavares entende, porém, que o avanço dos bancos digitais e fintechs no segmento deve provocar uma readequação desse contexto no médio prazo.

Fintechs como Creditas e Banco Inter têm trabalhado com o chamado crédito com garantia de imóvel e até de carro, o que tem feito os juros caírem. No crédito pessoal, é outra história. “Para oferecer crédito sem garantia é mais complexo, precisa de tempo e experiência para desenvolver essa musculatura”, diz Vélez.

Nesse cenário, o Nubank começou a oferecer crédito para clientes que levam portabilidade da conta salário para o banco. “Começamos como um teste e já temos dezenas de milhares de clientes nesse perfil”, diz Vélez. A estratégia é ganhar mercado em todas as frentes.

Outros segmentos

Atualmente, o Nubank, fundado em 2013, avaliado em US$ 10 bilhões e com presença no México e Argentina, conta com cerca de dois milhões de clientes que ganham até um salário mínimo, e está começando a oferecer cartões de crédito com um limite muito baixo para ir aumentando aos poucos.

São produtos desenhados para desbancarizados. Começa com limite de R$ 50 e, depois de três meses, passa para R$ 400. “É uma maneira de criar um histórico creditício positivo do cliente.”

Outra parcela de clientes que está ganhando força dentro do escopo do banco, diz Vélez, é a dos que têm mais de 55 anos. Já são mais de 1 milhão de pessoas que se encaixam nesse perfil.

“Temos 12 milhões de clientes com o nosso cartão de crédito e 17 milhões de clientes cadastrados na NuConta. No total, contamos com 21 milhões de clientes individuais”, afirma Vélez, com o dado mais fresquinho.

A meta do Nubank é chegar a um total de 30 milhões de clientes até o fim do ano. Para isso, a empresa vem sacrificando seus resultados. No ano passado, por exemplo, teve um prejuízo de R$ 313 milhões. É o preço que tem pago para aumentar a sua base.

Há quem enxergue esse movimento com descrença. “Eles aumentam a base, mas não dizem quantos clientes são ativos”, diz um executivo de um banco rival. “Só aumentar a base não traz resultado”, afirma.

A estratégia de Vélez, entretanto, é aproveitar esse batalhão de clientes para oferecer mais serviços. Indagado se criaria, por exemplo, uma plataforma de investimentos, ele responde com a seguinte frase.

“Temos uma grande oportunidade de criar um vínculo maior com os clientes”, afirma. E finaliza. “Os nossos clientes têm de ter tudo com o Nubank.”

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