Nova York - Mesmo sem correr há três dias, a adrenalina de Guilherme Benchimol estava alta. É que, na última semana, a rotina do empresário foi uma verdadeira maratona de reuniões, que culminou com a abertura de capital da XP, nesta quarta-feira, 11 de dezembro, na Nasdaq, a bolsa eletrônica americana.

As ações, que saíram por US$ 27, subiram para US$ 32,75 assim que começaram a ser negociadas. No fim do dia, os papéis encerraram o primeiro dia na Nasdaq cotadas a US$ 34,46, uma alta de 27,63%. O valor de mercado atingiu US$ 19 bilhões.

Mais de 200 pessoas acompanharam cada etapa da cerimônia de abertura, que começou às 8 horas da manhã no horário de Nova York, no décimo andar do prédio da Nasdaq, em Manhattan.

Devidamente "uniformizados" com camisetas pretas customizadas e jaquetas com o logo da XP, os presentes se comportavam como uma verdadeira torcida de futebol, puxando coro e vibrando a cada anúncio.

Fundador e CEO da XP, Benchimol se mostrou emocionado desde o começo. As lágrimas chegaram logo no primeiro discurso, quando agradeceu aos sócios e familiares e relembrou a trajetória que parecia improvável.

"Ele é um homem sensível, mas não chora com facilidade. Foi às lágrimas nos nascimentos das filhas, e esse momento é, de certa forma, como a chegada de mais um rebento", disse ao NeoFeed Ana Clara Benchimol, esposa de Guilherme.  

Ana Clara foi também uma das fundadoras da XP, mas se afastou dos negócios depois do nascimento da segunda filha, hoje com 8 anos. Além desta, Guilherme e Ana têm outras duas meninas – de 10 anos e 1 ano de idade. Todas elas acompanharam de perto a chegada dessa nova fase da empresa do pai, que distribuía abraços, e posava para fotos com a multidão que tomava conta da Nasdaq.

Internamente, os funcionários da bolsa comentavam entre si que aquela animação toda era coisa rara. No estúdio onde acontece a "cerimônia do sino", metade dos participantes teve de ficar de fora – e os que entraram ocuparam cada centímetro de espaço disponível.

Celulares estavam por todos os lados, garantindo fotos e vídeos dos múltiplos ângulos da felicidade de Benchimol e seus companheiros, justificada pelo fato de o IPO da XP ser o maior de uma empresa brasileira na bolsa americana. O recorde, contudo, não tirou o foco de Benchimol.

"Combinei com os meus sócios, desde o começo, que não olharíamos o preço das ações", disse ele, aos jornalistas que estavam presentes no pregão de estreia da XP na Nasdaq. "Nossa missão é garantir que cada vertical da empresa seja rentável e o valor dos papéis não faz a empresa ser melhor."

Sem comentar em quantas vezes o booking foi superado, o empresário carioca revelou o que ele acredita ter motivado o interesse dos investidores na XP. "No IPO, demos um guidance de médio prazo, de três a cinco anos, de receita igual ou superior a 35% e margem líquida entre 18% e 22%", afirmou Benchimol.

O otimismo em relação a esse futuro de curto e médio prazo vem embalado por números sólidos. "Nos últimos três anos, nossa receita cresceu, em média, 56% ao ano, e nosso lucro líquido subiu 20% ao ano", afirma Benchimol. A XP chegará ao fim de 2019 com 1,5 milhão de clientes. 

Segundo o site Brazil Journal , veículos ligados a Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira foram alocados com 10% da oferta da XP. Depois do trio do 3G, a maior alocação foi para a Durable Capital Partners, gestora recém-fundada por Henry Ellenbogen.

Cerca de 25% da oferta teriam sido alocados para fundos brasileiros que têm negócios com a XP. Com isso, mais de 300 mil cotistas desse fundos passaram a ter participação indireta na XP.

Investimento no Brasil

A XP diz que vai investir os US$ 2,2 bilhões captados na abertura de capital no Brasil e que não tem planos de gastar os recursos em aquisições. "Nossa prioridade é crescer organicamente", afirma Benchimol.

Atualmente, a XP conta com 2,3 mil funcionários em 600 escritórios espalhados pelo Brasil. Em 2020, a estimativa é contar com 3 mil profissionais.

Benchimol acredita que a XP crescerá pelo menos 35% nos próximos três a cinco anos. Com isso, a XP deverá atingir R$ 1 trilhão de ativos sob custódia. Atualmente, ela conta com R$ 350 bilhões.

Benchimol acredita que a XP crescerá pelo menos 35% nos próximos três a cinco anos

Uma das alavancas do crescimento será o reforço da plataforma com soluções financeiras completas e assim convencer o investidor a "cortar o cordão umbilical com o banco", segundo Benchimol.

Neste sentido, a licença de banco múltiplo, recentemente concedida pelo Banco Central, vai ajudar nessa estratégia. A ideia é oferecer crédito barato e facilidades como cartão de crédito, câmbio e transferências.

Embora tenha um discurso pró-investidores brasileiros, Benchimol foi criticado por ter decidido abrir o capital da XP nos Estados Unidos. Ele explica os motivos dessa decisão. "Em Nova York é possível que, com 10% da companhia, você ainda detenha o controle", argumentou. 

O diretor executivo da XP, Gabriel Leal, explicou ao NeoFeed que a a XP optou pela Nasdaq porque a bolsa abarca as principais empresas de tecnologia. Leal, que esteve ao lado de Benchimol no encontro com os mais de 120 investidores durante o road show de uma semana, falou ainda que é impossível não se surpreender com uma resposta tão positiva dos investidores. 

Para comemorar o dia de triunfo na Nasdaq, os funcionários da XP seguem hoje à noite para acompanhar uma partida de basquete em Nova York, mas as festas, dizem, vai se estender até sábado. Depois, é dia de arregaçar as mangas e voltar à briga cotidiana para mostrar aos investidores de que fizeram a coisa certa ao apostarem na XP.

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