A pergunta central em todas as discussões de alocação dos investidores globais este ano é quando o Federal Reserve (Fed) começará a cortar a taxa de juros. A depender da resposta sobre o comportamento do juro mais alto dos últimos 16 anos no mercado americano, há um impacto relevante na alocação de investimentos pelo mundo.
Convidado do Wealth Point, Andrew Reider, CIO da WHG, disse no programa do NeoFeed que apesar das recentes preocupações com a inflação americana, os próximos dados apontarão para uma queda inflacionária que permitirá o corte de juros em junho. E ainda outros três cortes ao longo do ano.
“Os economistas acham que a taxa de juros neutra real é de, mais ou menos, 1%. Se a inflação estiver em 2,5%, isso exige um juro nominal de 3,5% e há espaço para três cortes de 50 bps [basis points]. Mas os dados precisam colaborar”, analisou Reider.
Mesmo ainda sendo tão incerto o que vai acontecer neste ano, os grandes investidores já estão se antecipando para uma questão ainda mais importante: quando os cortes começarem, onde eles vão parar?
Desde a crise financeira de 2008, o mundo desenvolvido se acostumou com taxas de juros baixíssimas e próximas de zero, ou até mesmo juros negativos. Essa realidade só mudou no pós-pandemia de Covid-19. Os juros podem voltar a zero ou essa realidade ficou para trás?
“O excepcional foi de 2009 a 2021. Nas últimas semanas, o mundo do juro negativo acabou com o Japão indo para zero. Na Europa, ele já está bem positivo e a impressão é que esse mundo de custo baixo acabou. Hoje acreditamos que os juros serão altos por mais tempo. E há muitas implicações disso, para começar, o investimento em renda fixa voltou”, diz o CIO da WHG.
Apesar de os bonds americanos estarem entregando bons rendimentos, com uma expectativa de que os juros reais podem ser permanentes, a bolsa não para de renovar recordes. Alguns veem uma bolha, mas o CIO da WHG vê mudanças estruturais.
“Não é a bolsa toda que está subindo, há um movimento localizado em grandes mudanças estruturais como inteligência artificial e near shoring. E há os vencedores e perdedores das grandes tendências. A porcentagem da bolsa que é composta de empresas que não tem lucro está praticamente no mínimo histórico, então, está muito diferente do que estava no final de 2021, em que tudo subia”.
E quem acha que essas grandes mudanças estão apenas nos EUA e é lá que se deve focar nos investimentos está perdendo oportunidades fantásticas. O principal índice europeu, Euro Stock, está subindo quase 12% no ano, mais que os principais índices americanos.
Empresas como Novo Nordisk, que faz o Ozempic, e a ASML, que é um líder de semicondutor no mundo tem puxado o índice. Assim como grandes nomes de eletrificação, outra grande tendencia do momento, como Schneider e Siemens.
“O ano começou de forma muito pessimista para a Europa, mas eu não apostaria contra o índice. Cada vez tem mostrado resultados mais consistentes e lá a política monetária está até mais definida. Estamos muito animados com as perspectivas por lá”, contou Reider.
Não há como falar de um portfólio global sem falar de Ásia. Na visão da WHG, a região é um case de crescimento e inovação que está muito subalocado no portfólio dos brasileiros - erroneamente.
É preciso olhar Taiwan, Coreia, Índia e diversas oportunidades. Mas se antes a região estava centrada na China, hoje o gigante enfrenta dificuldades com desaceleração econômica e uma disputa econômica com os EUA que não tornam simples a potência conseguir ser protagonista nas novas tendências como estava sendo nas últimas.
"A China está com medo da inflação e não quer dar estímulos para a economia. O que para o mundo é bom, mantém o preço das commodities mais baixo, mas para a China realmente é ruim. Além disso, tem todo essa parte de geopolítica com as multinacionais com medo de investir lá, os Estados Unidos segurando semicondutor de ponta ir para a China", disse Reider.