Quarta-feira, 1º de maio, é feriado pelo Dia do Trabalho, mas não para todo mundo. Agentes financeiros estarão em “vigília” porque a retomada dos negócios, na quinta-feira, poderá ocorrer sob novas sinalizações e mudança de humor no mercado internacional, a depender do posicionamento do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, sobre sua taxa de juro.

O resultado da reunião de dois dias, 30 de abril e 1º de maio, do comitê de mercado aberto do Fed – instância máxima de decisões de política monetária nos EUA – não reserva surpresa. Entretanto, não dá para dizer o mesmo das declarações do chairman Jerome Powell sabatinado em entrevista coletiva que ocorre, tradicionalmente, após o anúncio da taxa.

Está consolidada a expectativa de que o Fed manterá o juro no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano. Apesar do arrefecimento da atividade no primeiro trimestre – quando o PIB desacelerou a alta a 1,6%, ante 3,4% no quarto período de 2023 – o indicador de inflação, também no trimestre, saltou de 1,8% para 3,4%, desautorizando um relaxamento da política monetária.

Em dois anos, o BC americano elevou sua taxa ao maior nível em mais de duas décadas e uma desinflação bem-sucedida foi desencadeada. Contudo, sem garantir a convergência do indicador à meta de 2%, que o Fed diz perseguir a todo custo. Até por essa razão, a fala de Powell, na quarta-feira, desperta ansiedade entre operadores, gestores, economistas e governos.

As declarações mais recentes de Powell, reforçadas por outros membros do BC dos EUA, desmontaram projeções quanto a um corte iminente do juro e ampliaram apostas para o início do ciclo de baixa a partir de setembro.

A ferramenta FedWatch, que estima decisões do BC americano a partir do mercado futuro de títulos públicos, indica que a taxa básica poderá cair abaixo de 5%, ao intervalo de 4,50% a 4,75% em meados de 2025.

E taxas elevadas na maior economia do mundo e por um longo período têm consequências para além das fronteiras. Uma delas é o fortalecimento do dólar ante as demais moedas, pressionando índices de inflação. Outra, é dar suporte aos Treasuries em detrimento de títulos soberanos e corporativos, sobretudo, de mercados emergentes cujas moedas desvalorizam ante o dólar.

Esse é o caso da taxa de câmbio no Brasil. Aqui, o dólar foi alçado a R$ 5,00 de março para abril em reação ao aumento do risco geopolítico e à perspectiva de adiamento do alívio monetário pelo Fed. Rapidamente, porém, a moeda escalou até R$ 5,30 com a revisão das metas fiscais de 2025 e anos à frente – iniciativa que arranhou o arcabouço fiscal. Nos últimos dias, o real se fortaleceu ante o dólar, mas com fôlego duvidoso.

Sucessão no BC, um risco ascendente

A reunião de política monetária do Fed, a terceira deste ano, precede em uma semana o encontro do Copom. E dará mais elementos para que o Banco Central (BC) tome sua decisão sobre a taxa Selic. Tarefa complexa nesse momento de deterioração de expectativas inflacionárias por pressão cambial e redefinição da Selic para o encerramento do ciclo de corte.

As incertezas globais destacadas insistentemente por Roberto Campos Neto em eventos recentes minaram a perspectiva de queda da Selic em mais 0,50 ponto percentual na reunião do Copom em 7 e 8 de maio.

Redução de 0,50 ponto não é descartada. Mas o mercado está inclinado ao corte menor, de 0,25 ponto. Ganha musculatura a perspectiva de que a Selic cairá menos, de fato, a partir de junho. Nesse cenário, altamente influenciado pelo exterior, apostas apontam para taxa terminal entre 9,50% e 10% ao ano.

Entretanto, essas projeções não embutem eventual pressão do Palácio do Planalto por redução mais rápida do custo do dinheiro. Inclusive, trouxe alento a afirmação do presidente Lula em café da manhã com jornalistas, na terça-feira, 23 de abril, de que a indicação do sucessor de Campos Neto não deve ser antecipada. O mandato do presidente do BC expira em 31 de dezembro.

No encontro com jornalistas, Lula demonstrou ter confiança em crescimento econômico, neste ano, acima do esperado por economistas, apesar do BC. E o leve avanço da projeção mediana da Focus para o PIB, finalmente instalada no patamar de 2%, corroborou a expectativa ou torcida do presidente.

Grandes bancos preveem cerca de 2,3%. Mas essa estimativa está sujeita a ajustes condicionados, sobretudo, à restrição imposta pela política monetária.

A MacroSector Consultores, que vê Selic em queda de 0,50 ponto em maio seguida de corte mais lento até estacionar em 10% no fim do ano, alerta que o juro continuará bem restritivo num contexto de inflação pressionada.

Fabio Silveira, sócio-diretor da consultoria, aponta elevação do IPCA deste ano a 4%. A Focus crava 3,73%. Especialista em inflação e commodities, ele observa que “a pressão decorrerá de um recrudescimento altista dos preços internacionais de alimentos e combustíveis no segundo semestre”. E prevê inflação declinante a 3,6% em abril, elevando-se gradualmente a 4,3% entre julho e novembro, recuando a 4% somente em dezembro.

Com Selic final a 10%, como calcula a MacroSector, o juro real fechará 2024 em torno de 6,4%. Em 2025, a taxa deve declinar a 9% e o juro real a 4,9%. Menor que a deste ano, mas restritiva a ponto de aguçar expectativas com a transição de Campos Neto para um indicado mais afinado com o Planalto.

A sucessão no BC é um risco presente e ascendente, inclusive, na contagem regressiva para o Copom, de 7 e 8 de maio, quando serão divulgados dados do Caged e Pnad Contínua de março que ajudarão a mapear a atividade no 1º trimestre que, avaliam bancos e consultorias, foi mais positiva que o inicialmente esperado. No quarto trimestre de 2023, o Brasil cresceu zero.