Pop Art, arte abstrata e muito pink - isso anos antes da onda monocromática do rosa do fenômeno Barbiecore. Essa é a combinação que o grafiteiro Diogo Snow, brasileiro radicado no Canadá há 20 anos, usa para cativar sua audiência ─ e comercializar obras que vão de US$ 8.000 a US$ 30 mil.
Nascido e criado em Santo André (SP), com uma carreira construída em Toronto, Snow inaugurou nessa semana a sua primeira exposição em terras brasileiras. Para estrear na Ziv Gallery, localizada no Beco do Batman, passarela do grafite, na Vila Madalena, em São Paulo, o artista elaborou 16 telas inéditas.
As obras produzidas prestam homenagem a figuras como a cantora Anitta e a atriz Marilyn Monroe e fazem releituras de obras famosas, como Mona Lisa, além de resgatarem personagens como Batman e os Sete Anões da Branca de Neve.
“Essa primeira exposição no Brasil é a minha chance de celebrar as conquistas que fiz lá fora nos últimos anos”, diz Snow ao NeoFeed. “Decidi trazer telas que se conectam com o Brasil, como a da Anitta, mas também fiz alguns trabalhos de estilo abstrato.”
Tendo como assinatura uma crista moicana punk em rosa choque, as telas do artista fazem sucesso entre colecionadores e celebridades. Na seara dos famosos, os quadros de Snow estão nas paredes das casas de Drake, Neymar, Cleo Pires, e até mesmo no acervo do casal Hailey e Justin Bieber.
“Ao misturar pintura de aerosol, resina e finalização com pó de diamante, Snow cria uma estética que dialoga tanto com a linguagem das ruas quanto com a sofisticação dos grandes eventos internacionais de arte dos quais tem participado”, comenta Helder Kanamaru, fundador da ZIV Gallery.
A street art brasileira
Snow está construindo sua carreira em um cenário muito mais positivo para o grafite. Apesar de algumas galerias de arte mais vanguardistas já exibirem obras de grafiteiros na Nova York dos anos 1980 — como a famosa exposição que Basquiat fez na Annina Nosei em 1982 — no geral, sempre houve muita resistência com o estilo.
Mas aos poucos, a estética foi passando a fazer parte das feiras internacionais na mesma medida em que surgiram colecionadores especializados em grafite. Em 2008, por exemplo, a Tate Modern, de Londres, e a Fondation Cartier, em Paris, acolheram exposições de grafiteiros, contando inclusive com intervenções diretas na fachada desses museus.
Um dos maiores expoentes dessa consagração é Banksy, que impacta na cenário urbano e nas galerias. Uma réplica de sua tela do grafite “Garota com balão” foi vendida, em outubro de 2021, na Sotheby’s, por US$ 25,4 milhões - o maior valor já pago por um trabalho do grafiteiro.
Na cena da street art brasileira, o que não faltam são exemplos de sucesso. Artistas como Kobra e a dupla Osgêmeos gastaram anos para conquistar o prestígio das galerias mais famosas do mundo, mas hoje em dia vendem telas por até seis dígitos, em dólar.
A história de Diogo Snow com as latinhas de tinta começou adolescência, quando ele fazia grafites em paredes e muros de Santo André. Aos 20 anos, o artista foi para o Canadá e passou a trabalhar como servente em construção civil.
“Na época, meu sonho era ser músico. Eu trabalhava em obras, juntava dinheiro e tentava de tudo. Fui baterista de várias bandas, mas nunca consegui sobreviver só disso”, relembra.
Após dar muito “murro em ponta de faca”, Snow desistiu do sonho de ser músico quando seu primeiro filho estava prestes a nascer e, as responsabilidades, aumentaram. Para se consolar, Snow voltou a grafitar dentro de casa, um passatempo que o fazia se conectar consigo mesmo.
“Eu lembrei que quando era novo, grafitar era uma terapia que me tirava do mundo”, diz. “Pintei algumas telas e postei o resultado no meu Instagram. Como eu já tinha muito networking como músico, as pessoas começaram comprar”, explica o artista, que vendeu sua primeira tela sete anos atrás, por US$ 300.
Com o sucesso no Instagram, Snow começou a estudar mais sobre arte e virou um frequentador assíduo das galerias de Toronto. Quando a fama aumentou, ele passou a ser representado pela Petroff Gallery, uma das galerias canadenses que ele tinha batido na porta.
Logo na primeira exposição, o grafiteiro conseguiu vender 80% das telas. “Eu percebi que minha vida tinha mudado para sempre quando me dei conta que não precisava mais trabalhar com construção civil para sobreviver, porque eu ganhava bem mais com o grafite.”
Além da canadense Petroff Gallery e da paulistana Ziv Gallery, atualmente, Snow está em negociação com galerias dos Estados Unidos, Europa e Dubai para levar o seu trabalho a outros cantos do mundo.
Nas obras, a marca registrada do artista é a mistura das cores preto, branco e rosa, um estilo próprio criado durante a pandemia que Snow apelidou de “Pink Punk”. Ou seja, traços rebeldes, mas sempre em rosa choque.
No cenário nacional do grafite, a principal característica de Snow é a sua versatilidade. Ele é visto como um artista que não tem medo de arriscar e cujo trabalho dialoga com as galerias, com as ruas e com a moda.
“Cada artista tem sua marca. O Kobra se faz reconhecer pelas cores vivas e figuras realistas, Osgêmeos pelos bonecos amarelos que espalharam pelo mundo. A estética de Snow vem muito amparada nos tons de rosa resinados, naquilo que define como Pink Punk”, pontua o curador Kanamaru.
O processo criativo de Snow
Para pintar uma tela, Snow dedica em média 40 horas. Segundo ele, as inspirações que utiliza estão dia a dia. “Às vezes saio de casa sem a intenção de pintar, mas aí vejo algo interessante na rua e volto para casa com a roupa toda suja de tinta”, sorri. “Mas também acontece de eu ir para o ateliê e só assistir televisão. Nunca forço a criatividade de um jeito negativo.”
Depois que seu estilo “Pink Punk” foi adotado por personalidades, Snow criou moletons com suas estampas e lançou a ArtGang, uma marca de roupas com coleções autorais limitadas (e concorridas).
Snow também realiza colabs com diversas marcas de moda e, em 2020, se tornou colaborador da Bieber Industries, companhia do cantor Justin Bieber, onde desenvolve as peças gráficas.
À exemplo de outros artistas nacionais que gostam de grafitar para o público, ao ar livre, Snow coleciona algumas intervenções de impacto.
Ele já foi convidado a customizar o iate de um empresário brasileiro que reside em Miami, e também é reconhecido como o primeiro artista a pintar uma Ferrari utilizando tinta spray no Canadá.
Em 2021, no Art Basel Miami, Snow surpreendeu o público ao usar um guindaste para levantar um Lamborghini EVO1 e customizar o carro ao vivo. O carro foi posteriormente escaneado em 3D e vendido como NFT por US$ 500 mil.