O potencial e a escala embutidos na união de duas gigantes de medicina diagnóstica foi o mote da fusão entre o Fleury e o Hermes Pardini, anunciada no fim de 2022, no valor de R$ 2,5 bilhões. Para que essa tese pude ser testada faltava, porém, a aprovação regulatória do acordo, que veio em abril deste ano.
Agora, o mercado começa a ter mais visibilidade de fato sobre essa associação. A largada nessa direção foi dada na noite desta quinta-feira, 3 de agosto, com a divulgação do resultado do segundo trimestre do Fleury, bandeira que consolidou a operação combinada na B3.
O balanço é o primeiro a incorporar indicadores, de maio e junho, do Pardini. Excluindo despesas de R$ 65,5 milhões, restritas a esse trimestre e relacionadas à fusão, o lucro líquido teve um salto em base anual de 66,9%, para R$ 117,7 milhões. Já a receita líquida foi de R$ 1,65 bilhão, alta de 49,3%.
“Nós mudamos de patamar com o Pardini”, diz Jeane Tsutsui, CEO do Fleury, ao NeoFeed. “E, agora, temos toda uma governança muito estruturada para executar o plano que levamos um bom tempo preparando antes da aprovação do Cade e sem acesso aos números.”
Em abril, na sequência do aval do Cade e com mais conhecimento sobre o que tinha em mãos, o grupo revisou a projeção de captura de sinergias. Da estimativa inicial de um incremento no Ebitda entre R$ 160 milhões e R$ 190 milhões, em até três anos, para uma faixa de R$ 200 milhões a R$ 220 milhões.
Com esse prazo e essas cifras em mente, outro número, em particular, está diretamente conectado à estratégia desenhada pelo Fleury para dar velocidade à integração e lidar com o desafio de tornar essa projeção realidade. O grupo já tem um pacote de 60 iniciativas em curso e com cronogramas definidos.
Nesse processo, que conta com 70 profissionais diretamente envolvidos, cada passo é monitorado por sistemas e discutido semanalmente com as lideranças envolvidas, além de ser coordenado por Robson Miranda, nomeado diretor de integração, e reportado, em comitês, ao conselho de administração.
“Ainda é uma fase inicial, mas já estamos unindo, por exemplo, as estruturas de compras para capturar essas sinergias”, afirma Tsutsui. “E, como temos uma base em comum, começamos a negociar novas condições com planos de saúde, hospitais e outros fornecedores.”
Outro destino prioritário dessa integração é a logística. E, nessa ponta, novamente alguns números embalam o foco na área. Eles entram na conta da incorporação da Lab-to-lab, divisão B2B do Pardini que atende 7,3 mil laboratórios de terceiros, em cerca de 2,2 mil cidades do País.
Para coletar, processar e entregar os exames desses parceiros, o Pardini desenvolveu uma malha logística que, entre outros indicadores, inclui 390 rotas e um percurso diário, em média, de 93 mil quilômetros, além do uso de transportes e modais como barcos e até mesmo de drones.
Essa unidade inclui ainda 14 centros técnicos de processamento dos exames que, integrados a dez estruturas com a mesma finalidade do Fleury, vão dar mais capilaridade à operação B2B, que surge como uma das grandes vedetes da fusão.
“O fato de poder integrar essa malha, de ter mais áreas tecnológicas e de estar em todos os cantos do País vai dos dar competitividade para ganhar mais mercado”, diz a CEO.
Ela ressalta que, até então, a unidade correspondente no Fleury, mais restrita ao processamento em hospitais, contabilizava, um milhão de exames por ano. Já na divisão do Pardini, esse volume é de 111 milhões.
O maior peso que será dado ao B2B também é justificado pelos indicadores da operação do Pardini, que registrou um crescimento médio de 15,2% nos últimos cinco anos, com uma receita de R$ 1,3 bilhão em 2022. E que já está trazendo impactos positivos para a operação combinada nesse primeiro momento.
“A receita do B2B vai corresponder a cerca de 18% da receita total do grupo, em grande parte, impulsionada pela Lab2Lab”, afirma Tsutsui. “E uma vantagem é que ela não demanda muito investimento, pois já temos a estrutura. Vamos integrar as malhas e adicionar o portfólio do Fleury.”
De olho no cliente final
Os planos também passam pela área de medicina diagnóstica B2C, que, com a chegada do Pardini, adicionou 172 unidades e promoveu a entrada do Fleury em mercados como Goiás e Pará, além de ampliar sua presença em Minas Gerais, estado no qual a empresa havia entrado recentemente.
A companhia está em fase inicial de estudos para definir como as unidades do Pardini irão se encaixar numa equação que hoje inclui as marcas Fleury, centrada no segmento premium, além da a+ e da Campana, mais acessíveis.
“Agora, precisamos conhecer essa rede, até mesmo para definir os próximos passos na expansão orgânica”, conta a executiva. “Mas ela é importante nas negociações comerciais, pois essa capilaridade permite trazer mais volume e vidas nos contratos com as operadoras.”
Já no caso da marca Fleury, centrada no segmento premium, um dos nortes seguirá sendo o investimento nas reformas e ampliações de unidades. A ideia é ampliar a oferta de serviços e, por consequência, a receita por metro quadrado.
A inclusão de serviços da unidade de novos elos, que começou a ser desenvolvida nos últimos anos, a partir de aquisições, é uma das opções. Ela envolve áreas como infusão de medicamentos, ortopedia, e oftalmologia, e chegou a uma participação de 9,1% na receita bruta do grupo do trimestre.
No campo das aquisições, em que o Fleury contabilizou 16 acordos nos últimos cinco anos, o grupo seguirá adotando uma postura mais cautelosa, como já havia ressaltado no primeiro trimestre desse ano, dado o contexto macroeconômico na época.
“Mesmo com o início da queda dos juros, o ciclo será longo. Os preços dos ativos não caíram, assim como o custo do capital”, diz José Filippo, CFO do Fleury. “Seguimos com um pipeline ativo, mas esse cenário faz com que sejamos mais criteriosos e disciplinados na alocação de capital.”
Isso envolve a manutenção da alavancagem da operação em patamares menos elevados. O Fleury fechou o segundo trimestre com uma relação dívida líquida/Ebitda de 1,3 vezes, contra 1,8 vezes há um ano. No período, a dívida líquida cresceu 3,2%, para R$ 2,1 bilhões.
O Ebitda, excluindo as despesas com a fusão, foi de R$ 429,1 milhões, um crescimento de 44% sobre igual período, em 2022. Já a margem Ebitda ficou em 25,9%, contra 26,8%, na mesma base de comparação.
As ações do Fleury, que está avaliado em R$ 8,7 bilhões, fecharam o pregão dessa quinta-feira cotadas a R$ 16, alta de 1,33%. Os papéis registram uma valorização de 8,75% em 2023.