O chamado “inverno das startups” segue em vigor na indústria de venture capital. Mas há sinais de arrefecimento, em particular, no clima um pouco mais ameno dos investimentos no early stage. E há quem esteja disposto a dar sua contribuição para ajudar a elevar a temperatura nesse espaço.

É o caso da Verve Capital. Com atuação centrada nos estágios de pré-seed e seed, a gestora brasileira antecipou ao NeoFeed o início da captação de seu segundo fundo. O plano é levantar US$ 10 milhões para investir em um portfólio que vai abrigar entre 20 e 30 startups.

“Somos o primeiro cheque. Investimos no seed e podemos acompanhar até uma série A, mas o pré-seed é o nosso sweet spot”, diz Marcelo Franco, sócio da Verve Capital. “E, nesse cenário, entendemos que US$ 10 milhões é o tamanho do nosso sapato.”

No passo inicial dessa jornada, o primeiro fundo da Verve Capital foi fechado com uma captação de US$ 5 milhões. Desse montante, que resultou no investimento em 27 empresas, cerca de 70% dos recursos foram aportados pelo próprio Franco.

A fatia restante envolveu investidores pessoa física como Fernando Beyruti, sócio do Itaú Unibanco, ex-CEO do Banco nos Estados Unidos e atual head global do Itaú Private Bank; e Cacá Bueno, piloto da Stock Car e filho do narrador Galvão Bueno.

O fôlego de Franco para dar a largada no fundo um da Verve Capital tem origem em outro cheque. Em 2010, o grupo LVMH comprou a brasileira Sack’s, e-commerce de perfumes e cosméticos, em um acordo estimado, na época, na faixa de R$ 200 milhões a R$ 350 milhões.

Franco era um dos fundadores da plataforma. Capitalizado com o acordo, ele mudou para os Estados Unidos e enveredou pelo mundo do venture capital. Primeiro, como investidor-anjo. Entre um deal e outro, conheceu Gabriel Farme, que seguia a mesma toada. Juntos, eles fundaram a Verve, em 2021.

“O fundo 1 está indo bem e está marcando um retorno de quase quatro vezes”, observa Franco. “E ele serviu muito como um aprendizado, para validar e ajustar a nossa tese. Agora, sabemos o tamanho do cheque e do ownership que vamos buscar.”

Dentro desse realinhamento, a dupla entendeu que era necessário aumentar a participação detida nas investidas para evitar que suas fatias ficassem muito diluídas em rodadas posteriores. A gestora vai buscar participações entre 5% e 10%, contra, no máximo, 5% no primeiro fundo

“A ideia é construir uma fatia maior no começo e tentar acompanhar até uma série A”, diz Farme. Já os aportes sairão de uma média de US$ 250 mil a US$ 300 mil para a faixa de US$ 300 mil a US$ 500 mil.

Em relação às geografias, o fundo não trará alterações. O Brasil seguirá sendo a prioridade, concentrando cerca de 70% dos recursos. Os 30% restantes serão reservados a outros países da América Latina, com maior foco no México e na Colômbia.

O primeiro fundo inclui projetos locais como o fantasy game Rei do Pitaco e a plataforma de doações Ribon. Além de nomes como a Religion of Sports, startup americana de mídia que tem entre seus fundadores o quarterback Tom Brady.

Não há fronteiras definidas, porém, em relação aos segmentos no radar. Os sócios da Verve dizem ser agnósticos e adotam o discurso de que, nesse estágio, seja qual for o setor, o principal recorte é a demanda em comum dos empreendedores por uma atuação mais próxima dos investidores.

Há, no entanto, alguns espaços em que a gestora vê mais potencial. “No Brasil, fintech é indiscutível”, observa Farmes. “Mas também gostamos bastante do mercado de games e do segmento de retail techs, que passa por frentes como marketplaces B2B.”

Além do tamanho do mercado e da qualidade dos empreendedores, o fato de a startup já estar operacional, rodando um MVP (Minimum Viable Product) e ter uma base, mesmo que pequena, de usuários são outros critérios na mesa.

Captação

Com o plano de fechar a captação numa janela de seis meses a um ano, a Verve iniciou esse processo há duas semanas. E apesar do momento de menor liquidez, as primeiras respostas foram positivas, dado que os sócios dizem já ter commitments de cerca de 25% do capital.

“Estamos focando mais LPs (limited partners) e family offices do Brasil”, conta Franco. “Até mesmo porque esses investidores locais têm mais conhecimento sobre as jabuticabas do País e abrem portas e atalhos. Mas vamos acessar lá fora também.”

Apesar do feedback positivo na largada, Farme ressalta que ainda está difícil captar. “Por outro lado, está muito melhor para investir”, diz. “No boom de 2020 e 2021, não tínhamos nem tempo de conhecer direito o empreendedor.”

Franco acrescenta: “A expectativa em relação ao investidor mudou muito. Temos tempo de fazer as análises de forma correta e o empreendedor entendeu que precisa priorizar o tamanho da pista.”

Nesse contexto, mesmo com uma tração ainda menor frente aos 16 investimentos feitos em 2022, a Verve Capital está ativa. Enquanto estrutura o novo fundo, a gestora segue costurando club deals sempre que enxerga boas oportunidades.

A partir desse modelo, a empresa participou de três rodadas iniciais no ano. O pacote inclui a Hubi, de infraestrutura para o e-commerce; a Tipspace, plataforma para gamers; e uma terceira startup, também no mercado de games, cujo aporte ainda vai ser anunciado.