Os jovens João Moraes, Carlos Menezes e Rafael Rodeiro tinham pouco mais de 20 anos quando tiveram a ideia de criar um negócio de impacto social que facilitasse a doação de dinheiro para organizações de caridade. Por trás da iniciativa, a ideia era aproximar da filantropia a geração Z, pessoas que nasceram na metado de 1990 até o início de 2010.

Isso aconteceu em 2016 e resultou na Ribon, startup que cinco anos depois viria a ganhar os holofotes ao ser premiada como um dos dez projetos mais inovadores na área de filantropia pela Bill & Melinda Gates Foundation.

Agora, a companhia que já destinou quase R$ 1 milhão para projetos sociais dá um novo passo para popularizar a filantropia entre os jovens com um aporte de R$ 20 milhões, em rodada liderada pelo Valor Capital, que já investiu em Loft, Olist, Stone, entre outras. Outros fundos que participam da captação são Bitkraft, Kenetic e Flori Ventures, além da 2TM, holding que controla o Mercado Bitcoin.

O dinheiro será utilizado em três frentes. A prioridade é investir na criação de um protocolo em que a companhia vai operar por meio de um blockchain. A previsão é fazer isso já no segundo semestre deste ano.

O plano seguinte é o lançamento de um token digital, o que marcaria a entrada da Ribon nos criptoativos. Com o uso da nova tecnologia, a startup espera aumentar o número de doadores ativos mensalmente na sua plataforma. A meta é ampliar de 100 mil para 200 mil até o fim deste ano.

“O blockchain permite a criação do token e a entrada no mercado de criptoativos", diz Rafael Rodeiro, cofundador e CEO da Ribon. O executivo espera que isso gere um aumento no número de empresas parceiras da startup e, consequentemente, um alcance maior para encontrar novos doadores. “Em resumo, a gente cresce mais rápido estando em cripto.”

Uma terceira parte do dinheiro será reservada para que a empresa escale sua operação para o mercado internacional. A expectativa é de que o serviço passe a ser oferecido em mercados da Europa e nos Estados Unidos, mas ainda não há previsão exata de quando isso vai acontecer.

A captação é o primeiro grande cheque que a Ribon recebe. Antes, a companhia havia levantado cerca de US$ 1 milhão com investidores-anjo e em rodadas pré-seed e seed, segundo dados do Crunchbase. Entre os investidores anteriores estão Harvard Angels, Redpoint eventures e Verve Capital.

Ponte, voucher e token

Startups que organizam doações não são exatamente novas. A maior parte das empresas, no entanto, opera em um modelo de crowdfunding em que permite que uma campanha seja criada dentro de uma plataforma e arrecade fundos, como faz a plataforma Vakinha Online.

O método da Ribon, no entanto, vai além porque faz uma ponte entre organizações filantrópicas, empresas e doadores individuais.

Primeiro, a startup coleta doações de organizações e empresas privadas que, em vez de destinarem os cheques diretamente para as instituições de caridade, enviam para a Ribon. O montante obtido, então, é separado em vouchers com valores quase simbólicos. Entre as empresas que já doaram dinheiro estão Centauro, Klabin, TetraPak, entre outras.

João Moraes, Carlos Menezes e Rafael Rodeiro, cofundadores da Ribon

Os vouchers, então, são distribuídos para uma segunda leva de empresas. Neste caso, companhias que são parceiras da Ribon. São negócios menores, como Imaginarium, Tastemade, Qulture.Rocks, entre outros. As companhias destinam os vouchers recebidos para consumidores que fizeram compras em suas plataformas.

Os consumidores que detém os vouchers podem escolher para qual das causas sociais deseja doar o valor que consta no voucher. Há uma série de instituições disponíveis dentro da plataforma da Ribon. Entre elas: Instituto Dara, World Food Programme e Ação da Cidadania.

A Ribon sugere também que o dono do voucher doe mais recursos. Agora, porém, do próprio bolso. Isso permite que a startup consiga alavancar o valor das doações. Em média, a companhia afirma que as doações originais sofrem um acréscimo de 60% até 100% com a estratégia. “Muitos topam fazer isso e às vezes doam mais R$ 20 ou R$ 30”, diz Rodeiro.

O empreendedor explica ainda que para sustentar a operação, a Ribon retém uma parte do valor extra que foi arrecadado. O percentual gira entre 10% e 30% do montante adicional.

Com o incremento do blockchain e dos tokens, a startup vai permitir que seus parceiros possam também ganhar dinheiro com as doações. Isso porque uma vez que parte da receita extra obtida será transformada em tokens que ficarão com o parceiro comercial. Esse token terá valor sujeito à variação e poderá ser revendido no mercado secundário.

“A receita extra será utilizada para comprar tokens no mercado e distribuí-los para os dois lados”, afirma Rodeiro.  “Agora, essas empresas terão o incentivo de que podem também ganhar dinheiro em cima dos vouchers com os tokens.”