Depois de precatórios, recebíveis e consórcios, o Mercado Bitcoin (MB) está utilizando a tokenização para criar uma “bolsa de startups” que permite investimentos primários e secundários, dando liquidez à investidores-anjos e fundos de venture capital (VC).

O alvo é ajudar na captação de empresas que estão em late stage, de rodadas de série A para frente, em ofertas privadas, diferentemente do que faz a BEE4, que é regulada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e focada em pequenas e médias empresas e já fez quatro captações – a última delas foi a Eletron Energia.

A primeira experiência neste sentido aconteceu em março deste ano, quando a plataforma de ativos digitais concluiu a tokenização da participação do veículo de investimento Escala no Asaas, fintech catarinense que oferece serviços financeiros para pequenas e médias empresas.

O MB ajudou a Escala a estruturar e listar os tokens, numa operação que possibilitou, por um lado, a saída de alguns investidores do veículo que congrega diversos pequenos investidores que investem na Asaas desde 2013; e, por outro, a chegada de novos, vindo da base do MB.

A oferta, de cunho privado, totalizou R$ 29 milhões, com a reestruturação da posição da Escala, além de ter resultado numa injeção adicional de R$ 4,6 milhões à Asaas. No ano passado, a fintech levantou R$ 100 milhões em uma extensão de sua série B, que contou com a participação da Inovabra, gestora de venture capital do Bradesco, Parallax Ventures, do próprio Mercado Bitcoin, TM3 Capital, além da Escala.

“A gente sempre quis e pensou que as ferramentas e a tecnologia de tokenização serviriam muito bem para organizar o mercado de captação e para oferecer liquidez aos investidores nas startups”, diz Reinaldo Rabelo, CEO do MB, ao NeoFeed.

A operação é a primeira do segmento de oferta privada realizada pelo MB Startups, a unidade de tokenização e listagem de investimentos em startups do Mercado Bitcoin. Os tokens gerados na operação foram disponibilizados a um grupo de investidores qualificados dentro da plataforma do MB, que passaram a deter um token vinculado à participação na Asaas.

Antes da operação com a Asaas, o MB realizou a captação de R$ 10 milhões na startup de cibersegurança Pacific Sec, em junho do ano passado. A diferença é que foi uma oferta restrita, em que a operação já chegou fechada, com um investidor escolhido – no caso, o fundo da Gear Ventures, dos sócios do MB – sem ser aberto a terceiros.

No total, a MB Startups já realizou operações de investimentos, dado que inclui crowdfunding, que movimentaram R$ 46 milhões. O Mercado Bitcoin entende que existe um espaço para ampliar as possibilidades de captação para startups através de ativos tokenizados, algo que deve abrir uma concorrência direta com BEE4 e outras plataformas.

Rabelo diz que o MB começou a avaliar que existia uma forma de trabalhar temas de captação e liquidez nesse ecossistema quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) começou a discutir a regulamentação para crowdfunding, em 2020.

Reinaldo Rabelo, CEO do MB

Apesar de o mercado não ter se desenvolvido do jeito que se esperava, com poucas operações nessa frente, Rabelo diz que a companhia entendeu que as melhores possibilidades estavam nas negociações privadas, utilizando o ecossistema da companhia, ajudando na captação e trazendo investidores para essas operações, além da tokenização.

“Entendemos que o MB estava pronto para ajudar, tanto as startups quanto os investidores”, diz Rabelo. A experiência do MB com a oferta da Asaas deve ajudar a expandir o pipeline de operações de tokenização de participações de startups. Segundo apurou o NeoFeed, a Mercado Bitcoin está trabalhando com mais três casos, focando em empresas maduras.

Segundo Rabelo, existe demanda de fundadores e investidores que buscam liquidez de suas posições e não podem realizar operações secundárias, diante do risco de prejudicar o valuation. “Temos alguns casos de fundadores que têm direito de venda de parte da operação”, diz Rabelo. “E também alguns fundos, clubes de investimentos, family offices e gestoras que querem dar saída para uma parte dos ativos.”

Por não contar com autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para operações públicas, as ofertas serão realizadas para um grupo de investidores qualificados, dentro da plataforma do MB.

O investimento na frente de startups representa mais um esforço do MB de diversificar as atividades para além da atividade de corretagem de criptomoedas, que deram origem à companhia, em 2013.

Desde que foi pega pelo chamado “inverno cripto”, a empresa começou a agregar ativos, produtos e serviços da economia tradicional à prateleira de criptoativos. Entre as iniciativas está a criação da MB Tokens, em 2019, área que permite negociar ativos tokenizados com caraterísticas de renda fixa, e que já tokenizou mais de R$ 540 milhões.

O MB também criou um braço de gestão, em 2021, depois de fechar a aquisição da gestora de recursos catarinense ParMais. A MB Asset veio para incentivar que os clientes migrassem os investimentos que têm em outras plataformas para o MB. A gestora já conta com mais de R$ 1 bilhão sob gestão.

Em junho do ano passado, a empresa recebeu autorização do Banco Central (BC) para se tornar uma instituição de pagamento. Com isso, o Mercado Bitcoin lançou o MB Pay, um banco digital que nasceu com cerca de 4 milhões de clientes, segundo a companhia informou na ocasião.

O MB conta atualmente com, aproximadamente, 4 milhões de clientes e mais de R$ 50 bilhões em volume negociado na plataforma desde 2013. Em 2021, a empresa alcançou o status de unicórnio, quando recebeu um aporte de US$ 200 milhões do Softbank, atingindo um valuation de US$ 2,1 bilhões.