Empresa de projetos de eficiência energética, a paranaense Eletron Energia tocou o sino, há exatamente uma hora,  no pregão de abertura de negociação de suas ações, com um preço de abertura de R$ 33.

O caminho escolhido não foi, porém, um IPO tradicional na B3. A via alternativa foi a BEE4, mercado de negociação de ações tokenizadas regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e focado em pequenas e médias empresas, com faturamento anual entre R$ 10 milhões e R$ 300 milhões.

A Eletron é a quarta empresa listada na plataforma, lançada em setembro de 2022 e uma espécie de "divisão de acesso" do mercado de capitais. Com a estreia, a BEE4 inaugura sua temporada de listagens em 2024 e inicia uma agenda de consolidação do seu modelo, o que inclui o anúncio da XP, que originou essa operação, como seu mais novo consultor de listagem.

“Encaramos 2023 como um soft launch, pois precisávamos mostrar esse mercado funcionando. Agora, a expectativa é bem maior”, diz Patrícia Stille, cofundadora e CEO da BEE4, ao NeoFeed. “Nossa projeção é fazer 11 listagens em 2024 - ou um número menor, mas com operações maiores - e movimentar, no mínimo, R$ 500 milhões em ofertas.”

Pontapé dessa nova etapa, a Eletron Energia captou R$ 3,3 milhões em sua oferta na BEE4, ao atrair investidores com aportes de R$ 2 mil a mais de R$ 1 milhão. A empresa estreia as negociações na plataforma com um free float de 8,21%.

Fundada em 2015 e com um portfólio amplo de projetos de eficiência energética para empresas e indústrias, a companhia ilustra bem os pré-requisitos para uma listagem na BEE4. Entre outros pontos além do faturamento, a candidata precisa ser uma S/A e publicar balanços trimestrais e auditados.

Ter uma operação com taxas elevada de crescimento é outro componente importante. A Eletron, por exemplo, teve um salto de 550% em seu faturamento entre 2019 e 2023, de R$ 2,7 milhões para R$ 17,6 milhões.

“São empresas com massa crítica de resultados e que já passaram a arrebentação”, diz Stille. “A BEE4 fica entre as startups early stage e as empresas maduras. Entre esses dois mundos, há um grande volume de PMEs, com menor taxa de mortalidade, o que torna a relação risco retorno mais atrativa.”

Cofundador e chairman da BEE4, Rodrigo Fiszman acrescenta outros elementos para ressaltar o potencial embutido nessa equação. “Estamos falando de um universo, apenas nessa faixa de faturamento, de 350 mil empresas no Brasil. E que, até então, não tinham um mercado de acesso.”

Fiszman e Stille começaram a ter contato com essas histórias e identificaram essa lacuna quando ainda eram sócios da XP. E, agora, a chegada da empresa como consultor de listagem, por meio da XP Empresas, é vista como um combustível adicional para acelerar a expansão da plataforma.

Na prática, o papel do consultor de listagem se assemelha ao de um banco de investimento em um IPO tradicional, ao preparar e auxiliar as empresas em todo o processo de listagem. Ao mesmo tempo, esses advisors também atuam na originação de novas candidatas a uma oferta.

“Essa originação é um trabalho de longo prazo e a Eletron foi o primeiro caso concreto das conversas que já vínhamos mantendo com a XP”, diz Fiszman. “Estamos bastante animados com o potencial dessa parceria, pois a XP tem uma base de pequenas e médias empresas muito relevante.”

Além da XP, a BEE4 tem outros nove consultores de listagem já credenciados. A relação inclui nomes como a Auddas, butique especializada em M&As e reestruturação de empresas; a startup de auditoria Diligia e a corretora Genial Investimentos.

Da originação à distribuição

A Genial, por sua vez, também está envolvida em uma outra ponta onde a BEE4 enxerga boas perspectivas de avanço a partir desse ano: a distribuição das ofertas aos investidores. Em novembro, a empresa e o Itaú Unibanco foram anunciados como as duas primeiras corretoras a serem plugadas na plataforma.

Ainda em fase de integração das duas parceiras, a BEE4 entende que, com essa associação, terá muito mais fôlego e capacidade para alcançar mais clientes, em especial, as pessoas físicas, cujo acesso a outras opções de investimento em empresas desse porte é mais restrito.

“São duas corretoras com perfis bem diferentes e complementares”, observa Fiszman. “O Itaú vai iniciar essa integração com o segmento de private banking e a Genial, que tem mais de 1,3 milhão de clientes, está muito bem consolidada no varejo.”

Patrícia Stille e Rodrigo Fiszman, cofundadores da BEE4

Até aqui, a distribuição das ofertas foi feita pela Beegin, plataforma da Solum, grupo que também controla a BEE4. Com o canal, a operação chegou a 6 mil clientes cadastrados, boa parte deles investidores pessoa física, qualificados e de varejo.

Após a conclusão das ofertas iniciais, nas quais as empresas podem captar até R$ 100 milhões, as ações tokenizadas das companhias passam a ser negociadas em pregões semanais, realizados toda quarta-feira, das 12h às 20h, em uma medida adotada para concentrar as operações e a liquidez.

Com essa capacidade de distribuição limitada a Beegin na fase de soft launch, antes da Eletron, a BEE4 foi o palco dos IPOs da Engravida, rede de clínicas de reprodução assistida; da Mais Mu, de snacks saudáveis; e da Plamev Pet, de planos de saúde e assistência para pets.

Essas três ofertas somaram uma captação total próxima de R$ 27 milhões, além de movimentarem cerca de R$ 3,5 milhões nos mais de 70 pregões já realizados pela plataforma. Agora, os avanços da originação à distribuição ajudam a explicar a expectativa por um salto exponencial nesses números.

“Temos um pipeline de mais de 30 empresas em conversas, algumas já em set up para listagem”, diz Stille. Ela ressalta outras expectativas. “Com mais volume, as casas de research vão passar a cobrir os ativos e, quando chegarmos a 20, 25 listagens, nossa ideia é avançar para formação de um índice.”

No caminho para concretizar esses números, Fiszman observa que esse pipeline inclui setores variados, como educação, indústria, tecnologia e diversos segmentos do varejo. E reforça que a ampliação da distribuição está abrindo as portas para a possibilidades de cifras bem mais polpudas nas captações.

“A entrada do Itaú e da Genial muda, naturalmente, o perfil das companhias e das ofertas”, afirma. “O que temos visto nesse pipeline são empresas buscando de R$ 30 milhões a R$ 100 milhões de captação.”