O modelo de corporate venture capital (CVC) vem ganhando adeptos no Brasil nos últimos anos. Empresas como Lojas Renner, Braskem e VLI, que atuam em diferentes setores, lançaram seus próprios veículos para realizar investimentos diretos em startups. Nada disso, porém, tirou o protagonismo dos bancos nesta modalidade.
Um estudo realizado pela Sling Hub em conjunto com a EY e Alya Ventures, e obtido com exclusividade pelo NeoFeed, mostra que Bradesco, Banco BV e Banco do Brasil foram os maiores investidores em startups no Brasil através de seus fundos de corporate venture capital. Em 2022, os três bancos participarem de seis, cinco e quatro rodadas de investimento, respectivamente.
Além do trio, os bancos BTG Pactual e Goldman Sachs aparecem na sequência com três investimentos cada. O mesmo número de aportes foi feito também pela Vivo Ventures e pelos veículos de CVC do hospital Albert Einstein e da empresa farmacêutica Eurofarma.
“O setor financeiro brasileiro sempre investiu muito em novas tecnologias”, diz Cássio Spina, cofundador da Alya Ventures, que afirma que o Banco Central tem influência neste movimento. “Ao fomentar a inovação e mudar aspectos regulatórios para facilitar a entrada das fintechs no mercado, criou-se uma pressão para os bancos entrarem no jogo.”
Ainda que os bancos sejam os principais investidores de startups, há diferenças nos motivos que os levam a desembolsar capital em novas empresas. “São estratégias um pouco diferentes, mas em geral há um olhar para blockchain e para a área de seguros”, afirma Spina. “O Bradesco tem uma tese mais ampla, enquanto o Banco BV prefere concentrar os investimentos.”
Os aportes do Inovabra, o veículo de CVC do Bradesco, foram feitos em startups de diferentes setores e estágios no ano passado. A lawtech Docket Brasil, por exemplo, levantou US$ 21,2 milhões em uma rodada de série B que contou com a participação do Inovabra. Já a fintech Partyou captou US$ 1,8 milhão em uma rodada seed no mesmo ano.
De acordo com Rafael Padilha, diretor de private equity e venture capital do Bradesco, o banco está monitorando de perto alguns setores como inteligência artificial, segurança digital, meios de pagamento, banking as a service, entre outros, para investimentos futuros. A expectativa é investir mais de R$ 50 milhões em startups que já tenham um modelo de receita consolidado e caminho claro para o breakeven.
No Banco BV, os investimentos foram mais dedicados para as startups do próprio setor financeiro e nas insurtechs. O banco participou, por exemplo, da rodada de pré-série A da Darwin Seguros, que levantou US$ 8,1 milhões, e do aporte de série A da Klavi, de US$ 15 milhões. Segundo Eduardo Brussi, head de corporate venture capital do Banco BV, a preferência é investir cheques que giram em torno de R$ 20 milhões.
Queda e crescimento
Os números de 2022 do setor de corporate venture capital mostram que o valor total investido – assim como o tamanho dos cheques – diminuiu consideravelmente em relação a 2021. As startups brasileiras receberam US$ 1,9 bilhão de fundos de CVC no ano passado, queda de 59% ante o ano anterior. O valor médio das rodadas caiu 60% para US$ 19,9 milhões.
“Houve uma readequação do patamar de investimentos porque 2021 foi um ano fora da curva e com um boom de investimentos em geral”, afirma Spina, que destaca que os números obtidos no ano passado são positivos se comparados aos de 2020, quando os veículos de CVC investiram US$ 1,1 bilhão em startups brasileiras.
Para este ano, a expectativa é por resultados maiores. “Há uma perspectiva positiva pela consolidação dessas iniciativas, mas o desafio é manter esse movimento sustentável”, diz Spina. “Os resultados precisam justificar os investimentos.”
Segundo dados da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), 30% das rodadas de capital recebidas pelas startups entre janeiro e agosto deste ano tiveram entre seus investidores fundos de corporate venture capital. Em 2022, este percentual foi de 16%.