A estreia da Circle na Nyse na quinta-feira, 5 de junho, chacoalhou o pregão. As ações da startup americana de criptomoedas dispararam e alcançaram valorização acima de 170%. Nos últimos tempos, nenhuma empresa chegou na bolsa de valores de forma tão fulminante.
A Vik Holdings e a Reddit, que se tornaram empresas listadas no ano passado, tiveram um primeiro pregão de sucesso, por exemplo, com altas de 36% e de 48,3%, respectivamente. Mas a Circle foi além.
O pregão chegou a ser interrompido em duas oportunidades por causa da volatilidade, quando os papéis da empresa chegaram a US$ 103,75. Logo na abertura, a ação já valia US$ 69,50, preço 124,2% superior aos US$ 31 definidos para a oferta pública inicial. Às 15h50, a ação da empresa estava sendo negociada a US$ 85,99, com alta de 170,87%, o que assegurava valor de mercado de US$ 18,8 bilhões.
A Circle vendeu 34 milhões de ações e levantou o montante de US$ 1,1 bilhão, praticamente o dobro dos US$ 600 milhões previstos pela empresa.
“É um marco importante para a Circle”, diz Jeremy Allaire, cofundador e CEO da empresa, ao Financial Times. “Tornar-se uma empresa listada nos EUA e supervisionada pela SEC é um passo importante para a aceitação. O fato de que [os formuladores de políticas estão] entendendo que a escala, não apenas que isso alcançou, mas o potencial disso para muitos trilhões de dólares em dinheiro de stablecoin nos próximos anos é o foco certo agora.”
Allaire fundou a empresa em 2013 em Boston. Inicialmente, a Circle se concentrou em pagamentos para os consumidores e serviços de carteira e câmbio de criptomoedas. No início deste ano, a companhia mudou para Nova York.
A listagem da segunda maior emissora de USDC, um criptoativo conhecido como stablecoin, já é considerada uma das maiores dos Estados Unidos em 2025 e aumenta a expectativa pela melhora no mercado após o tarifaço global adotado pelo presidente Donald Trump e que fez muitos investidores adotarem compasso de espera.
Entre as próximas empresas com planos para abertura de capital nos Estados Unidos estão a fintech Chime Financial e a empresa sueca de processamento de pagamentos Klarna.
Analistas previram que as regras dos Estados Unidos podem aumentar o mercado global dessas criptomoedas de US$ 250 bilhões em circulação para cerca de US$ 2 trilhões nos próximos anos, atraindo bancos e outras instituições financeiras. Existem US$ 61 bilhões em USDC da Circle em circulação, colocando essa stablecoin atrás da líder de mercado Tether, com sede em El Salvador.
Cerca de 80% das negociações de criptomoedas envolvem stablecoins, mas elas vêm sendo cada vez mais usadas como alternativa aos bancos para pagamentos internacionais ou como reserva de valor. Por outro lado, o grupo de análise de blockchain Chainalysis também estimou que os tokens representaram 63% dos US$ 51 bilhões em transações ilícitas no ano passado que usaram criptomoedas.
Os registros mostraram que a Circle ganhou US$ 1,66 bilhão no ano passado com os títulos do Tesouro dos EUA que detém para apoiar sua stablecoin. As reservas são mantidas em um fundo do mercado monetário administrado pela gestora BlackRock e se beneficiaram de taxas de juros de 5% durante a maior parte do ano passado, enquanto o Federal Reserve buscava combater a inflação.
Com esse movimento, a Circle se recupera de um choque significativo em 2023, a partir do colapso do Silicon Valley Bank, onde a empresa era uma grande credora. A Circle tinha US$ 3,3 bilhões de suas reservas presas no banco, provocando uma queda no valor do USDC em relação ao dólar, até que os reguladores americanos se moveram para garantir que os depósitos estivessem seguros.
A startup tentou abrir o capital em 2021, em uma fusão planejada com um veículo de aquisição de propósito específico presidido pelo ex-chefe do Barclays Bob Diamond. Um acordo teria avaliado entre US$ 7 bilhões e US$ 9 bilhões.
Com o apoio em Nova York, a Circle se junta à Coinbase, Mara Holdings e Riot Platforms como uma das poucas empresas de criptomoedas listadas nos Estados Unidos.