Quando foi pego nas tempestades trazidas pelo "inverno cripto", em 2018, que levou a cotação do bitcoin a fechar o ano com desvalorização de 70%, o Mercado Bitcoin (MB) percebeu que se permanecesse apenas como uma corretora de criptomoedas acabaria "congelado" no tempo.
A partir dessa constatação foi dada a partida a um processo de reformulação do grupo em 2019. O objetivo era ampliar o espectro de atuação da companhia, agregando ativos, produtos e serviços da economia tradicional à prateleira de criptoativos.
E, em meio a essa transformação, uma das iniciativas acaba de alcançar uma marca relevante. A MB Asset, o braço de gestão de investimentos do Mercado Bitcoin, atingiu R$ 1 bilhão em recursos sob gestão, um passo significativo nos esforços do CEO Reinaldo Rabelo e sua equipe de transformar a companhia.
“Queremos ser um criptobanco brasileiro”, Rabelo ao NeoFeed. “Queremos que o cliente veja o MB como o lugar para ele operar cripto e também para resolver todas as questões que envolvem dinheiro, pagamento e investimentos.”
Com a MB Asset, o objetivo é incentivar que seus clientes migrem os investimentos que têm em outras plataformas para o Mercado Bitcoin. A gestora surgiu após a 2TM, holding que controla o MB, fechar a aquisição da ParMais, em maio de 2021, e incorporá-la à sua estrutura em meados de junho deste ano.
Na época da compra, a gestora de recursos catarinense tinha R$ 600 milhões em ativos sob gestão, mais de 1,5 mil clientes, a maior parte de alta renda, e 45 funcionários.
Com a gestora em sua estrutura, o MB passou a disponibilizar dois fundos de investimentos, um de liquidez de renda fixa e um fundo de renda variável baseado em ações. Por terem menos de seis meses de existência, a empresa não quis informar a rentabilidade.
Rabelo conta também com um serviço de carteiras administradas baseado em cinco tipos de perfis de investidor, que levam em conta o perfil de risco e a posição financeira do cliente. Tanto os fundos quanto as carteiras não contam com criptomoedas ou ativos digitais alternativos em sua composição.
“Desde 2019 estávamos desenvolvendo o plano de entregar acesso a investimentos alternativos e criptoativos, mas víamos que faltava o pedaço de investimentos mais conservadores”, diz Rabelo. “Com a asset, conseguimos entregar a possibilidade de construção de um portfólio completo de investimentos para o nosso cliente.”
No momento, os serviços da MB Asset estão disponíveis para um número restrito de clientes, apenas aqueles que se enquadram nas categorias MB One, que têm mais de R$ 300 mil em investimentos tradicionais, e MB Private, serviço de gestão de grandes patrimônios. O valor mínimo para estar nesse segmento está sendo revisado, em conjunto com a operação de toda a área.
A ideia é que, a partir do começo do ano que vem, toda a base de 3,7 milhões de clientes do MB possa acessar os produtos da asset, o que deve acelerar a conquista da marca de R$ 2 bilhões em recursos sob gestão, segundo Rabelo.
“Queremos aumentar a nossa participação na fatia da carteira de investimentos do cliente, ser uma ferramenta relevante para a alocação de patrimônio do nosso cliente”, afirma Rabelo. “Se conseguirmos converter de 1% a 10% da nossa base de clientes ativos para a asset, facilmente superamos o segundo bilhão num prazo relativamente curto.”
Diversificação com toque cripto
A MB Asset é apenas a ponta do iceberg do processo de diversificação do MB. Ainda que acelerada pelo "inverno cripto" em 2018, a transformação da companhia tem como guia a leitura de que a tecnologia que surgiu com os criptoativos transformará profundamente o mercado financeiro. Por isso, o MB pretende juntar os elos.
“Os fundadores do MB sempre pensaram que o negócio iria se conectar ao mercado tradicional em algum momento, embora ninguém soubesse como isso ia se dar”, afirma Rabelo. “O que 2018 fez foi indicar de forma mais clara como que a gente deveria conectar o mundo cripto com o mercado mais tradicional.”
A ideia é ampliar a oferta de produtos financeiros na plataforma, com todos eles tendo um viés cripto. A primeira iniciativa neste sentido foi a criação da MB Tokens, área que permite negociar ativos tokenizados com características de renda fixa. Por meio do blockchain do ethereum, são gerados tokens representativos de ativos reais, como precatórios, consórcios e recebíveis.
Também na MB Asset, o plano é oferecer esses produtos tradicionais e agregar aspectos da tecnologia cripto. Rabelo diz que a companhia está desenhando uma experiência de investimento em ativos tradicionais que seja tokenizada.
“Ao invés de oferecer minhas cotas de fundo pela gestora como cota, posso transformar essa cota em token, e como a gestora tem licença para distribuir cotas dos fundos proprietários, ela pode distribuir no formato token”, diz Rabelo.
O mesmo deve ocorrer com novas frentes sendo planejadas, algumas que vinham sendo demandas pelos clientes. Desde 2018, o MB está construindo uma instituição de pagamento, que está em processo de avaliação no Banco Central, ao mesmo tempo em que pretende disponibilizar serviços bancários aos clientes, com direito a cartão de crédito, no começo de 2023.
Os movimentos do MB ocorrem no momento em que as exchanges concorrentes também estão ampliando o leque de serviços e nomes tradicionais do mercado se enveredam pelo mundo cripto, segundo Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem.
“Criou-se um cenário competitivo para o MB e seus concorrentes em que atuar só no varejo não faz mais sentido”, afirma Diniz. “É uma nova fase para os negócios, em que as empresas precisam colocar mais camada de ofertas, considerando que todo o mercado está convergindo para a tecnologia cripto, para atrair e reter clientes.”
Diniz cita os movimentos da Foxbit para atender companhias, oferecendo serviços de pagamentos com criptomoedas e a possibilidade de empresas disponibilizarem negociação de criptoativos para seu cliente final, com soluções de cripto as a service. A 99 se utiliza desses serviços da Foxbit, disponibilizando aos seus clientes a possibilidade de comprarem bitcoin direto pela carteira digital da empresa, a 99Pay.
Entre os grandes do mercado, o Itaú lançou, em julho deste ano, a Itaú Digital Assets, área responsável de tokenização de ativos. No começo de junho, o Itaú BBA coordenou a primeira emissão de debêntures tokenizadas do País.
A disputa entre XP e BTG também está sendo travada no mundo cripto, com ambos lançando no mesmo dia suas plataformas de investimento em criptoativos.