Ao menos desde 2018, uma empresa chamada Flannery Associates vem comprando terrenos em um ritmo agressivo em uma região agrícola da Califórnia. Mais de 140 propriedades já foram adquiridas desde então e que somam dezenas de milhares de acres de terra. O valor gasto já ultrapassa US$ 800 milhões.
Por trás desta companhia está um grupo de investidores que fez carreira no Vale do Silício e agora quer construir uma nova cidade próxima de São Francisco. Entre os nomes estão Marc Andreessen e Chris Dixon (sócios da gestora Andreessen Horowitz), Reid Hoffman (cofundador do LinkedIn) e Michael Moritz (da Sequoia Capital).
A Flannery, que só revelou seus investidores nos últimos dias, foi fundada em 2017 por Jan Sramek, um ex-operador do Goldman Sachs. A companhia também já recebeu investimentos de John Collison, cofundador da Stripe; Laurene Powell Jobs, fundadora do Emerson Collective e viúva de Steve Jobs; entre outros nomes.
Em um comunicado recente, Brian Brokah, representante do grupo de investidores, afirmou que o grupo era formado por “californianos que acreditam que os melhores dias do condado de Solano e da Califórnia estão por vir”. Não está claro quanto cada um já investiu na operação.
O que atrai milhões de dólares para o negócio é a expectativa dos investidores de lucrarem com a criação de uma nova comunidade. Os terrenos poderiam ser revendidos para empresas interessadas em se instalar na região ou mesmo serem utilizados para a construção de propriedades ligadas aos próprios investidores.
Ainda que tenha começado a fazer as negociações por volta de 2018, a Flannery mantinha uma operação discreta. Tanto que, até pouco tempo, ninguém sabia os objetivos daquela empresa que vinha adquirindo terras a torto e direito na região. Especulava-se que a Disney estaria por trás da operação para a construção de um novo parque. Ou que o espaço seria utilizado para uma nova base militar.
Os detalhes do misterioso comprador só foram revelados ao público mais recentemente por conta de um processo que a companhia ingressou na Justiça contra os proprietários das terras.
Entre 2018 e 2023, a Flannery comprou mais de 140 propriedades próximas ao condado de Solano. No começo, a empresa pagava algo próximo de US$ 5 mil por acre (que equivale a um terreno com cerca de 4 mil metros quadrados). Os preços subiram com a procura da companhia e chegaram a mais de US$ 20 mil. A Flannery acusa os proprietários de conluio para inflacionar os valores.
Ainda que o valor tenha quintuplicado, os apoiadores financeiros do negócio consideram que este possa ser um “investimento espetacular”, conforme o comunicado da Flannery. O retorno poderia ser obtido já com a aprovação do rezoneamento e multiplicado com o início da construção.
Os trabalhos para a construção de uma nova cidade devem começar efetivamente na próxima semana, quando os investidores vão se reunir com autoridades políticas eleitas no condado de Solano (onde os acres foram adquiridos) e funcionários do governo que atuam na Base Aérea de Travis.
O desafio para tirar uma nova cidade do papel vai muito além de apenas adquirir uma grande quantidade de terras. O maior obstáculo é refazer o zoneamento da região. Isso envolve conseguir a aprovação governamental em um processo que é considerado litigioso e difícil na Califórnia.
A expectativa para superar essa adversidade está em convencer os próprios residentes do condado de Solano, que vão votar a favor da proposta. Para isso, o lobby que será efeito envolve promessas de geração de empregos e investimento em atrações culturais, como parques, centros de artes, além de novos restaurantes, escolas, hospitais etc.
A construção de cidades é um sonho antigo de bilionários. Em março, Elon Musk comprou mais de 3,5 mil acres próximos de Austin, no Texas, para construir o que ele chama de "uma espécie de utopia texana, ao longo do rio Colorado".
Peter Thiel, cofundador do PayPal, tem planos mais ousados. Ele é investidor na Seasteading Institute, empresa que tenta construir uma nova comunidade sobre estruturas que ficariam no oceano. O plano é explorar as “águas internacionais”, que, a partir de uma certa distância de cada país, são “livres”.