Em março deste ano, a fintech brasileira Trace Finance viu o número de acessos em sua plataforma multiplicar com a quebra do Silicon Valley Bank (SVB), o banco das empresas de tecnologia. Com o vácuo no mercado, a startup que atuava somente com operações de câmbio para startups brasileiras com holdings no exterior lançou a sua própria conta bancária.

Em poucas horas, a empresa resgatou dezenas de milhões de dólares do SBV e tinha uma fila de espera de US$ 3 bilhões em depósitos que ainda precisavam ser resgatados. "Foi um dos finais de semana mais loucos da minha vida”, afirma Bernardo Brites, CEO e fundador da Trace Finance, ao NeoFeed. “Eu fiquei uns quatro dias sem dormir.”

Passada o drama, a Trace Finance agora dá um novo passo na expansão de seus negócios – e novamente para aproveitar o vácuo deixado pelo Silicon Valley Bank. Nesta quarta-feira, 27 de setembro, a companhia anunciou uma parceria com o The Bank of New York Mellon Corporation (BNY Mellon), que tem mais de US$ 46,9 trilhões sob custódia.

A parceria resulta no lançamento de um novo produto da Trace Finance, em que as contas na plataforma estarão vinculadas ao banco americano. Sem custos de manutenção, a conta vai permitir que empresas americanas e holdings offshore de países como Ilhas Cayman, Ilhas Virgens Britânicas, Bahamas e Reino Unido possam fazer transferências domésticas e internacionais ilimitadas.

Com o BNY Mellon, a Trace Finance espera dobrar sua base de clientes – atualmente são cerca de 500 empresas, entre elas estão Buser, Conta Simples e Rocket.Chat. Neste ritmo, a fintech espera ser responsável por transacionar 60% do valor recebido em rodadas de investimento por startups brasileiras no exterior.

O que deve atrair os novos clientes é também o fato de que a nova conta da Trace Finance irá render até 5,5% ao ano, em dólares. Isso se dará por meio de investimentos em títulos do Tesouro americano. Os depositantes também terão garantia de até US$ 5 milhões pelo fundo garantidor de crédito americano (FDIC, na sigla em inglês).

“A Trace Finance ganha uma parte dos rendimentos investidos no Tesouro e, por consequência, o banco consegue render aquele dinheiro em conta”, afirma Brites, mas sem detalhar os números.

A parceria com o BNY Mellon começou a ser costurada há seis meses, logo que a Trace Finance começou a perceber que seus clientes receavam outro colapso bancário.

“A gente começou a receber um feedback que o mercado queria bancos posicionados entre os principais dos Estados Unidos, que não quebrariam mesmo com crises econômicas globais”, afirma Brites.

Brites conta que após o colapso do SVB, houve um movimento das startups para abertura de contas em bancos maiores dos Estados Unidos, como o J.P. Morgan.

O processo levava pouco mais de um mês para ser concluído. “As empresas que mandaram US$ 10 milhões ou US$ 15 milhões para gente estavam sacando o dinheiro”, afirma Brites. Agora, a intenção é tentar recuperar esses depósitos.