Em meio a um mercado que começa a dar sinais de recuperação, a Rocket.Chat, dona de uma plataforma de comunicação de código aberto usada pela Marinha dos Estados Unidos e pela Audi, concluiu um "bridge" de sua rodada série A, em que conseguiu levantar US$ 10 milhões (aproximadamente R$ 50 milhões).

Nesse novo aporte, a startup fundada e comandada por Gabriel Engel trouxe para a base de acionistas a Alexia Ventures, fundo de Patrick Arippol e Wolff Klabin; Bob Young, fundador da Red Hat, uma das principais empresas de código aberto do mundo, comprada pela IBM por US$ 34 bilhões; o Endeavour Catalyst e o Endeavor Scale-Up Ventures.

Participaram da rodada investidores que já haviam aportado na Rocket.Chat, como Valor Capital, NEA, Greycroft, Monashees, DGF e Graphene. A última captação, a séria A, foi em fevereiro de 2021, quando a startup levantou R$ 100 milhões – o dinheiro desse round praticamente já acabou.

“Levantamos o capital necessário para investir em pesquisa e desenvolvimento e para nos levar à rentabilidade no fim do ano que vem”, diz Engel, com exclusividade ao NeoFeed. “O nome do jogo, agora, é crescer de maneira eficiente.”

Engel diz que a captação aconteceu nos termos de 2021, mantendo o mesmo valuation (ele não divulga os valores), o que não deixa de ser uma vitória diante de um mercado avesso à risco e que endureceu as negociações para assinar novos cheques.

O dinheiro “novo” será usado quase que exclusivamente para pesquisa e desenvolvimento. Em especial, em inteligência artificial, uma tendência que será absorvida na plataforma da Rocket.Chat. “Queremos nos tornar um integrador de todas as inteligências artificiais diferentes que estão surgindo”, diz Engel.

A eficiência a que se refere Engel é fazer mais com menos. No auge, a Rocket.Chat chegou a ter 150 funcionários. Hoje, são 130 e o fundador da startup não prevê mais a aceleração das contratações.

O plano envolve também melhorar os canais de venda. Hoje, a Rocket.Chat tem 700 empresas pagantes, mas mais de 15 milhões de usuários em 150 países usam a versão gratuita de sua plataforma. A ideia é definir estratégias para começar capturar esses clientes.

Como a Rocket.Chat vai investir os recursos da rodada

“Acompanho o Gabriel há muito tempo”, diz Patrick Arippol, sócio da Alexia Ventures, que fez um dos primeiros cheques institucionais da Rocket.Chat, quando ainda estava na DGF. “Ele tem muita capacidade de liderar nessa área de open source. E tem uma distribuição enorme, com clientes no mundo inteiro.”

Com o aporte, Arippol passa a fazer parte do board da Rocket.Chat e deve ajudar a startup em sua estratégia de acelerar o que no setor se chama de “go to market”. “É o processo tradicional: 99% dos clientes pagantes foram antes clientes de um produto free. É um negócio bem interessante”, afirma Arippol.

Bob Young é também um velho conhecido de Engel. Eles mantêm uma relação desde 2016, quando ouviu do fundador da Red Hat de que o mundo precisaria de uma plataforma de comunicação de código aberto, como é o caso da Rocket.Chat.

Feita para grandes empresas

A Rocket.Chat, cuja sede é em Porto Alegre, conta com uma versão gratuita do produto, que pode ser usado por qualquer pessoa ou empresa. Uma das versões pagas funciona no modelo de SaaS (software as a service). Mas ela representa apenas uma fatia pequena da receita.

A maioria dos contratos é para grandes empresas, que exigem algum nível de personalização e integração. Nos dois casos, o pagamento é por usuários por mês. Dos 700 clientes, estão a Câmara dos Deputados Continental, The Aerospace Corporation, o Governo da Colúmbia Britânica e a Universidade da Colônia.

Como tem clientes espalhados por todo o planeta, a receita do Brasil representa menos de 10% da Rocket.Chat. Europa e EUA são os dois principais mercados, com 35% cada do que a startup brasileira fatura.

Além de ser uma plataforma de comunicação capaz de criar canais, grupos, chats e conferências, o produto da Rocket.Chat pode se conectar com diversas outras soluções do mercado, porque é um software de código aberto.

A lista de plataformas de comunicação que podem ser integradas ao Rocket.Chat é extensa. Ela vai do aplicativo de mensagens WhatsApp, passa pelo Slack e já chega até ao Teams, um produto da Microsoft. E inclui ainda o WeChat, da Tencent, o Skype, da Microsoft, ou o Apple Business, da Apple, entre muitos outros.

Para garantir essa flexibilidade, o Rocket.Chat pode ser instalado na infraestrutura tecnológica da empresa. Com isso, ele fica mais seguro e garante mais privacidade, dois itens fundamentais no discurso de venda da startup. Mas, por outro lado, exige equipes especializadas de tecnologia para fazer a configuração.