Com o mercado livre de energia prestes a receber novas empresas em 2024 após a flexibilização das regras de entrada, a L4 Venture Builder quer aproveitar o momento e criar uma nova bolsa no País, voltada para a comercialização de energia.
O fundo de investimento independente apoiado pela B3 anunciou nesta terça-feira, 3 de outubro, ter fechado uma joint venture com uma empresa de investimento ligada ao Grupo EEX, empresa que desenvolve e opera mercados de energia e que pertence à operadora de bolsas de valores alemã Deutsche Börse, para lançar uma bolsa para o setor elétrico, chamada N5X.
Prevista para ser lançada no ano que vem, a N5X está de olho nas perspectivas de ganhos da liberalização do segmento de energia, puxado pela abertura do mercado livre, por onde passaram 36% do consumo de eletricidade em 2022, equivalente a R$ 150 bilhões, valor que deve crescer com a chegada de novas empresas.
“Quando a gente fala do potencial de liberalização do mercado de energia, com o Brasil sendo o sexto maior mercado consumidor de eletricidade do mundo, existe uma oportunidade muito importante de trazer a negociação de energia para outro patamar, elevando a quantidade de negócios no mercado livre”, diz Dri Barbosa, CEO da N5X, ao NeoFeed.
Barbosa chegou para tocar o projeto da N5X em maio deste ano, depois de um período como empreendedora. Ela foi fundadora e ex-CEO da Vaipe, uma hrtech adquirida pela Mereo em 2022, e da payleven, fintech comprada pela SumUp em 2016. Ela também fez parte do time inicial da Mobly, foi gerente financeira do Ibmec e consultora da A.T. Kearney.
Segundo ela, a criação de uma bolsa de energia vem de antes de sua chegada para comandar a N5X, com a L4 já avaliando iniciativas na parte de energia, uma perna de seu plano de investimentos, que prevê aportes em novos negócios em áreas como tokenização de ativos e mercado de carbono. No começo do ano, a L4 investiu na israelense BridgeWise, fintech que opera uma plataforma de dados que auxilia a entrada de novos investidores no mercado de capitais.
A ideia de atuar com energia e estruturar uma bolsa ganhou força depois que o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou, em setembro de 2022, uma portaria abrindo parcialmente o mercado livre, ao permitir a entrada de todos os consumidores conectados à rede de alta tensão no mercado livre a partir de janeiro de 2024. Antes, só podiam migrar aqueles com consumo superior a 500 quilowatts (kW).
Quando anunciou a portaria, a pasta informou que 106 mil novas unidades consumidoras estarão aptas a migrar para o mercado livre com a medida. Atualmente, o Brasil registra 35,1 mil unidades consumidoras livres, agrupadas em 12 mil empresas, segundo dados publicados pela Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) em setembro.
Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no fim do ano passado revelou que mais da metade das empresas de alta tensão que são obrigadas a comprar energia junto às concessionárias desejam migrar para o mercado livre. O motivo é o custo, com a CNI estimando que indústrias que migrarem para o mercado livre economizarão, em média, de 15% a 20% na conta de luz.
Apesar de existirem espaços de negociação de energia no País, caso da BBCE, plataforma online para negociações bilaterais de compra e venda de energia criada por iniciativa de comercializadoras de energia, Barbosa diz que existe uma oportunidade para evoluir o mercado.
A ideia é que a nova bolsa disponibilize produtos financeiros, como derivativos, para o mercado, e estabelecer um serviço de contraparte central, o chamado clearing. Segundo Barbosa, a criação de derivativos financeiros deve ajudar a atrair grandes consumidores de energia, ao permitir maior previsibilidade de gastos via hedges. A parte de clearing, por sua vez, deve ajudar a dar segurança para aumentar o volume de negociação.
“Quando olhamos para o volume negociado, ele está na casa dos R$ 150 bilhões, o que representa um giro [volume transacionado] de 4,27 vezes, enquanto em outros países que tiveram liberalização, o volume negociado é muito maior, de dez vezes”, diz Barbosa.
Apesar do lançamento, o início das operações não terá todos os produtos previstos. A primeira fase, que ainda não tem data para entrar em vigor, prevê um espaço para negociações bilaterais, mas a ideia é ir agregando produtos e serviços ao longo do tempo.
Segundo Barbosa, a N5X ainda precisa obter autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para atuar com instrumentos financeiros como derivativos. O mesmo ocorre com a parte de clearing, que precisa passar pela regulamentação do Banco Central (BC). Não há previsão de quando essas autorizações serão obtidas.
O mesmo vale para os participantes, que a partir de agora começarão a ser engajados. O público-alvo da N5X são instituições financeiras com mesa de trading, grandes consumidores, geradores de energia e comercializadores de energia.
Com o anúncio, a expectativa de Barbosa é que as conversas em todas as frentes comecem a rodar. “A gente quer se conectar com os participantes, com os reguladores, para cocriar os produtos e serviços de acordo com as dores e necessidades deles”, afirma.
Mais adiante, a ideia é que a N5X atenda não apenas o mercado de energia elétrica, mas atue também com ativos relacionados ao segmento de energia, como gás natural.