Na segunda-feira, 7 de agosto, BNP Paribas, Bradesco, BTG Pactual, Banco do Brasil, Santander, Bank of America, Caixa, Goldman Sachs e Itaú Unibanco  terão uma importante decisão a tomar. Elas precisarão escolher uma nova plataforma eletrônica de negociação para o pregão dos títulos do Tesouro Nacional no mercado secundário.

Pela primeira vez, a Cetip Trader, da B3, não estará sozinha nessa disputa. A fintech SL Tools foi homologada há cinco meses e já sonha alto: ficar com esse mercado bilionário só para ela.

À primeira vista, parece ser algo distante para um novo entrante em um mercado dominado por uma empresa há uma década. Mas, há 12 meses, a SL Tools vem fazendo a sua lição de casa, conectando as instituições financeiras à sua plataforma e mostrando as funcionalidades da sua ferramenta para elas.

“Tenho certeza absoluta que o Banco Central adoraria ter um mercado eletrônico desenvolvido com transparência e liquidez, mas eles estão confiando em alguém há 10 anos e o volume não muda”, diz ao NeoFeed André Duvivier, sócio e fundador da SL Tools, abreviação de Super Liquid Tools, uma plataforma de serviços de infraestrutura tecnológica para o setor financeiro.

Atualmente, o volume financeiro médio diário de títulos públicos negociados no mercado secundário é de R$ 101,1 bilhões. Porém, apenas 9% ocorrem via plataforma eletrônica - pouco mais de R$ 9 bilhões por dia. Para se ter uma ideia da diferença para os mercados mais maduros, 70% dos treasuries nos Estados Unidos são negociados eletronicamente. Os bonds europeus ficam em torno de 60%.

No Brasil, a maior parte das ordens ainda é fechada no modo analógico, por viva-voz. Uma corretora, por exemplo, precisa de um telefone para saber quem está comprando e quem está vendendo para fechar uma operação.

“A importância dessas plataformas é gerar eficiência e economia para todos os participantes, mas hoje em dia a tecnologia não atende o que o mercado precisa”, diz um executivo que participa desse tipo de operação. “E o Tesouro tem incentivado os bancos a operarem com a tela.”

O projeto da SL Tools é colocar o mercado brasileiro de negociação eletrônica de títulos públicos em níveis próximos aos do americano. Por isso, além da tecnologia, a fintech quer ser atrativa pela redução de custos para toda a cadeia.

Neste momento, os dealers (como essas instituições são chamadas por atuarem como formadoras de mercado) pagam centavos tanto pela conexão à plataforma como pelo uso. A fintech desenvolveu um modelo de cobrar uma porcentagem apenas do taker (tomador) dos títulos.

“Só cobramos de quem é taker e o marker, que dá a liquidez, a gente incentiva. Estamos entregando não só uma tecnologia melhor, mas também boa vontade financeira”, afirma Duvivier.

A plataforma de negociação de ativos de renda fixa da SL Tools não se restringe apenas a essa operação com títulos públicos. A fintech está em vias de conseguir a licença de balcão organizado, algo esperado para este terceiro trimestre, para incluir títulos de crédito privado na sua tela.

“O título público é o ativo livre de risco e tudo se precifica em relação a ele”, diz Duvivier. “Mas já estamos de olho na próxima fase, que é o crédito privado. Com a referência do título público em tempo real, a dinâmica dos títulos privados será outra.”

Ele complementa: “Uma negociação de crédito privado com o título público na mesma tela só se compara ao mercado de ações ou de futuro, onde tudo é eletrônico”.

Fintech de poucos investidores

Nativa digital, a SL Tools foi criada em 2017 por André Duvivier, um ex-trader da Merrill Lynch e Bank of America (BofA), e por Ricardo Miraglia, um ex-executivo da então Bovespa, para resolver o problema de operações em tempo real no aluguel de ações.

Esse era outro mercado analógico, que se transformou em eletrônico pouco antes da pandemia. Por conta dessa solução, a SL Tools tem contrato com 20 corretoras e quase 70 assets.

Em seis anos de operação, eles atraíram apenas três investidores - um anjo e uma rodada seed (os valores continuam em sigilo). Mas todos têm uma característica em comum: são estratégicos e conhecem o mercado financeiro.

O primeiro investidor da empresa foi Luiz Fernando Figueiredo, chairman da Jive Investments, que foi convidado para sentar no board da empresa, mas pediu para estar na cadeira de investidor. Foi o primeiro cheque para desenvolver tecnologias para negociações eletrônicas de valores imobiliários e ativos financeiros da fintech.

Há dois anos, a 2TM, fundo de venture capital do Mercado Bitcoin, aportou na empresa e trouxe profissionais experientes em negociação em bolsa. Junto com eles, a Parallax Ventures, que tem entre os sócios ex-executivos da BM&F, a antiga bolsa de mercadorias e futuros.

“Queremos parceiros muito mais do que investidores”, afirma Duvivier, que diz estar em constantes conversas com interessados, mas despistando sobre a necessidade de nova captação.