Para colocar a casa em ordem, o Grupo Casas Bahia obteve um "alívio" financeiro na terça-feira, 3 de outubro, ao conseguir evitar que credores exercessem um covenant de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) lastreados em debêntures.
Segundo o fato relevante divulgado pela companhia, a assembleia especial de titulares de CRIs das primeira, segunda e terceira séries lastreados na oitava emissão de debêntures aprovaram a não declaração de vencimento antecipado desses títulos, emitidos em 2022 e que totalizam R$ 421,2 milhões.
O risco veio após a agência de classificação de riscos S&P Global Ratings ter rebaixado, em 12 de setembro de 2022, a nota desses papéis de “brAA-” para “brA-” na escala nacional. O corte do rating em três ou mais níveis era um gatilho para os credores declararem o vencimento antecipado dos CRI e da oitava emissão de debêntures.
A redução da nota ocorreu após a S&P Global Ratings ter rebaixado os ratings corporativo e de emissão do Grupo Casas Bahia de “brAA-” para “brA-” em 8 de setembro. A agência informou que entre os motivos para decisão estava os efeitos do cenário macroeconômico, que pressiona as operações da empresa, prejudicando a redução da alavancagem financeira.
Para conseguir a aprovação da não declaração do vencimento dos papéis, o Grupo Casas Bahia teve de aceitar contrapartidas. Uma delas foi que a remuneração de cada uma das séries dos CRI será acrescida do spread complementar de 0,55% a partir da data de pagamento imediatamente subsequente à aprovação do pleito na assembleia
A segunda, de acordo com o fato relevante, é que a companhia pagará um prêmio flat equivalente a 0,25%, multiplicado pelo prazo médio ponderado remanescente (duration), calculado sobre o saldo do valor nominal unitário dos CRI, acrescido da remuneração.
O não vencimento antecipado representa mais um alívio do que uma vitória para o Grupo Casas Bahia, que agora está implementando um novo processo de reestruturação para tentar retomar as atividades e melhorar suas finanças. No segundo trimestre, a empresa queimou R$ 600 milhões de caixa na última linha do balanço e a dívida total bateu em R$ 10,4 bilhões.
Visando obter um espaço de manobra para implementar as ações previstas no plano de transformação da companhia até 2025, o Grupo Casas Bahia realizou um follow on no mês passado, cujo resultado decepcionou os investidores.
A expectativa inicial era de captar cerca de R$ 1 bilhão, mas ela acabou levantando aproximadamente R$ 620 milhões no mercado. O preço por ação foi estabelecido em R$ 0,80, um desconto de 28% frente ao preço de tela na ocasião da operação.
O resultado acabou repercutindo negativamente, pressionando as ações, que se tornaram penny stocks, sendo negociadas abaixo de R$ 1. O BB Investimentos afirmou que o desconto transmitiu uma mensagem negativa ao mercado, especialmente aos minoritários. A casa acabou rebaixando a recomendação para as ações de compra para neutro e o preço-alvo de R$ 2,30 para R$ 1,40.
Por volta das 12h15, as ações do Grupo Casas Bahia recuavam 3,17%, a R$ 0,61. No ano, elas acumulam queda de 71%, levando o valor de mercado a R$ 979,8 milhões.