Em agosto, no jogo da semifinal da Copa Libertadores da América, a marca Intershop, o marketplace do banco Inter, estampou a camisa do Athletico Paranaense. O mesmo acontecerá na final do dia 29 de outubro contra o Flamengo no Equador. À primeira vista, parece mais um anúncio de oportunidade. Mas não é.
O Inter está mergulhando de cabeça no futebol e detalhou a estratégia do banco com exclusividade ao NeoFeed. Trata-se de um movimento que irá muito além da propaganda e marketing. “O futebol será o nosso grande vetor de crescimento em 2023”, diz João Vitor Menin, CEO do Inter.
A meta é fazer com que o Inter se torne o provedor de serviços de banking e store para clubes. “Queremos que o serviço ganhe mais peso no nosso marketplace. Hoje, 95% do GMV de R$ 1 bilhão por trimestre da Inter Shop é referente a produtos. A meta é equilibrar essa equação”, diz Menin.
No momento, a instituição financeira tem acordos com o Athletico Paranaense, o Atlético Mineiro e a Arena MRV. Mas está em conversas avançadas com mais três clubes: um dos grandes do Rio de Janeiro e outros dois do Nordeste.
Esse não é o primeiro movimento do Inter no futebol. De 2017 a 2020, o banco patrocinou o São Paulo. Mas em um momento em que o banco não tinha uma plataforma completa e bem antes desse movimento das SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol), que estão injetando dinheiro e profissionalizando o esporte.
“Mesmo naquela época, tivemos uma experiência muito bacana com o São Paulo”, diz Menin. E prossegue. “Tínhamos 3 milhões de clientes dos quais 500 mil cartões bandeirados do São Paulo.” Agora, com arenas mais modernas e com um ecossistema mais robusto, o cenário que se desenha é outro.
“Queremos que o Inter se torne o banco oficial de cada clube que estamos conversando”, diz Rodrigo Gouveia, CEO do Inter Shop. Isso significa toda a parte financeira que roda, tanto do ponto de vista de folha de pagamentos dos funcionários e jogadores, passando por cartões cobranded para os torcedores.
A loja do Galo, do Atlético Mineiro, por exemplo, é operada pelo Inter Shop. E, no início do mês, o banco assinou contrato para operar todos os serviços na Arena MRV. A tag do Inter será conectada no estacionamento, misturando serviço e banking.
O banco digital também está entrando em alimentos e bebidas em uma determinada área do estádio, onde tudo será pago pelo app do Inter. Mais: vai ter exclusividade na pré-venda de ingressos e merchandising para jogos, eventos e shows.
No Athletico Paranaense, o Inter se tornou o provedor de banking do time e vai criar cartões cobrandeds para os torcedores. A loja do Furacão também será abrigada no Inter Shop. Os serviços na Arena da Baixada, o estádio do time, ainda não são operados pelo banco digital, mas há negociações em curso.
Batizada de Plataforma 360 de Futebol, ela prevê flexibilidade para cada contrato. “Você não consegue montar uma plataforma única no futebol. Cada clube tem uma realidade, tem uma situação financeira e visão de parceria diferentes”, diz Menin. O clube, por sua vez, terá revenue share em algumas das operações.
A entrada nesse segmento, explica Menin, deve aumentar a capilaridade do banco. O executivo evita fornecer guidance, mas dá um exemplo do potencial de crescimento. “Como estamos presentes no Brasil todo, conseguimos medir quantos correntistas temos e, ao nos tornarmos o banco oficial de um clube, aumentaremos o número de correntistas no estado.”
Isso traz outra vantagem para o banco. O Custo de Aquisição de Clientes (CAC) cada vez mais caro no mundo digital, principalmente em plataformas como Google e Facebook, deverá migrar para esse universo de futebol. “Investimos R$ 180 milhões por ano com growth e a tendência é a verba ir para esse segmento”, diz Menin. “Vamos sair de um CAC para um LTV (Lifetime Value)”, diz Gouveia, do Inter Shop.
O Inter não é o primeiro a olhar o futebol com mais atenção nesse novo cenário de profissionalização. Outros gigantes do mercado financeiro como XP Inc. e BTG Pactual também estão entrando forte nesse segmento, mas com diferentes focos.
No ano passado, a XP intermediou a venda de cerca de 90% da SAF do Cruzeiro para Ronaldo Fenômeno, por R$ 400 milhões, e o controle da SAF do Botafogo para o empresário americano John Textor, um dos proprietários do time inglês Crystal Palace, por R$ 100 milhões. O BTG, por meio da Win The Game, também tem mandatos para SAFs, mas pretende ir além de negociar a venda de clubes.
“Somos bankers do mercado desportivo e de entretenimento. O nosso papel é suprir as necessidades financeiras, de marketing, de governança e compliance de todos os entes desportivos e do mercado de entretenimento”, disse em uma recente entrevista ao NeoFeed, Claudio Pracownik, sócio do BTG Pactual na Win The Game.
Todos estão vislumbrando um mercado que tende a ganhar corpo com a profissionalização do futebol e a entrada de players com bolsos fundos. Em agosto, o Vasco da Gama anunciou a venda de 70% da SAF por R$ 700 milhões para a empresa americana 777 Partners, a mesma que comprou o time italiano Genoa e o espanhol Sevilla.
Hoje, segundo dados da consultoria Sports Value, o futebol profissional no Brasil movimenta R$ 7 bilhões por ano. “Se tivesse uma liga forte e fosse bem gerido, poderia saltar para R$ 14 bilhões dentro de cinco anos”, diz Amir Somoggi, da Sports Value.