A China registrou em julho a maior queda de suas exportações e importações desde o início da pandemia global do coronavírus, em fevereiro de 2020, reforçando a percepção de uma trajetória consistente de desaceleração do crescimento econômico não só chinês como mundial para este ano.

As exportações chinesas caíram 14,5% em julho, em dólares, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. A queda das importações, de 12,4%, foi ainda mais surpreendente, indicando uma baixa de consumo interna acentuada.

Economistas ocidentais previam queda de 12,5% das exportações e de apenas 5% das importações do país asiático.

Em Hong Kong, o índice Hang Seng da bolsa local caiu 2,2% na terça-feira, 8 de agosto, após a divulgação dos dados comerciais.

Os índices europeus de ações também recuaram, com o pan-europeu STOXX 600 caindo 0,6% e  FTSE 100, da Grã-Bretanha, com queda de 0,79%. Os dados consolidados de 2023 confirmam a diminuição de crescimento chinês.

Em um comunicado, a administração alfandegária da China disse que as importações caíram 7,6%, para US$ 1,46 trilhão, nos primeiros sete meses do ano, enquanto as exportações caíram 5%, para US$ 1,94 trilhão.

Fatores internos e externos explicam esses números. O aumento da inflação e das taxas de juros na maioria dos países ocidentais reduziu a demanda por produtos chineses em 2023.

O baixo crescimento econômico nos EUA e na Europa já vinha reduzindo o nível de exportações chinesas desde outubro passado, após três anos de relativa estabilidade. Só para esses dois mercados, as exportações da China caíram mais de 20% no último mês.

A atividade manufatureira chinesa, um dos indicadores que refletem a procura externa por produtos do país asiático, também vem caindo por quatro meses consecutivos. Computadores, roupas prontas e produtos têxteis lideram a queda de exportações.

No conjunto, as exportações da China caíram ano a ano em cada um dos últimos três meses, com recuo de 12,4% em junho, quando as importações também caíram 6,8%.

Outros países exportadores da Ásia também estão enfrentando queda na demanda comercial global, com redução da atividade industrial em cinco de sete países da região.

As exportações da Coreia do Sul, por exemplo, caíram 16,5% em julho, em comparação ao mesmo mês do ano anterior, após registrar queda de 6% em junho.

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) previu em relatório divulgado em junho que o comércio global de mercadorias encolherá 0,4% no segundo trimestre em comparação com o trimestre anterior, após alta de 1,9% nos primeiros três meses do ano, graças a uma série de fatores, incluindo a guerra na Ucrânia.

Impacto no agro brasileiro

Para o Brasil, os indicadores chineses não afetaram as exportações do agronegócio para o país asiático.

Isso porque a China aumentou a participação nas exportações brasileiras de produtos relacionados à agropecuária no primeiro semestre deste ano.

Dos US$ 83 bilhões de receitas obtidas pelas exportações brasileiras, 37% vieram dos chineses. No mesmo período do passado, haviam sido 35,5%.

“Apesar da queda geral de importações, a demanda chinesa por alimentos segue robusta”, afirma Samuel Isaak, especialista em agronegócio da XP.

Ele observa que o Brasil exportou 9,7 milhões de tonelada de soja em julho. “O total do primeiro semestre foi de um crescimento de 15% em relação ao mesmo período do ano passado”, diz Isaak.

Em julho, as exportações de carne e frango para a China cresceram em relação ao mesmo mês do ano passado, mas a de carne bovina caiu. “Mesmo assim, a importação de carne brasileira pelos chineses teve um aumento de 9,5% no primeiro semestre em relação a 2022”, diz o especialista da XP.

O fraco desempenho das importações chinesas causa preocupação no mundo todo, pois indica uma redução linear da atividade econômica interna, com o setor imobiliário paralisado e uma demanda doméstica fraca desde que o governo suspendeu os lockdowns para conter a expansão do coronavírus, em dezembro.

No segundo trimestre, a economia cresceu 6,3% em comparação com o mesmo período do ano passado, mas esse dado é enganoso, pois no segundo trimestre de 2022 Xangai e outras grandes cidades foram fechadas por causa dos lockdowns.

Em comparação com o primeiro trimestre de 2023, o crescimento foi de apenas 0,8% em termos trimestrais.

O governo do presidente Xi Jinping estabeleceu uma meta cautelosa de crescimento de 5% este ano, a menor em décadas.

Na semana passada, os investidores ficaram desapontados com as propostas do órgão de planejamento estatal da China para expandir o consumo nos setores automotivo, imobiliário e de serviços, além de ampliar o leque de empréstimos para pequenas e médias empresas até o final de 2024.

Os dados de inflação, que devem ser divulgados na quarta-feira, há meses estão se aproximando da deflação e fornecerão mais evidências sobre os gastos domésticos e a possibilidade de recuperação do crescimento chinês.