Como o homeoffice transformou o moletom em peça de primeira grandeza, reequacionar o guarda-roupa se tornou urgente. “Usamos em média só 20% das roupas que temos e isso é um desperdício. É preciso tirar o que não se usa e multiplicar peças que funcionam em novas combinações”, diz Deborah Martini, sócia-fundadora da plataforma de consultoria de imagem Resolva Meu Look.
Não que as pessoas tenham parado de comprar roupas, pontua. Mas elas também buscam “otimizar o que já têm” e acertar nas próximas aquisições. “Além disso, os apartamentos são bem menores hoje. Não dá para ter aqueles closets de antigamente”, completa Bruno Ferraro, sócio e marido de Deborah.
O casal criou no ano passado, por exemplo, um app de guarda-roupa virtual. O usuário vai abastecendo seu acervo com fotos de suas peças. Depois faz assinaturas com consultorias que podem ser desde a orientação para montar figurinos até a seleção do que deve entrar na mala numa viagem inesperada.
“Em 60 dias tivemos 500 mil peças cadastradas de 130 mil usuárias. Temos hoje três mil assinaturas para serviços recorrentes”, explica Bruno. Até para quem não tem tempo ou paciência para fotografar blusa por blusa do closet, há combo para isso também.
O app é um dos itens do ecossistema de consultoria de imagem criado pelo casal que construiu uma espécie de “uber dos looks” com um time de 120 consultoras que atendem presencial e online, uma escola profissionalizante, uma loja de produtos para os atendimentos, e a frente de palestras, treinamentos corporativos para empresas como Google, Nike, Multiplan, Aramis, Amaro, entre outras.
Eles também acabam de lançar o Resolva Man para atender o público masculino com propostas como criar uma identidade visual para o ambiente de trabalho (R$ 1290) até visagismo (R$790), em que é possível identificar cortes de cabelo e design de barba mais adequados ao traços faciais e estilo de cada um.
Inauguram em outubro uma base de shoppers em Miami e Orlando, para dar suporte a seus clientes que viajam para fazer compras. “A consultora que já fez a avaliação de guarda-roupa de uma cliente aqui, por exemplo, informa a nossa shopper lá exatamente o que a pessoa precisa, possibilitando uma compra mais assertiva”, diz Deborah.
A projeção de faturamento é de R$ 13 milhões este ano e “previsão conservadora de R$ 20 milhões para o próximo ano, mas com capacidade para bater R$ 30 milhões se tudo der certo.” Hoje, a empresa realiza três mil consultorias por mês.
A diversão virou negócio
A história começou com Deborah que era consultora de imagem nas horas vagas e que criou um site para mostrar o trabalho que fazia. Bruno havia deixado a área de produtos de um banco e decidiu entrar no negócio depois de ter “quebrado duas vezes como empreendedor”.
“Consultoria de imagem era visto com muito melindre, como algo para celebridades. E eu passei a pensar como democratizar e escalar o trabalho da Deborah que sempre encantava todo mundo”, diz ele.
O primeiro passo foi formatar combos e colocar preço nos serviços no site. Depois trabalhar as histórias das consultorias no Instagram destacando que eram atendimentos para mulheres comuns.
“Para manter a privacidade, a Deborah contava assim: hoje estou indo atender uma dentista que passa o dia todo de jaleco e ainda não sabe qual é seu estilo”. Com o tempo, lembram, as próprias clientes pediam para gravar seus depoimentos. Hoje são 306 mil seguidores no Instagram.
“Isso foi gerando um grande engajamento e trazendo novas clientes. Ao mesmo tempo muitas mulheres diziam que eram consultoras, mas não exerciam a profissão. Foi daí que criamos a escola com o nosso método. Mais de 3,5 mil mulheres já se formaram conosco”, conta ele. Parte destas profissionais passou a integrar o time do Resolva.
Ao mesmo tempo era preciso produtos para fazer os atendimentos, como as cartelas para os estudos de cores, por exemplo. “Fomos para a Alemanha e para os Estados Unidos que tinham os melhores itens e montamos nossa loja que atende hoje profissionais em todo o país. Vendemos em torno de 10 mil itens por mês.”
Hoje metade do faturamento vem das consultorias presenciais que duram em média três horas e podem custar em torno de R$ 590, a depender do combo. “Mas em dois anos o app vai ser três vezes maior do que todo o resto porque uma vez o guarda roupa digitalizado é muito mais fácil fidelizar o cliente”, garante ele.
Para tanto, o plano é reforçar a equipe de consultoras e chegar a 300 colaboradoras que, segundo ele, ganham R$ 8 mil em média com dedicação parcial.
Para o próximo ano, o casal vai lançar cursos online para pessoa física e chegar ao que Bruno considera um desdobramento natural do trabalho que fazem hoje, o mercado de segunda mão. “Nos fazemos todo o processo com o cliente de reorganização do guarda-roupa desde o início. Faz todo sentido encontrar outro destino para as peças que ele não usa mais.”
Depois de ter “levado tombo” em empreendimentos anteriores, Bruno diz que toda a expansão será feita com recursos próprios. “Temos uma operação muito rentável com 45% de ebitda. Não temos a dinâmica de cash burn das startups. Nosso modelo é antigo, focado em lucratividade, eficiência, bom produto, satisfação do cliente e dos funcionários.”