Há exatamente um ano, em 17 de novembro de 2019, um homem de 55 anos era admitido com os sintomas do novo coronavírus em um hospital da província chinesa de Hubei. Segundo uma investigação do jornal South China Morning Post, com base em dados do governo local, esse seria o paciente zero, ou seja, a primeira pessoa infectada na pandemia que virou o mundo do avesso.
De lá pra cá, mais de 55 milhões de pessoas foram infectadas e 1,3 milhão morreram vítimas da Covid-19 em todo o mundo. Se essas perdas são incalculáveis, os prejuízos econômicos têm dimensão: globalmente, a conta da pandemia pode chegar a US$ 8 trilhões, segundo o Asian Development Bank.
É natural, portanto, que a "corrida" pela vacina contra o vírus da Covid-19 esteja na ordem do dia para médicos, cientistas e autoridades de diferentes países. No Brasil, a principal aposta é a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantã, de São Paulo.
As primeiras 120 mil doses da CoronaVac chegam ao país em 20 de novembro, mas o governo federal não descarta a possibilidade de negociar doses de todas as vacinas em estágio avançado de testes.
É o caso da candidata que está sendo desenvolvida pela farmacêutica americana Pfizer em parceria com a alemã BioNTech. Na semana passada, as duas empresas anunciaram que a vacina em questão apresentou eficácia superior a 90%.
"Nossos resultados são otimistas e estamos todos integralmente focados no desenvolvimento seguro da vacina", disse Jacqueline Niemeyer, porta-voz da BioNTech, ao NeoFeed.
Apesar das boas perspectivas com os resultados obtidos na fase 3 do estudo, caso seja aprovada, a vacina da Pfizer e da BioNTech carrega alguns desafios. O primeiro deles é o processo de imunização, que requer duas doses da droga, aplicadas com um intervalo de 21 dias.
Outra questão é o armazenamento: a vacina pode ser mantida apenas por até cinco dias, em ambientes climatizados a 70 graus Celsius negativos, o que dificulta a distribuição em certos países e regiões mais afastadas.
Para contornar essa questão, o plano da BioNTech é carregar caixas do tamanho de malas de viagens, a partir de centros de distribuição em Michigan (EUA) e na Bélgica. Seriam abastecidos até duas dúzias de caminhões por dia, permitindo o trânsito diário de cerca de 7,6 milhões de doses para aeroportos próximos.
Um programa experimental foi colocado em prática nos estados americanos do Texas, Novo México, Tennessee e Rhode Island. "Nosso objetivo é entender, de forma real, como podemos lidar com a questão do estoque ultra-gelado", afirmou Niemeyer.
A Pfizer e a BioNTech têm contratos firmados com diferentes países. A União Europeia é a maior compradora, com 300 milhões de doses encomendadas. O Japão assegurou 120 milhões de doses e os Estados Unidos, 100 milhões. Na América do Sul, o Chile é o principal cliente, com 10 milhões de vacinas compradas.
Cada dose da vacina vai custar cerca de US$ 20, preço inferior ao da principal "concorrente", desenvolvida pela Moderna. A companhia americana está investindo em uma vacina do tipo mRNA, que usa material genético para induzir uma resposta imunológica. A empresa anunciou que valor de uma dose ficaria entre US$ 32 e US$ 37, mas ressaltou que essa cifra pode sofrer redução a partir de compras em grandes volumes.
E a julgar pelos últimos resultados obtidos em seu estudo, a droga deve atrair grande procura, caso seja aprovada: a Moderna revelou na última segunda-feira, dia 16 de novembro, que sua vacina tem eficácia de 94%, e dispensa os desafios extras que acompanham a alternativa da Pfizer e BioNTech.
De acordo com a Moderna, sua candidata se mantém estável entre 2,2 e 7 graus Celsius – a temperatura padrão dos refrigeradores médicos. Nessas condições, a vacina pode ser armazenada por 30 dias, mas sua durabilidade chega a seis meses quando estocada em ambientes a 20 graus Celsius negativos.
Caso os planos da companhia sigam o cronograma, a expectativa é ter 20 milhões de doses distribuídas nos Estados Unidos até o fim deste ano, e entre 500 milhões e 1 bilhão de injeções prontas para o mercado global em 2021.
A Moderna se comprometeu a fornecer 100 milhões de suas doses ao governo americano e 56 milhões ao governo canadense. A Inglaterra comprou 50 milhões de doses, enquanto aguarda novas informações da vacina desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Oxford.
Embora não tenham divulgado ainda a taxa de eficiência de sua receita, a AstraZeneca confirmou que sua vacina agiu de forma semelhante em pacientes mais jovens e mais velhos, com baixo índice de efeitos colaterais.
As informações sobre as condições de estocagem dessa aposta ainda não foram divulgadas, mas diversos países já sinalizaram interesse. Os Estados Unidos e a Índia concordaram em comprar 500 milhões de doses cada, enquanto a União Europeia vai adquirir 400 milhões.
A América Latina, com exceção do Brasil, também está na lista de compradores dessa vacina, que requer duas aplicações e custa entre US$ 3 e US$ 4 cada dose, segundo informações do jornal Financial Times.
Uma das maiores esperanças é também uma das mais bem financiadas: a Johnson & Johnson recebeu uma injeção de capital de US$ 1 bilhão do governo americano por 100 milhões de doses de sua vacina.
A companhia iniciou uma triagem clínica em 60 mil voluntários em setembro e está testando a eficácia de sua vacina em uma e duas doses, sendo que cada uma delas custaria cerca de US$ 10.
Em entrevista do NeoFeed, Paul Stoffels, vice-presidente do Comitê Executivo e Chief Scientific Officer da Johnson & Johnson, disse que "para casos emergenciais, conseguiremos ter a vacina em janeiro ou fevereiro".
Além da encomenda americana, a companhia recebeu o pedido de 200 milhões de doses da União Europeia, 38 milhões do Canadá e 30 milhões do Reino Unido.
A perspectiva de uma ou mais vacinas capazes de conter a Covid-19 tem sido acompanhada, claro, com ansiedade no mercado de capitais. Em todo o mundo, os índices e humores das bolsas de valores em todo o mundo vêm se traduzindo em altas a cada notícia positiva sobre o tema.
Na última segunda-feira, por exemplo, na esteira das novidades da vacina da Moderna, as bolsas americanas registraram recordes históricos. O índice Dow Jones fechou o dia com 29.950,44 pontos, alta de 1,6%. Já o S&P registrou ganhos de 1,16%, para 3.626,91 pontos, enquanto o índice Nasdaq encerrou o pregão com alta de 0,80%, em 11.924,13 pontos.
No mercado brasileiro, por sua vez, o Ibovespa fechou o pregão da segunda-feira a 106.430 pontos, o que representou alta de 1,63% e o maior patamar registrado desde 4 de março, quando o índice encerrou o dia com 107.224 pontos.
Essa onda se reflete nos papéis das empresas envolvidas nessa corrida. A Moderna, por exemplo, disparou 24% na segunda-feira, quando comunicou a eficiência de sua vacina. Desde o começo do ano, a companhia acumula uma impressionante alta de 423%.
A Pfizer, por sua vez, acumula queda de 7% desde janeiro, mas chegou a saltar 11% no último dia 9 de novembro, quando comunicou o progresso de suas pesquisas. Já a Johnson avança 3% desde o começo de 2020, com pouca oscilação, enquanto a AstraZeneca tem alta acumulada de 9,7% no ano.
Siga o NeoFeed nas redes sociais. Estamos no Facebook, no LinkedIn, no Twitter e no Instagram. Assista aos nossos vídeos no canal do YouTube e assine a nossa newsletter para receber notícias diariamente.